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Mesmo fechado, Ibirapuera reúne gente que não quer parar de correr

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nem mesmo as recomendações de isolamento social e o fechamento dos parques de São Paulo por conta da pandemia do coronavírus impedem o paulistano de sair às ruas e praticar seus exercícios.
Na manhã deste domingo (5), o Ibirapuera apresentava um fluxo considerável de pessoas que caminhavam, corriam ou pedalavam ao seu redor. O parque, assim como os outros 106 da capital paulista, está fechado desde o último dia 20 de março por determinação da prefeitura.
A reportagem da Folha de S.Paulo chegou ao local por volta das 9h45 e circulou por todo o entorno do Ibirapuera. Por volta de 10h30, já era possível observar um movimento maior de transeuntes nas avenidas Quarto Centenário e República do Líbano, arborizadas e, portanto, onde há mais sombra.
Algumas pessoas que se exercitavam utilizavam máscaras, inclusive ciclistas, corredores e outras que passeavam com seus cachorros. Cinco delas, abordadas pela reportagem, não quiseram conceder entrevista.
Famílias inteiras também aproveitaram o dia de sol para andar de bicicleta na região do parque.
Empresário do ramo têxtil, Elias Bulos, 54, é um dos que não interromperam sua rotina de atividades físicas. Ele, que frequenta três vezes por semana o Ibirapuera e também corre na USP, disse ter adaptado a sua corrida para o período da pandemia.
“Minha rotina sempre foi essa e agora continuo com ela, mas com uma alternativa de caminhos. Eu vou correndo para onde está mais vazio. Não temos o parque, então temos de usar essas alternativas para se exercitar e manter a cabeça funcionando, né”, disse ele, que caminhava pela av. Quarto Centenário, onde as duas calçadas eram ocupadas por gente.
Bulos afirma estar tomando os cuidados e seguindo as recomendações de higiene e prevenção dos órgãos de saúde, como o uso de máscaras e de álcool em gel.
Ele, que é fabricante e deu férias (“até segunda ordem”) aos seus 70 funcionários durante a pausa, diz que o período de isolamento tem afetado consideravelmente seus negócios. Porém, independentemente do tempo em que o país ficará sob alerta com relação à doença, o empresário acredita que o coronavírus deixará como herança algumas práticas para o nosso dia a dia.
“Comercialmente falando, acho que mais uma semana já tem que começar a abrir alguma coisa. Mas acho que essa proteção, os cuidados, vão até fevereiro do ano que vem. Quando assistíamos a algum documentário da China, a gente via as pessoas com máscara e estranhava. Agora aqui vai ser assim”, completou.
O casal de comerciantes Maria de Fátima e Edelson Pereira, ambos de 66 anos, foram de carro até o parque e fizeram uma breve caminhada nas proximidades do lago do Ibirapuera.
Enquanto conversaram com a reportagem, por volta de 11h, o fluxo de pessoas que caminhavam, corriam ou pedalavam nos arredores do local seguia firme.
Na opinião de Maria de Fátima, que é comerciante e não tem saído para trabalhar durante a semana, o fechamento do parque é uma medida exagerada por parte das autoridades.
“Isso aqui é um crime, cara. Fechar um parque desses. Não tem lógica. No meu prédio, a academia não foi fechada. Sabe como é lá? Tem hora marcada, desce de hora em hora, 15 minutos para o faxineiro higienizar. Todo mundo que quer faz academia não tem essa paranoia toda. Não pode parar, cara. Não pode”, disse ela.
Faixa em um dos portões do Ibirapuera informa o fechamento do parque para o público Mathilde O fechamento dos parques da cidade e do estado de São Paulo foi anunciado no último dia 20 de março pelo prefeito Bruno Covas e pelo governador João Doria (PSDB). A medida, informada juntamente com o decreto de calamidade pública, se somou a uma série de ações para tentar conter o avanço do coronavírus.
Em países como Espanha e Itália, os mais afetados pela Covid-19 na Europa, as autoridades locais também fecharam parques e outras instalações públicas para evitar a aglomeração de pessoas.
O Central Park, em Nova York, limitou a circulação em algumas áreas e suspendeu atividades em grupo como partidas de basquete, futebol e softball. No local, um dos pontos turísticos mais icônicos da cidade, foi construído um hospital de campanha.
“Olha, sinceramente? Por mim isso [o isolamento] tinha acabado há muito tempo. Não era muito melhor se estivessem lá [dentro do parque]? Ah, porque morreu gente na Prevent Senior, mas ninguém fala dos que se salvaram. E tem outra: e a periferia? Os bailes funk continuam acontecendo, a gente vê isso toda hora. Os pancadões deles lá continuam acontecendo. E aí: lá não tem coronavírus?”, questiona Maria de Fátima.
“Um país de primeiro mundo parar… Você vê os Estados Unidos, o Trump está lá investindo bilhões. Mas eles têm dinheiro. Nós não, nós vamos quebrar. As contas estão vencendo, os boletos estão chegando.”
Antes de deixar o local, a reportagem tentou conversar com uma senhora que caminhava de máscara pela região do lago do Ibirapuera, mas ela foi uma das cinco que não quiseram conceder entrevista.
Perguntada se a recusa tinha a ver com a câmera fotográfica, ela explicou: “A galera só não quer parar de andar, é isso”.

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