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Boulos tomou espaço do PT por falta de renovação, mas a raiz é a mesma, diz Covas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em busca do antipetismo perdido, Bruno Covas (PSDB) afirma que seu rival na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), tem a mesma raiz que a do partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nesta entrevista, o prefeito tucano se vê num desafio retórico: busca fustigar Boulos, a quem qualifica de inexperiente e associado ao PT, mas rejeita chamá-lo de radical. Prefere dizer que os paulistanos é que farão o julgamento.

Sobre a selfie tirada por ele com o presidente Jair Bolsonaro, o governador João Doria (PSDB) e o hoje ministro Luiz Eduardo Ramos, usada como munição contra si, Covas afirma que apenas havia sido educado.

Já o apoio do candidato de Bolsonaro derrotado no primeiro turno, Celso Russomanno (Republicanos), é escolha normal de segundo turno.

Ele nega que o PSDB possa patrocinar um estelionato eleitoral ao insistir que não há uma segunda onda da pandemia na cidade, e se mostra cético sobre o movimento de centro-direita deste ano unir partidos como o seu, DEM e PSD para enfrentar Bolsonaro em 2022.

Defendeu seu vice, Ricardo Nunes (MDB), que tem ligações com empresas fornecedoras de creches conveniadas comandadas por aliados. “É natural, ele conhece todo mundo na região”, disse, por telefone, na tarde desta quarta (18).

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Pergunta – O sr. conseguiu um feito inédito ao vencer na cidade toda, inclusive em distritos periféricos usualmente associados ao voto no PT. Ao mesmo tempo, a esquerda cresceu. Como o sr. avalia esse cenário?

Bruno Covas – Nosso resultado é o reflexo de um governo que olhou para a cidade como um todo, que não governou só para a periferia ou só para o centro. Sobre o voto de esquerda, 2016 foi um ponto fora da curva. Se pegar o resultado de 2012, 2008, 2004, foi um resultado dentro do previsto.

A alta abstenção (29,3%) parece ter prejudicado mais sua candidatura, pelo apoio que o sr. tem em estratos mais velhos e, por isso, parte de grupo de risco. Já o Boulos teve uma mobilização mais forte entre jovens. Como o sr. vai lidar com isso agora?

BC – Incentivar as pessoas a votar. O próprio tribunal eleitoral fez uma campanha muito grande de que bastava baixar o aplicativo para poder justificar [a ausência] de dentro de casa, estimulando a abstenção. As pessoas precisam perceber que elas vão decidir o futuro da cidade. Precisamos apontar esse desafio cívico.

Se o sr. ganhar, se o Eduardo Paes (DEM) levar no Rio e com Belo Horizonte já com Alexandre Kalil (PSD) reeleito, se consolida um direcionamento centrista nos maiores colégios eleitorais. Isso facilita ou dificulta uma discussão sobre união de forças visando enfrentar Bolsonaro em 2022?

BC – Não sei. Mostra um resultado para este ano, que neste ano o centro democrático volta a ter força. Mas o quanto isso vai refletir em 2022, está muito longe. Tem um longo 2021 no meio para saber como essas forças estarão em 2022.

O sr. disse que não é biruta de aeroporto e que nunca apoiou o Bolsonaro. Mas quando circula aquela selfie com o sr. bem à vontade com o presidente, e com o apoio do Celso Russomanno [que foi o candidato do Planalto], não fica uma imagem contraditória para o eleitor?

BC – Não, uma coisa é ser educado. Uma coisa é você, como prefeito da cidade, cumprimentar o presidente, o que não tem nenhuma relação com concordar com o que ele faz ou fala. Corresponde ao meu jeito de ser.

Acho importante, independentemente da coloração partidária, que haja busca de diálogo entre prefeitura com o governo federal, estadual.

E em relação ao apoio do Russomanno?

BC – Olha, se a gente tivesse mais convergência que divergência, teríamos uma mesma candidatura no primeiro turno. O fato de ele ter sido candidato e eu também mostra que temos divergências ideológicas. Mas o segundo turno é outra eleição, e eles se identificaram mais com a nossa candidatura.

O Republicanos [partido de Russomanno] volta a seu governo?

BC – A gente não fez divisão sobre o governo. Passada a eleição, conversaremos com todo mundo.

Pesquisas mostram que a imagem do governador Doria não é boa na cidade. Se fosse o inverso, ele estaria presente na sua campanha?

BC – Uma coisa é a boa relação que o prefeito tem de ter com o governador e com o presidente. Agora, não tem sentido o governador parar de ser governador para ir à rua. O prefeito e o candidato sou eu. Isso não quer dizer que não tenha relação política com o governador.

Por que o PSDB não é protagonista no seu material de campanha?

BC – Porque todo mundo sabe que eu sou do PSDB. Não foi uma cegonha que me trouxe, foi um tucano. Se tem alguém com a cara do PSDB sou eu, Bruno Covas.

Como o sr. avalia essa tomada de espaço do Boulos sobre o PT?

BC – Mostra um pouco o envelhecimento das lideranças do PT, a dificuldade que eles têm para se renovar na cidade. O PSOL ocupou. Isso mostra também que é a mesma raiz, a mesma linha, a mesma matriz ideológica. Eles têm uma atuação conjunta.

O sr. aponta Boulos como um radical. Por que ele é um radical?

BC – Eu não falei que ele é um radical. Eu falei que São Paulo vai vencer os radicais.

Sim, mas agora o sr. está enfrentando apenas um candidato. Ele é um radical?

BC – Você que está falando.

Não, eu estou lhe perguntando.

BC – Isso a população que vai verificar e comparar. Quem vai tachar o Boulos de radical ou não é a população.

Logo que Boulos foi confirmado no segundo turno, Doria fez uma postagem dizendo que o candidato defende invasão de propriedades, enquanto ele defende propriedades. O sr. concorda com essa colocação?

BC – Essa é uma colocação do governador, quem tem de falar sobre ela é ele. Eu não vou aqui avaliar. Eu respondo pelas minhas falas.

Acerca de seu vice, o Ricardo Nunes (MDB). O sr. disse que confia totalmente nele e destaca que ele não é réu ou condenado. O sr. sabia das ligações dele com empresas conveniadas de creches antes de o escolher?

BC – Veja, todos os vereadores, em todos os cantos da cidade, conhecem sua realidade, seu bairro. As pessoas se conhecem. É natural isso.

Não há nenhum indício de favorecimento ou de formação de maioria na Câmara Municipal distribuindo contratos com a prefeitura. São contratos antigos, da gestão do PT, não tenho razão para duvidar dele. É natural que ele conheça todo mundo, o fato de ele conhecer não significa que foi beneficiado.

Mas o sr. não foi alertado antes da escolha sobre eventuais questões que poderiam surgir?

BC – Veja, é natural que isso pudesse surgir, até porque ele conhece todo mundo lá na região.

Se o sr. tivesse as informações que estão disponíveis hoje, o sr. manteria a indicação?

BC – Volto a dizer, ele não responde a nenhum processo. O que eu poderia saber que deixaria de escolher ele? Não se comprovou nada.

Levantamento feito pela Folha de S.Paulo mostra um repique da Covid-19, com aumento de 26% no número de internações na cidade. O sr. antevê a necessidade de novas medidas restritivas?

BC – Olha, amanhã [quinta] nós vamos ter uma coletiva sobre isso na prefeitura, para poder apresentar dados do município. Até agora, não há dados que indiquem uma segunda onda.

A revisão do status do Plano São Paulo pelo governo estadual foi adiada, por diversos motivos, para um dia depois da eleição. Dado que o governo também é do PSDB, o sr. não teme acusação de estelionato eleitoral [caso haja uma degradação]?

BC – Aqui na cidade não tem nenhuma alteração prevista.

Sobre o aspecto econômico, como a prefeitura está lidando com queda de arrecadação, especialmente se for confirmado um repique de casos?

BC – Este ano foi muito mais complicado porque o orçamento de 2020 já havia sido elaborado com outra realidade. Tivemos de cortar investimentos, prorrogar parcelas de dívida com a União, buscar novos recursos. O orçamento do ano que vem já prevê enfrentar a pandemia.

Mesmo com as dificuldades, chegamos ao segundo quadrimestre com 38% de relação dívida/receita, melhor situação desde que isso passou a ser acompanhado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

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RAIO-X

Bruno Covas, 40

Economista e advogado, é neto do governador Mário Covas (PSDB, 1930-2001), que o iniciou na política quando ele se mudou para São Paulo, aos 14 anos. Foi então deputado estadual (2007-11), secretário estadual de Meio Ambiente (gestão Geraldo Alckmin, 2011-14), deputado federal (2015-17), vice-prefeito paulistano na chapa liderada por João Doria (2017-18) e prefeito (2018-20). É divorciado e tem um filho.

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