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Após recorde diário, RJ supera os 50 mil de Covid-19, mas pensa em reabertura

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Rio de Janeiro superou neste sábado (30) a marca dos 50 mil casos confirmados do novo coronavírus, sem sinais claros de estabilização da doença. Mesmo assim, estado e prefeituras já falam em flexibilização da quarentena.
Os dados atualizados no painel da Secretaria Estadual de Saúde registram 52.420 infectados e 5.277 mortes até agora –fora os mais de mil óbitos ainda em investigação–, o que mantém os fluminenses em segundo lugar no país, atrás apenas de São Paulo.
Os números atualizados deste sábado ainda mostram 4.467 novos casos nas últimas 24 horas, maior cifra desde o início da pandemia.
Para se ter uma dimensão, recentemente o estado ultrapassou sozinho a quantidade de mortos de China (4.638) e Índia (4.980) pela doença, de acordo com dados da universidade americana Johns Hopkins desta sexta (28).
Assim como aconteceu por todo o Brasil, a doença começou atingindo fortemente a capital e foi se espalhando ao longo dos últimos dois meses e meio. Hoje, 91 dos 92 municípios do RJ têm casos confirmados e 63 registram mortes.
A região metropolitana, porém, ainda é onde se concentra a parte massiva dos infectados: junto com a cidade do Rio, ela representa 8 em cada 10 casos e 9 em cada 10 mortos. Os piores municípios são Niterói, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e São Gonçalo.
“O que acontece na capital acontece nos municípios em volta uma ou duas semanas depois”, diz Christovam Barcellos, geógrafo e sanitarista da Fiocruz. Ele é um dos responsáveis pela ferramenta MonitoraCovid19 e vem acompanhando os dados estaduais e nacionais diariamente.
“Não há nenhum sinal de estabilização. Assim como a cidade do Rio exportou a doença para municípios vizinhos, pode receber doentes se não houver controle”, afirma, acrescentando que nenhum município tem ainda níveis seguros para a reabertura da economia.
Niterói, que havia adotado uma das quarentenas mais rígidas do estado, reabriu parte do comércio na última semana. Duque de Caxias, a segunda com mais mortes, decretou a retomada na segunda (25). A iniciativa, porém, foi barrada pela Justiça.
Na capital, a doença começou pela zona sul e agora se espalhou por toda a cidade. Copacabana, que tem alta densidade populacional e muita circulação, continua com o maior número de casos (1.280). O campeão de mortes (202), porém, é Campo Grande, bairro dominado pela milícia no extremo oeste da cidade.
Contrariando recomendações de lockdown (restrição total de circulação) por especialistas do estado, o governador Wilson Witzel (PSC) e o prefeito carioca Marcelo Crivella (Republicanos) fazem acenos à flexibilização da quarentena.
Crivella tem se reunido com seu comitê científico para discutir um plano, ainda não divulgado. Ele aconteceria em seis fases, de 15 dias prorrogáveis, que liberariam atividades de acordo com a sua relevância econômica e seu risco de contágio.
Na última semana ele declarou que “nós não podemos negar, nós dominamos a pandemia”. Também disse que a curva está caindo, citando notificações diárias de casos e óbitos, um dado que pode variar largamente de um dia para o outro.
Já Witzel apresentou há cerca de dez dias um plano que define critérios para o estado classificar semanalmente as cidades com as bandeiras vermelha (restrição), amarela (flexibilização) ou verde (normalização). A decisão das medidas, no entanto, ficará a cargo das prefeituras.
Cidades com mais de 90% dos leitos de UTI ocupados devem manter as restrições atuais; as que têm ocupação entre 70% e 90% e média de crescimento negativa de casos podem reabrir shoppings, academias, transporte intermunicipal etc. E as com ocupação abaixo de 70% e também média negativa podem liberar tudo.
“Nós da Fiocruz estamos recomendando e repetindo que não se pode basear a flexibilização em um ou dois indicadores, sem a certeza absoluta de que há queda na transmissão. É preciso um conjunto enorme de índices: letalidade, internação, vagas em hospitais, disponibilidade de testes, adesão a políticas de isolamento etc.”, critica Barcellos.
Uma queda da média de novos casos nos últimos dias observada na capital, por exemplo, não é suficiente para confirmar uma tendência, afirma ele. “É um risco muito alto basear a flexibilização numa queda pontual, não dá para chamar isso de pico”, diz. “Países da Europa só começaram a reabertura depois de um mês do pico confirmado.”
O sistema de saúde do Rio chegou perto de um colapso no início de maio, com quase 100% das vagas de terapia intensivas reservadas para o coronavírus cheias. Agora, a taxa de ocupação tem variado entre 80% e 90% no estado (rede estadual) e na capital (rede pública como um todo).
Mais de 200 pacientes fluminenses, porém, ainda aguardam na fila por esses leitos. O estado vive um grande imbróglio com sete hospitais de campanha que haviam sido prometidos para abril e até agora não foram entregues, tudo isso no meio de uma série de suspeitas de fraudes que chegaram na cúpula da Secretaria de Saúde e até no governador.

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