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Eleições em Guarulhos envolve drama da água e conflito sobre obras antigas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A disputa pela Prefeitura de Guarulhos, segunda maior cidade do estado de São Paulo, com 1,4 milhão de habitantes, deve reeditar 2016 num contexto diferente daquele que interrompeu um ciclo de 16 anos do PT na cidade.

Elói Pietá (PT), que comandou o município de 2001 a 2008, tentará impedir a reeleição de Gustavo Henric Costa (PSD). No último pleito, a rejeição ao PT deixou o ex-prefeito fora até do segundo turno.

O segundo colocado então foi o hoje deputado federal Eli Corrêa Filho (DEM), que será cabo eleitoral da esposa, a empresária Fran Corrêa (PSDB). Estreante nas urnas, a tucana conseguiu formar o maior arco de alianças, com outras sete siglas, incluindo um vice do PDT e apoio do PSL.

Pietá torce pela presença do ex-presidente Lula na campanha, que pode entrar em cena caso o cenário da pandemia melhore. Ao longo da gestão petista no governo federal várias obras foram realizadas na cidade, o que Pietá pretende usar como trunfo.

O eleito terá pela frente desafios na área de infraestrutura e problemas agravados pela pandemia, como o atendimento na saúde -área que os três elencam como prioritária- e a geração de empregos.

Eleito prefeito mais jovem da cidade, aos 31 anos, Guti, como é conhecido, diz que dedicou sua gestão à “reconstrução da cidade”–algo que os adversários contestam.

Finalizou obras e afirma ter equilibrado as contas. Ele diz que isso dará fôlego para novas construções, caso reeleito. Entre suas promessas está a ampliação do número de UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

Seu maior legado até agora é ter conseguido um acordo para resolver o problema crônico do rodízio de água.

No primeiro ano e meio de gestão, em 2017, ele afirma ter tentado um acordo com o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) para a dívida de R$ 3,5 bilhões da empresa municipal de água com a estatal estadual Sabesp.

As tentativas fracassaram, e o caminho foi negociar uma nova concessão de 40 anos com a empresa, assinada em dezembro de 2018, que tirou a dívida da conta do município.

Um ano e meio depois, o prefeito afirma que a cidade está livre do rodízio, e isso deve marcar seu discurso. “Tínhamos 92% do território guarulhense com rodízio de água. Hoje, 100% de Guarulhos tem água todos os dias”, diz.

Há moradores que criticam a mudança. O estudante de pedagogia Emerson Dutra, 29, diz que em Cidade Tupinambá, no bairro Pimentas, ao lado da rodovia Ayrton Senna, o fornecimento de água piorou e ficou mais caro.

Ele reclama ainda da falta de limpeza de bueiros, o que faz com que a cada chuva o esgoto invada a viela, onde ele mora.

Guarulhos é o quinto município entre as 100 cidades mais populosas do país que menos investe em tratamento de esgoto em termos de arrecadação, segundo pesquisa do Instituto Trata Brasil, de 2018.

O presidente-executivo do órgão, Édison Carlos, diz que a cidade tem melhorado a política de saneamento. Segundo Guti, Guarulhos deve fechar 2020 com 40% do esgoto tratado. Hoje, o total é de 15%.

O historiador Elton de Oliveira, 59, viu a melhoria na distribuição de água no bairro do Taboão, onde vive há 25 anos. Porém, diz que resta resolver os alagamentos na praça 8 de dezembro, entroncamento de várias vias da região.

“Não precisa muita chuva para acontecer [alagamento]. A última vez foi em junho”, diz. Segundo ele, os comerciantes precisaram adicionar comportas para tentar conter as enchentes –problema que se agravou na década de 1980, com o processo de impermeabilização da cidade.

Até o final do ano, a prefeitura estima concluir uma obra de drenagem no Taboão e o recapeamento de asfalto numa área de 18 mil m² para tentar resolver o problema.

A 4 km dali, no bairro Cidade Serodio, próximo ao aeroporto de Cumbica, a auxiliar de enfermagem aposentada Aparecida Alves, 60, diz também conviver com alagamentos há duas décadas.

“Quando comprei o terreno, não tinha enchente. Depois, fizeram muita construção, estacionamentos, e quando chove, alaga. Na minha casa já entrou água umas cinco vezes.”

Na primeira semana do mês, Guti disse ter fechado o apoio da Corporação Andina de Fomento –instituição internacional multilateral de desenvolvimento– para investir R$ 516 milhões na macrodrenagem do rio Baquirivu-Guaçu. A obra, segundo ele, deve impactar 300 mil pessoas.

Além da questão da água, outro gargalo local é a mobilidade. O diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Guarulhos, Maurício Colin, diz que esse é um problema que afeta o deslocamento de funcionários e a logística das empresas.

“O caos de Guarulhos se chama trevo de Bonsucesso. Há carros que ficam duas horas para rodar 1,5 km”, diz.

O trevo liga os dois bairros mais populosos do município, Pimentas e Bonsucesso, cortados pela rodovia Presidente Dutra. Iniciada em 2014, na gestão do petista Sebastião Almeida como extensão de um projeto do governo de Pietá, a obra ainda não foi concluída.

Emerson conta que, em dias de trânsito e chuva, o trajeto de ônibus pelo local chega a levar 1 hora e meia. Em dias sem trânsito, 30 minutos.

“Como não houve obras de infraestrutura importantes nos últimos seis anos, as coisas se complicaram em todas as grandes regiões”, afirma Pietá. Ele diz ter a área como uma de suas prioridades.

O transporte público é motivo de queixa dos eleitores. Moradora do Cecap, a executiva de contas Gisele Trevas, 41, classifica o serviço como péssimo, pelo intervalo entre as linhas e lotação.

Antes da pandemia, para se deslocar até a Vila Mariana (zona sul de São Paulo), onde trabalha, ela usava uma linha expressa da EMTU até o Tietê –trajeto mais rápido do que pela linha da CPTM, aberta em 2018, que não atende aos bairros mais populosos e não para no terminal do aeroporto.

Com a pandemia, porém, três linhas que ligavam o Cecap à capital paulista foram retiradas. Após um abaixo-assinado, apenas uma voltou, mas operando num trajeto mais longo, com veículos cheios, segundo Gisele. Com isso, a guarulhense conta que tem recorrido ao aplicativo para conseguir levar os pais idosos ao médico na capital.

Fran Corrêa critica a cobrança de valores diferentes de usuários com cartão (tarifa de R$4,45) e no dinheiro (R$4,70). Ela promete rever contratos das empresas.

Para Pietá, é preciso integrar o sistema local ao metropolitano e assim resolver o problema da sobreposição de linhas. “Vamos fazer um esforço para o governo do estado para mudar isso. Não tem sentido ter os dois sistemas não se conversando”, diz.

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