Economy

Câmbio é flutuante, reforça Campos Neto após ameaças de Trump

Por Aluisio Alves

SÃO PAULO (Reuters) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, aproveitou evento de final de ano da Febraban nesta segunda-feira para reforçar mensagem de que a autoridade monetária não atua no mercado de câmbio visando patamares específicos para o dólar.

“O câmbio é flutuante e o Banco Central só vai atuar quando entender que é necessária alguma intervenção”, afirmou Campos Neto, acrescentando que a alta recente do dólar foi influenciada pela frustração de investidores com os resultados de leilões de petróleo.

As declarações de Campos Neto vieram poucas horas depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar que vai retomar tarifas sobre as importações norte-americanas de aço e alumínio do Brasil e da Argentina pelo fato de os dois países estarem promovendo “uma forte desvalorização de suas moedas”.

Campos Neto afirmou que, para 2020, a expectativa é que haverá um grande fluxo de recursos para o país. Ele destacou que medida sobre hedge cambial em análise na Receita Federal vai ajudar a atrair mais investimentos estrangeiros ao país.

Como já anunciado, a ideia da proposta é que os ganhos e perdas com hedge contratado por investidores de longo prazo em infraestrutura possam se compensar, de forma que a taxação só aconteça sobre um eventual ganho líquido.

Mais cedo, em evento do Bank of America em São Paulo, Campos Neto reiterou sinalização de corte de 0,50 ponto percentual da Selic no próximo dia 11.

“A consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude ao realizado na reunião de outubro”, disse Campos Neto, segundo apresentação publicada no site do BC.

A repetição do trecho –já contido na ata da última reunião do Copom e no texto do comunicado– veio num momento em que o mercado reduz apostas em corte de 0,50 ponto do juro em dezembro, na esteira do salto do dólar ao longo de novembro, movimento que pode alimentar inflação.

Nesse contexto, Campos Neto disse, em 20 de novembro, que se a alta do dólar impactar as expectativas para a inflação o BC deve agir via juro, e não pelo câmbio. Na ocasião, a frase levantou ainda mais dúvidas sobre a disposição do BC em reduzir a Selic na mesma magnitude que em outubro, provocando mais ajuste nas apostas do mercado para a política monetária.

Em outubro, o Banco Central cortou a Selic em 0,50 ponto percentual, para uma mínima histórica de 5,00% ao ano.

Campos Neto repetiu na apresentação no BofA que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa –com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

“Os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, disse o presidente do BC no documento.

CHEQUE ESPECIAL

Em discurso, Campos Neto, afirmou que a medida recente da autarquia para o cheque especial, que implicou a fixação de um teto de 8% ao mês para os juros cobrados nessa modalidade de crédito, não teve como objetivo “tabelar taxas”.

“Medida direcionada ao cheque especial foi altamente embasada em questões técnicas, já vinha sendo discutida com os bancos”, afirmou Campos Neto ao participar de almoço de final de ano da Febraban.

A entidade, que representa os bancos, criticou na semana passada a medida do BC, que também autorizou os bancos a cobrar uma tarifa para a disponibilização de limite de cheque especial superior a 500 reais. Em nota, a Febraban afirmou ver com preocupação “a adoção de limites oficiais e tabelamentos de preços de qualquer espécie”.

Nesta segunda, Campos Neto destacou que o Banco Central considera importante reduzir o custo da intermediação financeira e ponderou que grande parte do movimento de queda de juros tem chegado ao consumidor.

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