América Latina

Parlamentares, governadores e entidades cobram responsabilidade após Bolsonaro voltar a minimizar coronavírus

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) – Parlamentares, até mesmo os declaradamente aliados, governadores e representantes de entidades civis reagiram de forma dura ao pronunciamento da noite de terça-feira em rede nacional do presidente Jair Bolsonaro, no qual ele voltou a minimizar a pandemia de coronavírus, e cobraram que o presidente tenha responsabilidade ao lidar com a crise gerada pelo Covid-19, doença causada pelo vírus.

A reação veio, por exemplo, dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de governadores –diretamente criticados pelo presidente em sua fala– e pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.

Ficou por conta de Alcolumbre a resposta institucional mais dura à fala de Bolsonaro. O presidente do Senado disse que o país precisa neste momento “de uma liderança séria e responsável” e considerou grave a posição externada por Bolsonaro no pronunciamento.

“Consideramos grave a posição externada pelo presidente da República hoje, em cadeia nacional, de ataque às medidas de contenção ao Covid-19. Posição que está na contramão das ações adotadas em outros países e sugeridas pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS)”, disse.

“Reafirmamos e insistimos: não é momento de ataque à imprensa e a outros gestores públicos. É momento de união, de serenidade e equilíbrio. A nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca, transparência, seriedade e responsabilidade.”

Maia adotou tom mais ameno ao classificar de “equivocada a fala de Bolsonaro, ao mesmo tempo que, em uma rede social, republicou a nota de Alcolumbre e o elogiou pelo posicionamento.

“Desde o início desta crise venho pedindo sensatez, equilíbrio e união. O pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública”, disse.

“Cabe aos brasileiros seguir as normas determinadas pela OMS e pelo Ministério da Saúde em respeito aos idosos e a todos que estão em grupo de risco.”

No pronunciamento em cadeia nacional, Bolsonaro voltou a se referir à Covid-19 como uma “gripezinha” e criticou governadores e prefeitos que têm adotado medidas de restrição da circulação para conter a disseminação do vírus. [nL1N2BI01I]

De acordo com a OMS, existem mais de 375 mil casos de Covid-19 em 195 países e a doença já matou mais de 16 mil pessoas globalmente. No Brasil, segundo balanço do Ministério da Saúde na terça-feira, são 2.201 casos, com 46 mortes.

Em publicação no Twitter após o pronunciamento de Bolsonaro, Gilmar Mendes afirmou que a pandemia “exige solidariedade e responsabilidade” e pediu às pessoas que permaneçam em casa para tentar conter a epidemia.

“A experiência internacional e as orientações da OMS na luta contra o vírus devem ser rigorosamente seguidas por nós. As agruras da crise, por mais árduas que sejam, não sustentam o luxo da insensatez. #FiqueEmCasa”, disse.

Aliado declarado de Bolsonaro, o senador Major Olimpio (PSL-SP) reconheceu que se elegeu graças à onda pró-Bolsonaro na eleição de 2018, mas afirmou que “aliado não é alienado” e classificou a fala do presidente como “um desastre”.

O presidente da OAB, por sua vez, foi mais longe e disse que a fala de Bolsonaro “será reconhecido como um dos pronunciamentos políticos mais desonestos da história”.

O discurso de Bolsonaro também foi criticado por governadores como os do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC); do Piauí, Wellington Dias (PT); do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB).

Nesta quarta-feira, Bolsonaro terá uma videoconferência com os governadores da Região Sudeste depois de já se reunir, da mesma forma, nesta semana com governadores das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul.

(Por Eduardo Simões, em São Paulo e Maria Carolina Marcello, Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu, em Brasília)

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