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Davos destaca risco ambiental, e Guedes diz que pobreza é a inimiga

DAVOS, SUÍÇA (FOLHAPRESS) – Sem o presidente Jair Bolsonaro em campo, o Brasil decidiu jogar na defensiva no Fórum Econômico Mundial em Davos. Diante da escolha da proteção do ambiente como eixo do encontro deste ano, a delegação do país se viu levada a responder –mesmo quando não foi diretamente questionada– sobre as ações do governo para a área, na tentativa de preservar as credenciais brasileiras diante de investidores preocupados com o aquecimento global.
Durante um painel que tratava de florestas tropicais do qual participava o cientista brasileiro Carlos Nobre, listado pelos organizadores do evento como membro da delegação brasileira, o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, interrompeu o debate para defender as ações ambientais do governo Bolsonaro, um pedido pouco protocolar.
Nobre fazia uma apresentação na qual falou do avanço do desmatamento nas florestas tropicais, sobretudo do Brasil e da Indonésia, e de como seria possível gerar renda para quem vive na floresta se os investimentos mirassem aquilo que a floresta já produz. Não havia feito acusações contra o governo.
Costa pediu a palavra à mediadora, subiu ao palco e disse que o governo brasileiro preserva o ambiente e pune o desmatamento ilegal, para uma plateia que pouco compreendeu a iniciativa.
Em outro painel, este sobre manufatura, o ministro Paulo Guedes (Economia) respondeu a uma pergunta sobre como os governos deveriam agir diante do temor da população quanto aos danos ambientais com uma ressalva: “O maior inimigo do ambiente é a pobreza”, disse, apontando que o Brasil precisava arrumar outras coisas antes de pensar nisso.
“As pessoas destroem o ambiente para comer, e essas pessoas podem ter outras preocupações que diferem daquelas das pessoas que já destruíram o ambiente para comer”, declarou, ecoando uma discussão corrente entre emergentes e países mais ricos –e cobrada uma hora antes pela ativista ambiental Greta Thunberg, para quem os “países ricos têm de zerar suas emissões de gases-estufa e ajudar os pobres a fazerem o mesmo”.
Guedes não foi a única voz a se colocar contra os temores ambientais, apontados em relatórios do Fundo Monetário Internacional e consultorias econômicas divulgados em Davos como um dos maiores riscos para a economia do mundo.
Em seu discurso de meia hora na plenária do Fórum, o local mais nobre do evento, o presidente dos EUA, Donald Trump, falou que os tempos são para otimismo, e não do pessimismo anunciado pelo que chamou de “profetas do apocalipse” –pouco depois, Greta discursaria em uma sessão sob o nome “Evitando o Apocalipse Climático”.
“Temos motivos para sermos otimistas. Não é tempo para as dúvidas ou para o medo”, disse, enumerando previsões mais soturnas que não se concretizaram. “Temos que rejeitar esses profetas do fim do mundo de sempre e suas previsões catastrofistas.”
A clivagem entre os que veem a crise ambiental como urgente e aqueles que preconizam o desenvolvimento econômico deu o tom no primeiro dia oficial de painéis (na noite de segunda-feira houve apenas a cerimônia de abertura).
Carlos Nobre, especialista em clima que participaria de uma série de eventos paralelos e de três sessões oficiais –inclusive uma nesta quarta ao lado do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore e da primatologista Jane Goodall no palco principal -, disse ter sido inquirido por representantes de governos estrangeiros sobre a tibieza do governo brasileiro em agir contra ações ilegais na Amazônia.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que também participa do evento e que tem aspiração de disputar a eleição de 2022, apresentou um vídeo no qual dissocia o estado do restante do país e ressalta sua preocupação com o cumprimento do Acordo de Paris sobre o Clima, que Bolsonaro e Trump desdenham e que tem sido exigido como lastro por investidores e consumidores na Europa.
Em conversas com empresários, Doria precisou responder sobre a política ambiental do país e diferenciá-la da do estado de São Paulo.
O discurso inaugural do Fórum, feito pelo fundador da entidade, Klaus Schwab, e seguido por Simonetta Sommaruga, a presidente do Conselho Federal da Suíça (principal órgão Executivo do país), só disputou em decibéis com o da própria Greta.
“Os desafios são tão grandes que não podem ser enfrentados por um só governo, uma só empresa”, disse Schwab. Sommaruga emendou: “O mundo está pegando fogo, das queimadas na Amazônia aos incêndios na Austrália, e as consequências virão para todos”.
O tom do encontro já estava dado desde a escolha de Greta como figura central. No mural feito pelo Fórum para celebrar seus 50 anos e que ladeia a principal entrada do centro de convenções na cidadezinha dos Alpes Suíços, é Greta quem simboliza a edição de 2020.
A sessão de estreia da adolescente sueca que se tornou símbolo do combate à mudança climática foi disputada.
“Não sou eu que reclamo de não ser ouvida, estou sendo ouvida o tempo todo. Mas em geral a ciência e as pessoas mais jovens não estão no centro da conversa”, disse.

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