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Mais um líder da oposição desaparece na Belarus, e prêmio Nobel relata pressões

BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – Desapareceu na manhã desta quarta (9) mais um líder da oposição à ditadura bielorrussa, o advogado Maksim Znak, 37. Dos 7 principais dirigentes do conselho de transição, apenas a escritora Svetlana Aleksiévich, 72, não foi presa ou retirada do país.
“Primeiro, o país foi sequestrado de nós. Os melhores de nós estão sendo sequestrados. Mas, no lugar dos arrancados de nossas fileiras, centenas de outros virão. Não foi o comitê de coordenação que se revoltou. O país se revoltou”, escreveu pela manhã Aleksiévich, prêmio Nobel de Literatura em 2015.
A escritora argumentou o mesmo que manifestantes e analistas disseram à Folha de S.Paulo em Minsk: a ditadura não acredita que os protestos sejam espontâneos e descentralizados e adotou a estratégia de calar os membros do conselho para tentar esfriar as manifestações populares que hoje chegam ao 32º dia.
“Lukashenko diz que não vai falar com a rua, e a rua tem centenas de milhares de pessoas que saem todos os domingos e todos os dias. Esta não é uma rua. Este é o povo. As pessoas saem com seus filhos porque acreditam que vão vencer”, escreveu Aleksiévich.
Ela também pediu apoio a intelectuais russos: “Por que você está quieto? Ouvimos apenas raras vozes de apoio. Por que você fica em silêncio quando vê um pequeno sendo pisoteado? Ainda somos seus irmãos”.
“Aqui, novamente, algum desconhecido está tocando a campainha…”, descreve a escritora na última frase do manifesto. Ela recebeu ligações e visitas de pessoas desconhecidas nesta quarta e pediu a ajuda da imprensa, que foi até seu apartamento.
Embora Aleksiévich esteja convencida de que Znak foi levado pela ditadura, e testemunhas digam que ele foi colocado em um carro por policiais e levado para local desconhecido por volta das 11h45 (horário local, 5h45 no Brasil), não há informações oficiais.
Antes de desaparecer, o advogado disse em telefonema a colegas que havia homens em frente ao prédio em que estava. A ligação caiu, e ele enviou a palavra “máscaras”. Depois disso, seu celular ficou indisponível, segundo assessores da oposição.
O site independente Tut.by, o único que ainda não foi bloqueado pela ditadura, publicou fotos enviadas por leitores que mostram mascarados na porta do prédio em que estava o advogado oposicionista.
O comitê de coordenação, do qual Znak fazia parte, foi criado por opositores para negociar uma transição pacífica para novas eleições, já que bielorrussos e governos e entidades internacionais consideram que o pleito realizado no dia 9 de agosto foi fraudado.
De acordo com o resultado oficial, Alexandr Lukachenko foi eleito para seu sexto mandato com mais de 80% dos votos, número que provocou a revolta de manifestantes que têm marchado diariamente em várias cidades do país.
O ditador não aceitou receber interlocutores do conselho e abriu um processo contra seus membros por “incentivar atos que ameaçam a segurança nacional da Belarus”.
Tanto Znak como Aleksiévich haviam sido ouvidos como testemunhas no processo, assim como Maria Kalesnikava, 38, que foi sequestrada por mascarados na manhã de segunda.
Para evitar que a levassem à força para a Ucrânia, ela rasgou seu passaporte e escapou pela janela do carro em que havia sido trancada.
Kalesnikava está detida em Minsk, segundo seu pai, mas não se sabe do que ela é acusada.
Outros membros do conselho presos pela ditadura são o líder operário Serguei Dilevski, 31, e a advogada Lilia Vlasova, 67.
A ativista Olga Kovalkova, 36, também foi detida e depois retirada do país, e o ex-ministro Pavel Latushko, 47, foi para a Polônia após ultimato da KGB, o serviço secreto da Belarus.
Ao comentar a perseguição a opositores de Lukachenko, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que os EUA estavam considerando “sanções adicionais direcionadas para promover a responsabilização dos envolvidos em abusos de direitos humanos e repressão na Belarus”.
A União Europeia também está elaborando uma lista de sanções, embora, segundo a agência de notícias Reuters, Lukachenko não esteja entre os atingidos. Lituânia, Letônia e Estônia já impuseram sanções.
A prêmio Nobel de Literatura Herta Müller, o compositor Sergei Nevsky e vários outros intelectuais e artistas alemães publicaram uma carta aberta à premiê alemã, Angela Merkel, pedindo que ela interceda para libertar Kalesnikava.
“Tendo em conta os relatórios das últimas semanas sobre tortura, violência e sequestro na Belarus, estamos profundamente preocupados”, escrevem os missivistas. Música e ativista cultural, a opositora Kalesnikava estudou e trabalhou na Alemanha.

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