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Palhaço surdo se comunica por Libras e leva acessibilidade aos palcos

MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – A ideia veio há dez anos. O pernambucano Igor Rocha, então com 21 anos, assistia a uma peça e não entendia quase nada. Surdo, pensou em desenvolver-se pela arte com o apoio da Libras para quem na plateia, como ele, não podia escutar.
Interessado em crescer enquanto artista, Igor investiu nos estudos. Da parceria com a diretora Andreza Nóbrega, atriz especializada em educação inclusiva, brotou o personagem de Igor, o palhaço Surddy.
Assim também foi estabelecida a dinâmica de como seriam suas peças –um jogo de corpo, luzes e expressões com a plateia, misturados a um figurino colorido. Encontrou na arte circense o caminho para se comunicar sendo surdo, “porque as expressões visuais e corporais são mais valorizadas em Libras”.
Igor inspirou-se em Charlie Chaplin, Jim Carrey e Mr. Bean para contar suas histórias. Então, em seus espetáculos, existem apenas três sons: os movimentos de Igor, como quando corre pelo palco batendo os pés; as risadas de crianças e adultos; aplausos ao final.
“Decidi fazer peças totalmente acessíveis porque nós, como surdos, sofremos sem acessibilidade e perdemos informações. Já entendemos como é sentir espetáculos sem acessibilidade, por isso queremos que todo mundo se sinta incluído e feliz por ter oportunidade igual com as demais pessoas sem deficiência”, conta.
O artista já esteve em shows por Pernambuco, Ceará e São Paulo. Nas apresentações, há participação do público surdo. Alguns assistiram a mais de uma vez às peças.
A formação enquanto palhaço foi longa. Começou com a graduação em Letras-Libras, depois oficinas com Rapha Santacruz (mágico), Giulia Cooper (palhaça) e Marcelo Oliveira (artista), além do acompanhamento da VouVer Acessibilidade.
Para Igor, entretanto, esse é um caminho difícil porque há poucas oportunidades de formação –falta acessibilidade e acompanhamento. “Na minha vida, sempre tive dificuldades porque sociedade não está preparada para receber surdos nem entender as nossas necessidades. Por exemplo, ainda está em falta intérpretes de Libras em todos lugares e nos espaços culturais ainda são poucas as iniciativas. A falta de entendimento que a pessoa surda é capaz é uma grande obstáculo para que possamos viver e fazer arte.”
No espetáculo, o cenário de Igor usa poucos elementos. Uma flor, uma cadeira, um vaso e uma mesa se destacam, além do cavalete que acompanha o Palhaço Surddy, que usa até mesmo o nariz vermelho clássico.
A peça, intitulada de “A Chegada”, apresentada em 2019, é para todos os públicos. Já rodou o Brasil – se apresentou em São Paulo, Recife e Fortaleza, por exemplo.
Ele agora vive em Arapiraca, interior de Alagoas, e trabalha como professor e ator. Sempre tem no rosto uma expressão serena, satisfeito em levar às pessoas alegria, sentimento e uma comunicação acessível.
“Meu objetivo é que todas as pessoas entendam que a inclusão precisa acontecer de verdade, que as pessoas ouvintes e surdas possam conviver, aprender juntas. É isso o que nós sentimos no processo de montagem e nos espetáculos do Surddy”.

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