Agro

Preço do óleo de soja atinge maior nível em quase 18 anos no país e cenário é firme

Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) – Uma combinação de fatores levou a média mensal dos preços do óleo de soja ao maior nível desde dezembro de 2002 no Brasil, e forte demanda interna e externa, aliada à baixa disponibilidade de matéria-prima, abre espaço para maiores altas até a entrada da colheita nacional, no início de 2021, segundo analistas.

Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) fornecidos à Reuters mostram que, até terça-feira, a média para o óleo de soja alcançou 6.318,29 reais por tonelada (incluindo o ICMS), o maior valor desde dezembro de 2002, quando os preços foram recordes, em 7.102,20 reais por tonelada, já considerando valores deflacionados.

“E ainda temos pelo menos três meses pela frente com restrição de matéria-prima. Esse é um fator de sustentação (para os preços)”, disse o pesquisador do Cepea Lucílio Alves.

A safra brasileira de soja 2020/21 está em fase de plantio e teve um início tímido dos trabalhos, devido ao clima seco e à falta de chuvas em algumas das principais regiões produtores, como Mato Grosso. De acordo com o calendário da cultura, a colheita é prevista para janeiro.

Dentre os motivos que levaram a este patamar de preços para o óleo, Alves destacou o bom ritmo de exportações do grão, sobretudo no primeiro semestre, influenciado pelo dólar, e a sustentação da demanda interna para o subprodutos durante a pandemia –tanto para consumo humano quanto para fabricação de biodiesel que é misturado ao diesel.

Ele ressaltou também que houve uma mudança na composição da receita gerada pela indústria de soja.

“Normalmente, o farelo respondia por 70% e o óleo 30%. Neste ano, a contribuição do óleo passou para um intervalo entre 40% e 42%, que é a maior desde maio de 2012”, disse o especialista.

O analista da consultoria Safras & Mercado Luiz Fernando Roque acrescentou que, do ponto de vista de demanda, os concorrentes do óleo de soja estão em patamares elevados no mercados interno e externo.

“Lá fora, é o caso do óleo de palma, e para o consumo doméstico, o óleo de soja subiu bastante, mas se comparado com os derivados do milho e de girassol, ele ainda é mais competitivo”, afirmou Roque

Além disso, o analista disse que o Brasil registrou bom ritmo de exportação para o óleo de soja, que deve fechar 2020 em torno de 1 milhão de toneladas.

Segundo ele, uma parte do aquecimento nos embarques se deve a problemas na Argentina, uma das maiores fornecedoras globais de derivados da soja, relacionados a questões cambiais e margens das indústrias que beneficiaram o Brasil.

MARGENS

Desta forma, apesar dos elevados custos com a matéria-prima, a indústria brasileira da oleaginosa tem conseguido repassar valor aos derivados e “fechar com margem positiva”, disse Roque.

A associação do setor Abiove afirmou em nota que a indústria sempre observa os mercados de farelo e óleo para saber se direciona a soja para exportação ou esmagamento.

“As condições de repasse dos custos da matéria-prima para os derivados dependem da região de atuação e dos mercados para estes produtos.”

Dados da Abiove indicam que a produção de óleo de soja deve fechar este ano no maior patamar da série histórica, disponível desde 2007, a 8,96 milhões de toneladas.

Entretanto, a conjuntura favorável para a demanda do subproduto levará os estoques finais de 2020 ao menor nível já visto, de 48 mil toneladas, e uma queda brusca ante os 299 mil registrados no ano anterior.

(Por Nayara Figueiredo)

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