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Terapia online pode ajudar a enfrentar a ansiedade por causa do coronavírus

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Olá, tudo bem?” poderia ser o início de uma conversa qualquer por chamada de áudio ou vídeo com um amigo ou profissional da psicologia que atende seus pacientes a distância. Não é o caso, quem fala (e aparece na tela do celular) é Christian Dunker, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP.
Dunker diz à reportagem que dada a situação complexa que o país e o mundo vivem devido ao novo coronavírus, a terapia por chamadas de áudio e vídeo podem ser aliadas no tratamento de pessoas com transtornos mentais e também no acompanhamento daqueles que estão se sentindo ansiosos e estressados por causa da pandemia.
O psicanalista explica que para aqueles que não têm um psicólogo, ou psicóloga, de confiança, é importante checar as credenciais dos profissionais antes de partir para a terapia. “Há os lacanianos, tem a sociedade junguiana, a associação de psicólogos”, diz.
Fato é que há muitas possibilidades e métodos diferentes de terapia. Na lacaniana (das teorias de Jacques Lacan), por exemplo, o paciente é quem desvenda suas próprias questões e sentimentos por meio de questionamentos e da conversa fluida e livre com o terapeuta. A freudiana (de Sigmund Freud) já aposta na busca pelo significado do inconsciente, como sonhos, palavras, fantasias e ações.
O terapeuta junguiano, Fabio Sousa, conta que não costuma atender seus pacientes online, mas que optou pela modalidade neste momento para que as pessoas ainda possam ter o acolhimento promovido pela terapia e não corram o risco de serem vetores para a proliferação da doença.
“Preferi não cancelar nem suspender os atendimentos porque as pessoas estão preocupadas e ansiosas. Já temos tantas questões e preocupações da vida cotidiana e agora temos mais essa. Mantive as sessões, agora online, para que elas sejam mais um lugar de acolhimento caso a preocupação com o coronavírus se torne latente para alguns pacientes”, diz.
A terapia junguiana tem como base (e origem) as teorias de Carl G. Jung, é possível encontrar essa vertente com o nome de psicologia analítica. Em suma, essa modalidade prevê que o paciente fale sobre o que desejar e que, com intervenções do terapeuta, possa buscar significado para suas questões de forma aprofundada, promovendo maior autoconhecimento.
De fato, há para todos os gostos e necessidades. Inclusive, gosto, neste caso, é importante para criar a empatia necessária para haver troca e acolhimento entre as duas partes, segundo Dunker.
De forma mais prática, é possível checar as credenciais dos profissionais com os conselhos federal e regionais de psicologia, que regulam a prática. Dunker recomenda também buscar os profissionais ligados aos planos de saúde, caso tenha um plano.
Em circunstâncias normais, antes do tratamento começar, efetivamente, recomenda-se um período breve de entrevistas preliminares no qual o paciente conhecerá o programa terapêutico. “Esse período é um momento de escolha, quando se poderá dizer, ao final, se houve ou não um bom encontro”, explica o psicanalista.
Por essa razão, o atendimento online, em situações normais, não é recomendado para casos mais complexos e de pessoas em grupos de risco, como aqueles que têm ideação suicida. Também não é recomendado que pessoas com transtornos de adição sejam atendidas a distância. O coronavírus, entretanto, mudou tudo.
“Essas recomendações [para casos complexos] também precisam ser ponderadas diante da dificuldade de se atender presencialmente neste momento”, aponta.
A psicanalista e colunista do jornal Folha de S.Paulo Vera Iaconelli diz que a busca por um bom profissional para atendimento a distância não difere da procura comum. “[Funciona] da mesma forma que a pesquisa para o atendimento presencial, deve-se pesquisar, conferir o currículo, buscar referências de amigos e conhecidos. Também há um movimento para divulgar atendimentos de qualidade”, aponta.
Ela explica que há terapias que podem ser mais complicadas por não haver uma experiência anterior robusta o suficiente para balizar o atendimento, mas que o resultado tem sido positivo. “Ainda não tínhamos uma experiência grande o suficiente para fazer terapia de crianças, por exemplo. Em alguns casos, funciona só com o áudio, em outros vale a pena fazer uso da imagem [chamada de vídeo]. Estamos aplicando o que já sabemos em uma situação nova e tendo bons resultados, a escuta continua sendo a mesma”, aponta.
Iaconelli ressalta, porém, que o desejo individual de cada paciente é determinante. Isso porque há aqueles que não se dão tão bem com esse formato. O atendimento a distância é essencial em situações como a da pandemia de coronavírus.
“A gente trabalha com a escuta. O mais importante na terapia é escutar o sujeito e não necessariamente os ver. Quando necessário se faz a intervenção [durante a fala do paciente]. A situação de isolamento, de privação de contato, tem um potencial de risco”, diz.
De acordo com Claudia Catão, doutora e professora em Telepsicologia e uma das principais vozes em defesa do uso de tecnologia na saúde, o primeiro atendimento a distância de que se tem conhecimento aconteceu em 1967, por videoconferência.
“No Brasil, tivemos a partir dos anos 2000. E a partir do 2007 tivemos o primeiro ambiente específico para o atendimento em saúde. Então foi a primeira vez que surgiu um ambiente. Antes disso, não tinha opção. As pessoas tinham que usar ferramentas precárias, com atraso na voz e insegurança dos dados do paciente”, explica.
Catão explica que o cenário só mudou de fato em novembro de 2018, porque até aquela data o atendimento online era restrito a 20 sessões, que configuraram aconselhamento. Naquele mês, o Conselho Federal de Medicina aprovou a resolução 11/2018 que permitia a realização do número de sessões que o psicoterapeuta julgasse necessárias, de acordo com cada técnica.
É relevante ressaltar, para facilitar a escolha do paciente, que há uma diferença entre terapeutas e psicólogos. Há psicólogos que são terapeutas, os psicoterapeutas, que são graduados em psicologia e especializados em uma técnica.
E há também os terapeutas que não são psicólogos, cuja prática é restrita à técnica em que cursaram sua pós-graduação. É o caso de Fabio Sousa, que é publicitário por formação e pós graduado em terapia junguiana pelo Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa.

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