Cotidiano

Doria diz não ter mais relação com muro da USP, que continua quebrado e abandonado após 20 meses

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O muro de vidro da USP continua a ser uma cicatriz de mais de dois quilômetros abandonada em uma das principais vias paulistanas sem sinal de cura. Mas o governador de São Paulo e idealizador do projeto, João Doria (PSDB), afirma não ter mais relação com ele.
A USP,  no entanto, é uma universidade estadual. A reportagem tentou contato com Doria por meio do seu gabinete, mas foi informada de que o governador não tem mais relação com o muro e que, não sendo mais prefeito, e só responderia por questionamentos ligados a sua gestão à frente do estado.
O projeto é fruto de parceria firmada sem contrato entre a universidade, a gestão do ex-prefeito e atual governador de São Paulo,, e pelo menos 44 empresas. A obra está registrada apenas em termo de doação assinado pelas empresas.
O plano previa a instalação de 1.222 placas de vidro, que custam R$ 4.000 cada, ao longo dos 2,2 km de extensão do muro, e a doação de pelo menos 120 placas para estoque. 
Na contagem feita pela reportagem, em visita ao local nesta semana, dez placas de vidro estavam quebradas e uma (pertencente ao estoque) abandonada no canteiro da marginal Pinheiros. 
Um funcionário, que diz percorrer a extensão do muro todos os dias, confirmou que havia dez vidros quebrados e que o local foi abandonado sem manutenção. É um número que oscila e já esteve maior, mas não zera.
O armazenamento incorreto das placas pode danificar o material antes mesmo da sua instalação, o que facilita a quebra dos vidros. 
Desde a inauguração do muro em abril de 2018 até o momento, dezenas de vidros trincaram e quebraram. Apesar das suspeitas de vandalismo levantadas pelas empresas envolvidas no projeto, laudos da Polícia Civil não encontraram indícios que comprovem a hipótese e indicaram ter havido falha na instalação. 
Segundo a investigação, a análise de 44 peças quebradas desde a inauguração até abril deste ano revelou que faltavam peças de borracha na base das placas usadas para evitar que o vidro entre em contato direto com a esquadria. Um especialista em vidraçaria que participou do projeto e fez a vistoria da obra no fim de 2018 confirmou a ausência das peças. 
O uso dessas borrachas está previsto em normas técnicas para este tipo de obra porque impede que trepidações de veículos pesados, por exemplo, danifiquem as placas. 
Além disso, imagens de câmeras de segurança mostram vidros se quebrando sozinhos, a partir da base. De acordo com o projeto, as empresas deveriam ter inserido três borrachas entre o vidro e a esquadra, uma na base e duas nos encaixes laterais. 
A Afeal (Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio), que representa parte das empresas que participaram do projeto, contraria as informações da Polícia Civil e garante que todas as placas de vidro receberam os calços de borracha.
“Até o ponto que é de nosso conhecimento, a maioria das quebras foram ocasionadas por vandalismo — foram encontrados pedaços de pedras que teriam sido atiradas aos vidros próximos a eles”, diz nota enviada à reportagem.
A associação afirma que nunca recebeu laudos ou relatórios que comprovem ter havido falha na instalação.
À reportagem a Secretaria de Segurança Pública informou que foram registradas 31 ocorrências de dano ao muro e quatro de furto. 
Um homem foi preso em flagrante em abril de 2018 por furtar objetos de cobre e alumínio da estrutura. O inquérito da prisão foi relatado à Justiça no fim de 2018. 
A prefeitura, agora sob comando de Bruno Covas (PSDB), diz que apesar de o muro ter sido negociado pelo ex-prefeito sob prerrogativa do cargo, a obra e sua manutenção não são responsabilidade da atual gestão. 
A USP, por sua vez, se reserva a dizer que as obras seguem paralisadas e à espera de ajustes no projeto. De acordo com a universidade, esses ajustes devem envolver a prefeitura e as empresas que doaram a mão de obra e materiais. 

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