Economy

Alta nos preços do açúcar faz usinas no Brasil avaliarem mudança em mix de produção

Por Marcelo Teixeira

SÃO PAULO (Reuters) – Usinas de açúcar do Brasil estão considerando aumentar a produção do adoçante, reduzindo a de etanol, após os futuros do açúcar terem saltado nesta semana para o maior nível em dois anos, disseram analistas.

Os futuros do açúcar bruto para entrega em março em Nova York subiram 9,1% desde 2 de janeiro, após notícias de menor produção em países como a Tailândia terem elevado preocupações com a oferta e em meio à expectativa de um déficit global no ano safra 2019/20 que teve início em outubro.

O sócio da consultoria FG/A, que assessora usinas em estratégias comerciais, Willian Hernandes, disse que o salto nos preços fez usinas passarem a avaliar mudanças no mix de produção — montante de cana que um produtor direciona para a fabricação de açúcar ou etanol.

A safra brasileira que começa em abril segue-se a uma temporada em que as usinas do país direcionaram o menor volume já registrado de cana para produção de açúcar– apenas 34%, com o restante indo para a fabricação de etanol, após uma alta na demanda e nos preços do biocombustível.

Hernandes ressaltou que o atual nível de preços, de 14,32 centavos de dólar, ainda não é o suficiente para que as usinas iniciem a mudança. Mas preços maiores poderiam incentivá-las a fechar vendas no mercado de futuros para travar ganhos e levar à mudança no mix.

“Há 10 milhões de toneladas que poderiam ser vendidas em Nova York caso os preços atinjam 15 centavos (de dólar por libra-peso”), disse ele, em referência ao mercado de futuros e considerando as 112 mil libras-peso por contrato utilizado pelas usinas para travar preços.

O analista de açúcar e etanol da Agroconsult, Fabio Meneghin, disse que os recentes ganhos nos preços podem levar algumas usinas a produzir e vender mais açúcar. Mas isso é válido apenas para as usinas “mais próximas de portos, com acesso a boas estradas e a ferrovias no Estado de São Paulo”.

Para haver mudanças significativas nas estratégias para a temporada que está por vir, os preços precisariam subir mais, disse ele.

Outros analistas acreditam que as cotações teriam que ir muito acima de 15 centavos por libra-peso para induzir as usinas a reduzir a produção de etanol em favor do açúcar.

“A paridade açúcar-etanol era de 15,45 centavos de dólar na terça-feira”, disse o diretor administrativo da corretora Paragon Global Markets em Nova York, Michael McDougall, em referência ao valor que o açúcar precisaria atingir para render às usinas a mesma rentabilidade das vendas do biocombustível.

“E o mercado de etanol no Brasil tem muita liquidez. A usina é paga em três dias, enquanto o açúcar paga em 45 dias, então as usinas precisariam de um prêmio acima da paridade para mudar para o açúcar”, acrescentou.

tagreuters.com2020binary_LYNXMPEG0E1BG-BASEIMAGE

To Top