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Rodrigo Teixeira e investidores batalham na Justiça dos EUA

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Uma batalha judicial nos Estados Unidos tem como protagonistas dois brasileiros e um filme indicado ao Oscar, além de alguns enredos importantes nos tribunais brasileiros.

Produtor de filmes de grande repercussão entre críticos como “Me Chame pelo Seu Nome” e “A Vida Invisível”, Rodrigo Teixeira está sendo processado pelo empresário Luiz Müssnich, que o acusa de falta de transparência com os investidores envolvidos nas produções e fala de indícios de fraude e de esquema de pirâmide financeira.

Segundo a acusação, recursos que teriam sido destinados por contrato a um determinado projeto não só não chegaram a esse projeto como foram direcionados para outros fins. A defesa de Rodrigo Teixeira diz que a queixa carece de substância ou mérito jurídico.

Ainda que ambas as partes sejam brasileiras, a ação foi ajuizada no estado americano da Califórnia, onde a produtora de Teixeira, a RT Features, também opera.

Müssnich é um investidor que chegou a ser condenado à prisão por evasão de divisas com base na Lei do Colarinho Branco e por fraude à fiscalização tributária, mas a pena prescreveu e o investidor não foi preso. Procurado pela reportagem, ele não quis comentar o caso.

Em nota enviada à reportagem, a RT Features afirma que “a queixa carece totalmente de substância ou mérito jurídico”. Afirma também que “as alegações da existência de uma pirâmide financeira são absurdas e carecem de qualquer prova material”.

Há pelo menos mais dois processos no Brasil envolvendo outros investidores em filmes da produtora que alegam ter tido problemas na transparência de seus investimentos e nos pagamentos dos retornos em negociações com Rodrigo Teixeira.

Um deles é movido por Carlos Gros, que conheceu o produtor de cinema por meio de seu cunhado, Müssnich. Gros e sua mulher chegaram a ser convidados por Teixeira para a cerimônia do Oscar de 2018, em que “Me Chame Pelo seu Nome” levou o prêmio de melhor roteiro adaptado.

Gros entrou na Justiça contra o produtor pedindo a prestação de contas relativa a investimentos que ele teria feito no filme “24 Frames”, do diretor iraniano Abbas Kiarostami, vencedor da Palma de Ouro, morto em 2016. O longa foi lançado em 2017, já depois da morte do cineasta.

Segundo o advogado de Gros, Bruno Simões, o investidor estava insatisfeito com a falta de transparência sobre seus investimentos e ajuizou uma ação pedindo prestação de contas. Teixeira então enviou uma carta assinada por ele e pelo produtor Charles Gillibert, em que se afirmava que o investimento de Gros a “24 Frames” havia sido realizado.

Em paralelo, Gros trocou uma série de emails com Ahmad Kiarostami, filho do diretor de “24 Frames”, que teria afirmado que o longa não recebeu nenhum investimento vindo de Teixeira ou de Gros. Na página do produtor no IMDb, uma base de dados online com informações da produção mundial de cinema e TV, não há créditos relativos a “24 Frames”. O filme também não consta na lista de projetos no site da RT Features. Copiado no email, Teixeira respondeu dizendo que não houve investimento.

De acordo com o advogado de Carlos, ele e sua mulher, Tatiana, investem há pelo menos dez anos em projetos de Teixeira, “na maioria dos filmes dele”. Inicialmente, os Gros teriam recebido retornos em valores que consideraram condizentes com os investimentos feitos, apesar de a prestação de contas sempre ter sido falha, de acordo com Bruno Simões.

Por causa dos bons retornos financeiros nos primeiros, o casal continuou investindo. No entanto, nos últimos anos, enquanto as prestações de conta teriam continuado falhas, os retornos não seguiram tão interessantes e a relação se estremeceu.

A RT afirma que, dos R$ 242 mil investidos, Gros já recebeu R$ 235.640, “como ficou incontroverso nos autos”. “Ou seja, é uma discussão sobre um principal de R$ 6.360, o que prova que essa demanda é só um pretexto para encobrir uma tentativa de intimidação de seu autor, que não se empenharia tanto por essa quantia.”

A outra pessoa que processa Teixeira é Carlos Mansur Filho, de 24 anos. Ele é filho do banqueiro Carlos Alberto Mansur, dono do banco Industrial. Mansur Filho, conhecido como Cacau, investiu R$ 1,7 milhão em projetos de adaptação das obras “Mesmo Delivery” e “Furry Water”, graphic novels de Rafael Grampá. De acordo com a petição inicial, Teixeira não havia pagado o retorno na data estipulada.

O produtor depois reconheceu a dívida, a ação foi arquivada, as partes chegaram a um acordo, e o valor da dívida foi dividido em parcelas. A primeira delas, de cerca de R$ 963 mil, no entanto, foi paga pelo produtor com um cheque sem fundo, segundo a advogada da acusação, Raquel Batista de Sousa Franca. Procurado, Mansur não quis comentar o caso.

A RT Features afirma que, dos R$ 963 mil, realizou um pagamento de R$ 500 mil, “sendo que o restante dos valores está em discussão dentro do processo judicial”.

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