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Conselhos que representam 37% das escolas municipais de São Paulo rejeitam reabrir em outubro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em ao menos 5 das 13 diretorias regionais de ensino (DREs) de São Paulo, os conselhos regionais escolares se manifestaram contra a reabertura das unidades municipais para atividades extracurriculares. Juntas, elas somam 570 escolas –37,7% de toda a rede direta da prefeitura.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) autorizou as escolas a reabrirem a partir de 7 de outubro, mas elas não podem oferecer aulas regulares. As unidades da rede municipal podem receber os alunos apenas duas vezes por semana e por no máximo duas horas diárias.

A retomada parcial, no entanto, depende de aprovação do conselho escolar de cada unidade. Para reabrir nessa data, elas tinham de encaminhar a decisão para as diretorias de ensino até esta quarta (30). A prefeitura não informou quantas decidiram ofertar as atividades extracurriculares.

Nas regiões do Butantã, Capela do Socorro, Ipiranga, Pirituba e São Mateus, houve nos Creces –conselhos regionais que reúnem representantes dos conselhos escolares de todas as escolas da DRE– manifestação contra a reabertura.

Eles afirmam que a prefeitura não garantiu condições seguras para o retorno, como materiais de higiene, EPIs (equipamentos de proteção individual), contratação extra de profissionais e reformas nas unidades.

“É um absurdo que a responsabilidade sobre a reabertura das escolas seja empurrada às famílias e educadores. A prefeitura não deu segurança e estrutura para a retomada e transferiu a responsabilidade a nós para, depois, se houver contaminação, não ter de assumir a sua omissão”, diz Kezia Alves, coordenadora do segmento familiar do Crece Central (que reúne todos os 13 Creces da cidade).

Maia Fortes, de 32 anos, é integrante dos conselhos escolares das unidades onde estudam seus dois filhos, de dois e sete anos, na região do Ipiranga. Ela diz não ver segurança ou vantagem pedagógica no retorno parcial, por isso vai votar contra a reabertura.

“Na escola do mais velho [Emef Jean Nermoz], há um problema de encanamento que vai trazer sérias dificuldades para o cumprimento das regras de higiene. O prédio tem três andares, mas só tem banheiro e pias no térreo. Não dá para garantir que as crianças lavem as mãos dessa forma”, diz.

A escola, com cerca de 500 alunos, também teve redução de funcionários da limpeza antes da pandemia, de nove passaram a três.

Segundo Fortes, a unidade sempre sofreu com a falta de sabonete e papel-toalha para enxugar as mãos. “Até agora não enviaram máscaras, nem esses materiais básicos, que nunca deveriam ter faltado, para a reabertura”, diz.

Para Cristiane Friso, de 52 anos, mãe de uma aluna do 5º ano da Emef José Maria Lisboa, na região do Ipiranga, a prefeitura deveria ter enviado equipes de engenheiros ou da vigilância sanitária às unidades durantes os seis meses em que ficaram fechadas para indicar as reformas e mudanças necessárias para o retorno seguro.

“Como esperam que educadores saibam como adequar os prédios? Não é responsabilidade deles e eles não estão aptos a isso. As escolas particulares tiveram essa preparação profissional, por isso, defendiam a volta. Na rede municipal, não houve nada disso”, diz.

Ela também conta que na escola da filha sempre houve falta de sabonete e papel nos banheiros. Integrante do conselho escolar da unidade, ela diz que máscaras e outros equipamentos de proteção não foram enviados até agora. Por isso, também vai se posicionar contrária à reabertura.

A advogada Nelci Rodrigues, 42, diz que o limite horário estabelecido pela prefeitura para a permanência das crianças nas unidades também não atende à demanda das famílias. Ela tem dois filhos, de 7 e 12 anos, que estudam na Emef João Carlos da Silva Borges, em Moema.

“Ainda que esteja trabalhando em casa, não compensa levá-los por apenas duas horas de atividades que não vão ser nem aulas. O tempo para arrumá-los, o trajeto até a escola iria desorganizar toda a nossa rotina. Imagino para mães que moram mais longe, que demoram mais de uma hora de ônibus para chegar na escola”, diz. A unidade, segundo ela, é a opção de muitas mães que trabalham na região, mas moram em outros bairros da cidade.

O secretário de educação, Bruno Caetano, diz ser precipitada qualquer avaliação sobre a adesão ao retorno, já que o prazo para o envio da decisão era até esta quarta (30). Ele admite que o prazo dado aos conselhos foi curto (já que tiveram três dias úteis para essa consulta), mas diz ter sido necessário para o planejamento do retorno.

A prefeitura abriu a possibilidade de uma segunda data de reabertura, em 19 de outubro. Para isso, a decisão deve ser comunicada até o próximo dia 8.

“A gente espera que a adesão seja gradual. Não temos nenhuma expectativa de que todas as escolas estarão abertas em 7 de outubro e vamos respeitar a decisão das famílias e educadores. Mas posso afirmar que a rede pública está preparada”, diz.

Segundo ele, a secretaria centralizou a compra de equipamentos de segurança contra a Covid-19, como máscaras, termômetros e kits de higiene. Esses itens serão enviados às escolas quando elas aderirem à reabertura. Depois dessa resposta, também, a secretaria vai organizar o envio de equipes de alimentação, limpeza e professores extras às unidades.

Caetano afirmou que, se houve ou houver falta de materiais de higiene, como sabonete e papel nas escolas, se trata de má gestão do recurso e não falta dele.

Ele diz que a secretaria enviou neste ano um recurso extraordinário de R$ 85 milhões às escolas para ser usado nesse tipo de compra e reparos necessários para o retorno seguro durante a pandemia.

Também disse que, neste ano, 535 escolas foram reformadas para intervenções de grande porte nas partes hidráulica, elétrica, telhado e ventilação. “Temos obras em um terço das nossas escolas. Para as intervenções pequenas, enviamos esse recurso extraordinário”, diz.

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