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Em aniversário da Revolução Chinesa, Hong Kong prende 60 e chefe-executiva celebra 'retorno da paz'

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A polícia de choque de Hong Kong prendeu pelo menos 60 pessoas nesta quinta-feira (1º) por violarem a norma que proíbe protestos de rua. Os atos estão proibidos como forma de contenção do coronavírus, mas os detidos são, principalmente, críticos ao regime de Pequim, manifestantes pró-democracia e outros considerados suspeitos pelas autoridades honconguesas.

Estima-se que Hong Kong tenha mobilizado cerca de 6.000 agentes para patrulhar as ruas e impedir que multidões se reunissem no dia que celebra o 71º aniversário da Revolução Comunista Chinesa.

Na mesma data no ano passado, houve confrontos violentos entre manifestantes e policiais. Desta vez, as autoridades proibiram qualquer tipo de manifestação devido à pandemia de coronavírus, mas a lei de segurança nacional aprovada por Pequim também tem sido usada para reprimir grupos que defendem a autonomia de Hong Kong.

A maior parte dos detidos marchava contra a imposição da nova legislação, promulgada em junho com o intuito de combater qualquer coisa que o regime de Xi Jinping considere subversão, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras. As sentenças podem chegar a prisão perpétua.

Outros manifestantes exigiam o retorno de 12 honcongueses presos por autoridades chinesas no mar, em agosto, quando tentavam chegar a Taiwan, território que a China considera uma província rebelde. Todos são considerados suspeitos de participar dos protestos que mobilizaram milhares de pessoas no ano passado em Hong Kong.

“É o dia nacional da China, mas este é o dia da morte de Hong Kong”, disse Jay, uma mulher vestida de preto, à agência de notícias Reuters. O traje era uma forma de protesto. “O povo de Hong Kong está sob muita pressão, mas temos que tentar e continuar lutando pela liberdade.”

Às centenas, policiais caminharam pelas ruas abordando e mandando embora todos os que fossem considerados suspeitos.

Entre os que foram obrigados a sair estavam um adolescente tocando canções de protesto em um instrumento de sopro, um homem vestido de preto e segurando um balão amarelo -cores associadas ao movimento pró-democracia- e uma mulher segurando um exemplar do tablóide Apple Daily, cujo dono bilionário, Jimmy Lay, foi preso em agosto e é considerado um dos críticos mais ferrenhos de Pequim.

Enquanto os milhares de policiais reprimiam os honcongueses nas ruas, a chefe-executiva Carrie Lam participava de uma cerimônia de hasteamento da bandeira com altos funcionários de Hong Kong e da China continental.

No centro de exposições, monitorado por helicópteros e cercado por policiais e barreiras de segurança, Lam comemorou o que ela chamou de “retorno à paz”.

“Nos últimos meses, um fato inegável para todos é que nossa sociedade está em paz novamente”, declarou Lam em seu discurso. “A segurança nacional do nosso país foi protegida em Hong Kong e os nossos cidadãos podem voltar a exercer os seus direitos e liberdades de acordo com as leis.”

O que a chefe-executiva ignorou em seu pronunciamento foi que a legislação imposta por Pequim tem sido alvo de duras críticas e sanções por parte da comunidade internacional.

Ex-colônia britânica, Hong Kong voltou ao controle da China em 1997 sob um modelo conhecido como “um país, dois sistemas”, segundo o qual o território teria autonomia em relação ao governo central chinês.

Para grande parte dos honcongueses não havia o que comemorar nesta quinta-feira. Quatro membros da Liga dos Social-democratas, liderados pelo ativista veterano Leung Kwok-hung, marcharam segurando uma faixa com os dizeres “Não há comemoração do dia nacional, apenas luto nacional”.

Quatro pessoas é o número máximo permitido em reuniões públicas, de acordo com as regras adotadas sob pretexto de conter a propagação do coronavírus.

A Covid-19 também foi a razão alegada para adiar as eleições legislativas em Hong Kong, inicialmente marcadas para o mês passado. Ativistas pró-democracia veem o reagendamento do pleito para setembro de 2021 como mais um resultado da interferência de Pequim.

“Hoje, na China, aqueles que querem a liberdade são reprimidos e aqueles que a reprimem estão no poder”, disse o ativista Lee Cheuk-yan a repórteres.

Joshua Wong, um dos principais nomes do movimento pró-democracia, estava entre os que foram obrigados a se dispersar. Na semana passada, o ativista foi preso por “reunião ilegal” e por cobrir o rosto durante um protesto organizado em outubro de 2019. Wong foi liberado após pagamento de fiança.

“Hoje não é um dia de festa, é hora de o mundo tomar consciência da maneira como o Partido Comunista silencia as vozes de Hong Kong”, disse.

Estima-se que mais de 10 mil pessoas foram presas por participarem de manifestações nos últimos 16 meses. No início de setembro, durante um protesto contra o adiamento das eleições, mais de 300 pessoas foram presas em um único dia.

Para apoiadores do regime central, entretanto, o feriado desta quinta foi uma oportunidade de estimular o patriotismo. Na cerimônia oficial, Lam elogiou o sucesso da China em conter o coronavírus e louvou a recuperação econômica do país.

Segundo a chefe-executiva, a China se apresentou ao mundo como um “raro ponto brilhante” e “mostrou mais uma vez a mudança do foco econômico global do Ocidente para o Oriente”.

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