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Juro baixo cria ambiente inédito na economia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil está em meio a um processo de redução das taxas de juros que deverá se manter por muito tempo, com potencial para aumentar o nível de produtividade da economia e abrir espaço para alternativas de investimentos que atualmente são consideradas inviáveis.

Essa avaliação é compartilhada por uma série de economistas ouvidos pela reportagem, que já enxergam os primeiros reflexos dessa mudança no setor imobiliário e na realocação de investimentos de pessoas físicas e empresas.

Para que isso se traduza em uma recuperação vigorosa da economia, sem que ocorra pressão sobre os juros, há, no entanto, alguns desafios. Entre eles, ampliar a agenda de reformas econômicas iniciada em 2016, com objetivo de aumentar a produtividade, equacionar o problema nas contas públicas e garantir que, efetivamente, o crédito mais barato chegue a consumidores e empresas por meio do aumento da competição no mercado financeiro.

José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista da Genial Investimentos, afirma que o país já fez um conjunto importante de reformas estruturais, como o teto de gastos e a revisão da lei trabalhista, e o governo está se propondo a manter esse processo, reformando a Previdência e enviando ao Congresso a proposta de reforma administrativa e o Pacto Federativo.

“O país está passando por um processo de reformas estruturais importantes, e todas vão na direção de resolver o problema fiscal e dar mais eficiência à economia do ponto de vista produtivo. Se essa trajetória persistir, e não tiver nenhum retrocesso, nossa expectativa é que vamos ter taxas de juros muito baixas durante muito tempo”, afirma o economista.

José Márcio estima que a taxa de juros real neutra ou de equilíbrio da economia (que permite crescimento robusto sem gerar inflação), esteja hoje em 2,1%, nível próximo à diferença atual entre juros e inflação, e que ela cairá mais ainda nos próximos meses.

“Dado o grau de ociosidade e que a economia está crescendo pouco, a nossa avaliação é que o Banco Central vai fazer com que a Selic fique abaixo da taxa neutra. Já está basicamente no nível da taxa neutra e acreditamos que vão reduzir ainda mais.”

José Márcio afirma que, quando a economia retomar o crescimento, o desemprego cair mais e houver redução da ociosidade, se o juro real ainda estiver abaixo da taxa neutra, o Banco Central deverá aumentar lentamente os juros, que não devem voltar aos níveis elevados que marcaram as últimas décadas. Segundo ele, será um efeito do ciclo econômico, não de um problema estrutural, como era até três anos atrás.

Os juros baixos levarão a uma mudança profunda na economia. “Teremos uma economia completamente diferente do padrão que estávamos acostumados. Isso aumenta o potencial de crescimento, por um lado, e disponibiliza recursos para investimentos de maior risco.”

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