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Defensor da cloroquina, fundador da Wizard diz que recebeu convite para cargo na Saúde

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Fundador da Wizard e à frente de outras 20 empresas, o empresário bilionário Carlos Wizard Martins afirma em entrevista à reportagem ter sido convidado pelo ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, para assumir o cargo de secretário de ciência e tecnologia da pasta – o qual aceitou.
“Essa semana sai no Diário Oficial da União. Mas estou indicado, e já vou me reunir com a equipe para fazer o agendamento [de ações]”, afirma.
Segundo ele, um primeiro convite ocorreu há cinco dias e foi confirmado nesta segunda (1º).
Questionado, o Ministério da Saúde não confirma a nomeação. Membros da pasta, porém, afirmam que o nome do empresário foi escalado para a área.
Próximo do ministro interino, Martins já tem atuado como conselheiro da pasta desde abril, sem remuneração.
O convite, afirma, veio do general, com quem atuou em Roraima em operações de atendimento a refugiados venezuelanos –Martins é missionário da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
“No dia 17 de abril, o presidente da República telefona em Manaus para o general Eduardo Pazuello [para assumir a secretaria-executiva do ministério]. Em seguida, ele [Pazuello] telefona pra mim em Campinas e diz: Carlos, preciso de você em Brasília. Estou formando uma equipe.”
Sem experiência em saúde, ele atribui a escolha para ocupar o cargo a seu histórico empresarial.
“Temos um dos maiores orçamentos da União. Ele [Pazuello] acredita que de alguma forma minha experiência empresarial, de gestão e finanças, pode ajudar a localizar fornecedores confiáveis e de qualidade, e com economia para o ministério”, afirma. “Não negocio com intermediário, negocio diretamente com fabricante.”
Na pasta, se confirmado, Martins diz que irá levar a proposta de ampliação da oferta de cloroquina e hidroxicloroquina também para uso profilático contra a Covid-19. Ele cita como exemplo o município de Porto Feliz, no interior de São Paulo, que elaborou um “kit” contra a Covid.
“Quero fazer de duas maneiras: de forma precoce, tão logo diagnosticada, e forma profilática o entorno dele. Se uma mãe foi diagnosticada, vamos dar para o marido, para os filhos e o entorno dela.”
Estudos recentes, publicados em revistas científicas internacionais, porém, não apontam evidências de eficácia do medicamento e alertam para riscos de ocorrência de quadros como arritmia.
Para Martins, porém, “as pessoas fazem um fantasma muito grande sobre a cloroquina”.
“Meu filho ficou dois anos na África, e sabe o que ele fazia toda semana? Ele tomava a tal da cloroquina. Era sagrado. Você acha que meu filho está retardado, com taquicardia, algum dano cerebral? Pelo contrário, é uma mente brilhante”, afirma. “Se eu soubesse que o mesmo efeito positivo que teve nele teria em outras criancinhas, eu daria para toda criancinha do Brasil [ri].”
A Sociedade Brasileira de Pediatria, porém, emitiu um parecer nesta semana contrário ao uso do medicamento em crianças e adolescentes fora de estudos clínicos.
Questionado, Martins diz que protocolos acompanhados pela pasta apontam dados positivos –ele não cita quais. Atualmente, o Conselho Federal de Medicina também não recomenda uso profilático.
Wizard entrou para a lista de bilionários da revista americana Forbes em 2018, com uma fortuna avaliada em R$ 2,4 bilhões. Em 2013, ele vendeu o grupo Multi, que incluía as escolas de idiomas Wizard e Yázigi, para a britânica Pearson por cerca de R$ 2 bilhões.
Hoje, ele preside o grupo Sforza, que controla empresas como Pizza Hut, KFC e Taco Bell.
Martins, porém, nunca atuou em cargo público. E o que o leva a acreditar que está habilitado para o posto?
“Vou fazer um paralelo. Tenho mais de 20 empresas. Tenho empresas que vão desde área de ciência e tecnologia, como Social Bank, até redes de fast food, como a Pizza Hut, KFC. E o que eu entendo de fazer pizza? O que eu entendo é a minha posição como gestor, de avaliar, projetar, contratar profissionais qualificados. É muito mais importante você ter noção de gestão, ter metas.”
Caso assuma a vaga na pasta, ele elenca algumas: a primeira, diz, será economizar 20% do orçamento. Outra será retomar um projeto para desenvolvimento de uma laboratório de biossegurança nível 4, em parceria com a Fiocruz. “Queremos tirar isso da gaveta”, afirma. “Preciso ser médico para fazer isso? Não preciso.”
Questionado, Martins evita comentar como avalia o cenário da epidemia e diz apenas que o momento é de “solidariedade”.
“Não viemos fazer carreira no ministério, nem trampolim de um cargo para outro. Estamos com missão específica de combate a Covid-19”, disse.

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