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Novo curso sobre história “dolorosa” de Portugal causa debate nacional

Por Victoria Waldersee

LISBOA (Reuters) – Um novo curso de história do ensino médio abriu um debate sobre a identidade nacional em Portugal, um país que abandonou a ditadura há poucas décadas, onde historiadores dizem que o público ainda tem de lidar com o legado de séculos de colonialismo.

Os alunos vão analisar o que a descrição oficial chama de “passado doloroso” de Portugal. O curso opcional estabelece ligações entre o comércio colonial de escravos de Portugal e a escravidão moderna, além de examinar tópicos como limpeza étnica e genocídio.

O principal arquiteto do curso, Miguel Barros, presidente da Associação de Professores de História, diz que uma nova abordagem da história é cada vez mais importante, pois os partidos de extrema-direita expandem sua influência na Europa.

“Portugal ainda se considera o ‘bom colonizador’, e muitos dizem que racismo não existe aqui. Ao mesmo tempo, estamos vendo a extrema-direita crescer e o discurso de ódio se espalhando online”, afirmou Barros à Reuters. “Quero que os historiadores enfrentem isso.”

Os apoiadores da ideia dizem que o curso preenche um vazio em um sistema educacional que não questiona a história de conquista de Portugal na Ásia e o tráfico de escravos no Atlântico entre África e Brasil. Portugal abandonou suas últimas colônias apenas na década de 1970, quando a democracia chegou localmente após décadas de domínio fascista.

Mas o currículo e a atitude em relação ao passado do país têm sido criticados, e não apenas pela direita nacionalista. O ex-ministro das Relações Exteriores e ex-presidente do Parlamento Jaime Gama, um socialista, chamou isso de “perverso”.

“Está se aderindo a uma ideologia que está na moda hoje em dia, principalmente nas culturas anglo-saxônicas, de confessar seus pecados para que você possa ser absolvido”, disse ele ao jornal Observador. “Isso não permite símbolos nacionais, heróis.”

O historiador João Pedro Marques, que escreveu extensivamente sobre o tráfico de escravos português, chamou de “uma plataforma para as pessoas politicamente corretas escurecerem o passado deste país e do Ocidente”.

Bárbara Góis, ativista política negra brasileira-portuguesa de 28 anos, disse que o único problema com o curso é que ele é opcional.

“Imagine o que é assistir às aulas de história em que a única representação de negros é como escravos passivos usados em experimentos científicos”, disse ela. “Nossa sociedade é construída ao largo do racismo. Não estou surpresa que algumas pessoas estejam ficando defensivas sobre isso … mas os estudantes devem aprender como tudo se encaixa.”

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