América Latina

Celso de Mello autoriza acesso a vídeo de reunião ministerial de Bolsonaro

Por Pedro Fonseca e Ricardo Brito

RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) – O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta sexta-feira permitir a divulgação do vídeo da reunião ministerial, com exclusão de apenas dois trechos, ocorrida no dia 22 de abril em que, segundo o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro teria tentado interferir no comando da Polícia Federal.

Em sua decisão, Celso de Mello determinou a exclusão de trechos específicos em que há referência a dois países com os quais o Brasil mantém relação diplomática, informou o STF em nota.

“O decano autorizou, ainda, o acesso à íntegra da degravação do vídeo. A única restrição imposta foi a trechos específicos em que há referência a dois países com os quais o Brasil mantém relação diplomática”, disse o STF na nota. “Com a decisão, qualquer cidadão poderá ter acesso ao conteúdo do encontro de ministros com o presidente Jair Bolsonaro”, acrescentou.

A defesa de Moro aponta o vídeo como uma das principais provas do inquérito conduzido pelo ministro do Supremo para tentar confirmar as acusações do ex-ministro de que Bolsonaro buscava mudar o comando da PF, pois estaria preocupado com investigações tocadas pela corporação. Dois dias depois da reunião, Moro e o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, deixaram seus cargos.

Segundo depoimento prestado por Moro, o presidente teria dito na reunião que iria interferir em todos os ministérios e, quanto à pasta da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o superintendente da PF no Rio, trocaria o diretor-geral da corporação e o próprio ministro da Justiça. Esse episódio ocorreu dois dias antes de Moro pedir demissão do cargo.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, opinou pela divulgação restrita do vídeo e disse não compactuar com o uso de investigações como “palanque eleitoral precoce” de 2022.

Após tentar evitar a entrega da gravação, a Advocacia-Geral da União apresentou uma primeira vez a transcrição dos dois trechos que, segundo alegou, teriam relação com as declarações feitas por Moro. Em linha com a estratégia de defesa do presidente, destacou que a preocupação dele seria com a sua segurança e de seus familiares, ao contrário do que alega o ex-ministro. A segurança pessoal do presidente é feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo ministro Augusto Heleno, um dos mais próximos a Bolsonaro.

“Eu não posso ser surpreendido, ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho a inteligência das Forças Armadas que não me dá informações, a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação”, disse o presidente.

“Então essa é a preocupação que temos que ter: a questão estratégia. E não estamos tendo. E me desculpe o serviço de informação nosso — todos — é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça,. Não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”, emendou, pouco depois.

Em outro momento, a AGU fez uma transcrição referente à uma eventual tentativa de troca da “segurança nossa” no Rio de Janeiro.

“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, afirmou Bolsonaro, no segundo trecho.

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