Exterior

Empresas são suspeitas de explorar minorias na China

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O vazamento de arquivos oficiais da ditadura chinesa sobre o confinamento de membros de minorias étnicas muçulmanas em campos de internação em Xinjiang lançou críticas sobre a atuação de gigantes da indústria alemã, como Volkswagen, Siemens e Basf, nessa região do oeste da China.
A repercussão atingiu em cheio a Alemanha nos últimos dias. Durante a Segunda Guerra, o regime nazista não apenas confinou milhares de pessoas, especialmente judeus, em campos fechados, como empregou parte delas em trabalho forçado em fábricas consideradas vitais.
Além de questionar a presença de empresas alemãs na região, ativistas e jornalistas do país querem saber se elas estão utilizando mão de obra escrava ou forçada dos que estão confinados nos campos.
Os locais são chamados pelos chineses de centros “de reeducação” e “de treinamento para o emprego”. A Anistia Internacional qualificou a região de “prisão ao ar livre”.
As mais de 400 páginas de arquivos do Partido Comunista chinês foram divulgadas na semana passada pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos).
Elas revelam detalhes da campanha de monitoramento, repressão e confinamento de pessoas em Xinjiang.
Minorias muçulmanas compõem mais da metade dos 25 milhões de moradores locais, a maior parte de uigures. Estima-se que até 1 milhão deles, além de cazaques e membros de outras etnias, tenham sido detidos nos últimos três anos.
A Volkswagen abriu em 2013 uma fábrica em Urumqi, capital de Xinjiang, e emprega cerca de 700 trabalhadores locais na produção anual de 50 mil carros da marca Santana, em joint venture com a estatal Saic.
Ao jornal Süddeustche Zeitung (SZ), que acusou a empresa de “cumplicidade com uma das maiores violações de direitos humanos da atualidade”, a VW afirmou que a decisão de abrir a fábrica foi tomada com base em considerações puramente econômicas. “Presumimos que nenhum funcionário trabalhe de maneira forçada”, disse ao jornal Handelsblatt.
Segundo o SZ, a VW/Saic mantêm um acordo de cooperação com a Polícia Armada do Povo, força motriz por trás da repressão às minorias.
A Basf opera desde 2016 em Xinjiang com duas joint ventures. Os acordos foram motivados pela disponibilidade de recursos naturais, diz a empresa química, que nega que haja trabalhadores “sob coação”.
A questão da Siemens é distinta, já que ela não possui fábricas na região. No entanto, o conglomerado é criticado por organizações de direitos humanos por cooperar com o China Electronics Technology Group (CETG, estatal militar) no desenvolvimento de tecnologias de vigilância.
O CETG desenvolveu um aplicativo de monitoramento público usado em Xinjiang e possui participação na Hikvision, empresa chinesa considerada líder mundial em tecnologia de vigilância.
O pesquisador Benjamin Haas, associado ao Mercator Institute for China Studies, em Berlim, contabilizou que ao menos metade das 150 maiores companhias europeias, como a espanhola Telefónica e a francesa Carrefour, têm algum tipo de presença na região, mesmo sem instalações físicas, pois compram produtos de fornecedores locais.
“Embora a pesquisa não tenha descoberto nenhuma relação direta entre as companhias europeias e os campos de internação, conversas com executivos na Alemanha mostraram que a maioria das sedes sabem muito pouco sobre como seus negócios são conduzidos em Xinjiang”, afirmou Haas em artigo no New York Times.

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