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Atletismo aguarda volta de PA e sonha que patrocinadores o acompanhem

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Vitória Rosa e Paulo André Camilo têm trajetórias parecidas no atletismo. Protagonistas entre os velocistas da geração deles, são os atuais vice-campeões pan-americanos dos 100m, prova em que estão entre os quatro mais rápidos da história sul-americana. Lindos, faziam bico como modelo sempre que convidados e, até o ano passado, tinham patrocínio da Nike e defendiam o Pinheiros.

Nesta terça-feira (26), PA, como agora é conhecido, foi vice-campeão do Big Brother Brasil, e recebeu um prêmio de R$ 150 mil. À tarde, Vitória fez a segunda melhor marca da carreira e índice para o Mundial ao vencer um torneio internacional realizado em São Paulo. Enquanto ele comemora o potencial financeiro de seus 8,6 milhões de seguidores no Instagram, ela se pergunta por que não tem clube para competir e foi abandonada pelo antigo patrocinador.

“Acho que esse resultado dele pode levantar bastante o atletismo, ajudar a ter um pouco mais a arquibancada mais cheia. Com ele aqui, acho que vai trazer mais imprensa, aumentando nossa visibilidade como atleta. Porque hoje está difícil. A Live [marca de roupa] está me ajudando bastante, como a Marinha, mas para chegar onde eu quero, eu preciso de um pouco mais”, desabafou Vitória, que foi finalista dos 60m no Mundial Indoor, com recorde sul-americano.

A realidade dela é a da imensa maioria do atletismo, mesmo para quem tem ótimos resultados. Nenhum clube paga, hoje, nem perto dos salários que pagava, em um passado recente, a equipe da BM&F. Os poucos atletas do Sesi-SP têm boas condições, mas as vagas de trabalho ali são limitadas. Clube grande só o Pinheiros, que, por não ter concorrentes, não tem receio de dispensar grandes nomes como Vitória, Rosângela Santos e Aldemir Gomes, todos olímpicos em Tóquio-2020.

Ana Cláudia Lemos, que já passou por BM&F e Pinheiros e hoje é federada pelo Mampituba, de Criciúma (SC), conhece bem essa realidade. “A gente quer que o atletismo apareça, que apareçam patrocínios. É uma modalidade que tem várias provas, e a gente não tem muito espaço na televisão. A gente sente essa necessidade de ter mais patrocínios individuais. A gente que é mais velho ainda consegue se virar e comprar, mas e quem está começando e não tem dinheiro para comprar uma camiseta, um par de tênis, um Gatorade?”, questiona.

A velocista é, literalmente, “time Paulo André”, uma vez que é casada com o empresário que levou PA ao BBB, Basílio de Morais. Mas ela nem teve tempo de festejar o vice-campeonato do amigo no reality porque, aos 34 anos, nesta quarta-feira (27) à tarde, se apresentou para correr os 100m em 11s20, sua melhor marca em seis anos, e mostrar que continua na elite do atletismo.

“A gente não ganha como jogador de futebol. A gente é privilegiado em relação ao pai de família que trabalha 8, 10, 12 horas por dia, mas é muito suado. A gente precisa de patrocinador e clube, precisa de mais investimento, mais apoio. Tem muito atleta de ponta que só consegue sobreviver com auxílio. Tem que fazer resultado em um ano para se garantir no ano seguinte. Se você se machuca perde clube, perde bolsa”, reclama Ana.

A categoria com mais beneficiados na Bolsa Atleta é a Nacional, que paga R$ 925 ao mês. Uma sapatilha de corrida custando pelo menos R$ 700. “Hoje se você chegar com uma mala de material no atletismo, não tem uma pessoa que não aceite”, avalia Derick Souza, colega de Paulo André na conquista do título mundial de revezamento em 2019.

“O PA teve que se expor demais para uma coisa que deveria ser natural para a gente em questão de patrocínio, clube, tudo mais, pelo resultado que a gente tem”, continua Derick, que defende o Pinheiros e foi quinto colocado nos 100m no Torneio Internacional Loterias Caixa. A competição contou com a participação de cerca de 50 estrangeiros, nomes de peso como Darlan Romani, mas praticamente só tinha atletas, treinadores e familiares na arquibancada do Centro Olímpico. Na saída das provas, nenhum jornalista esperava os atletas.

Entre os colegas e adversários de PA, a esperança é que esse cenário mude agora que o velocista capixaba é famoso. “Nosso esporte pode mudar no Brasil”, sonha Derick. “A visibilidade que ele trouxe vai ser muito boa, não só para ele, mas para o esporte em geral. Ele tendo feito o que fez vai trazer mais público para o esporte e vai ser bem mais visado do que já era”, aposta.

Principal rival de PA nos últimos anos, Felipe Bardi, do Sesi, torce para que o amigo volte logo para as pistas e traga mais público com ele. “Nosso esporte sempre foi muito mais feliz com ele na pista. Não acompanhei muito o programa, porque estudo à noite, mas vi que ele estava treinando. A gente torce para que isso aqui esteja lotado, em campeonatos, Troféu Brasil, e ele traga mais visibilidade para o nosso esporte”, diz Bardi.

Camilo Oliveira, pai de Paulo André, esteve em um torneio sub-20 em São Paulo no fim de semana passado e disse a interlocutores que pretende que o filho corra o Troféu Brasil, programado para acontecer entre 22 e 25 de junho, no Engenhão, no Rio de Janeiro. Mas não será surpresa se o evento mudar de local, assim como aconteceu com o GP Brasil, no próximo domingo (1), que chegou a ser anunciado para ocorrer no Engenhão e será no Centro Olímpico, porque o Rio não deu o apoio combinado.

No que depender da vontade de Camilo, Paulo André vai correr o Troféu Brasil para vencer, o que significaria entrar na seleção que vai para o Mundial de Atletismo de Oregon, nos EUA, entre 15 e 24 de julho. O Troféu é a última oportunidade para fazer índice e seleciona a equipe de revezamento. Sem PA, hoje o ranking tem: Erik Cardoso (10s13), Rodrigo do Nascimento (10s20), Felipe Bardi (10s23) e o paralímpico Petrúcio Ferreira (10s29) nas quatro primeiras colocações.

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