Cultura

Indicações do Globo de Ouro em cinema são ultrapassadas, mesmo com a Netflix

FOLHAPRESS – O anúncio dos indicados ao Globo de Ouro em cinema reforça uma evidência clara: a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, a HFPA, se mostra cada vez mais ultrapassada e óbvia. Com leque de dez filmes para os prêmios principais, a lista não apresenta risco e mostra pouquíssimo reconhecimento ao cinema feito sem alguma estrela envolvida.
Num ano em que tivemos pérolas como “Luce”, “The Last Black Man in San Francisco” e “Waves”, a HFPA manteve o ar mais tradicional com uma lista que qualquer cinéfilo poderia adivinhar. 
A produção cinematográfica de 2019 facilitou o trabalho dos menos de cem votantes do Globo de Ouro e podemos discutir ausências, como  “Uncut Gems”, mas pouco podemos falar dos lembrados.
Épico de Sam Mendes ambientado na Primeira Guerra, “1917” foi mostrado em cima da hora, mas causou forte impacto e foi indicado a melhor filme. “Dois Papas”, de Fernando Meirelles, parecia ter perdido a força nas primeiras listas de críticos, porém mostrou que pode surpreender com suas quatro indicações.
O longa de Meirelles escancara a força da Netflix neste ano, que tem quatro dos dez indicados a melhor filme. Ou seja: se a Netflix não ganhar os maiores prêmios do cinema em 2020, ela pode desistir e voltar a investir em séries.
As indicações da Netflix chegam no melhor momento possível para a companhia. 
Em novembro, Apple e Disney apresentaram seus serviços de streaming com pompa e, em 2020, outros estúdios vão lançar plataformas semelhantes, como o HBO Max, da Warner. Ter quatro filmes fortíssimos de olho no Oscar mostra ao mercado que a Netflix pode ser desafiada, mas ainda está se movendo rapidamente nesta corrida bilionária.
Entre poderosos e ricaços, no entanto, há um pequeno filme sul-coreano destoando entre os indicados ao Globo de Ouro. “Parasita”, de Bong Joon-ho, é tão bom, mas tão bom que, mesmo sem nenhuma estrela hollywoodiana, não só cravou a óbvia indicação para filme estrangeiro, sendo lembrado em roteiro e direção.
É o favorito à categoria de longa estrangeiro, apesar da força de “Dor e Glória”, que rendeu indicação de ator dramático para Antonio Banderas, e dos franceses “Os Miseráveis” e “Retrato de uma Jovem em Chamas”. Má notícia para “A Vida Invisível”, do brasileiro Karim Aïnouz, que ainda deve ter boas chances para a lista de pré-indicados ao Oscar.
O que se espera é que a Academia, que confere o Oscar, não siga o olhar pouco feminino da HFPA na hora de votar. “Adoráveis Mulheres”, de Greta Gerwig, foi indicado a atriz dramática (Saoirse Ronan) e trilha sonora, mas ficou de fora em filme e direção.
Essa última categoria resume o show de obviedades do Globo de Ouro 2020: apenas homens indicados em um ano que o cinema teve Lulu Wang (“The Farewell”), Jennifer Kent (“The Nightingale”), Melina Matsoukas (“Queen & Slim”), Lorene Scafaria (“As Golpistas”) e Alma Har’el (“Honey Boy”) apresentando trabalhos em condições de disputa.
Para um prêmio que só indicou cinco mulheres para direção em quase 80 anos de vida, a escolha não chega a ser chocante. Apenas óbvia.

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