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Após 9 meses isolados em ilha no Pacífico, biólogos descobrem o mundo da covid

Assim que a pandemia começou, em fevereiro, quatro pessoas zarparam para um dos lugares mais remotos da Terra: o Atol Kure, no noroeste do Havaí. Eles viveram isolados por oito meses restaurando as praias da ilha. Isolados, o mundo se limitava a um pedaço de areia no meio do caminho entre EUA e Ásia. Sem TV ou internet, as únicas informações vinham de mensagens de texto via satélite e e-mails ocasionais.

Agora, eles estão de volta a uma sociedade transformada que parece tão estranha hoje quanto o isolamento da ilha parecia em março. Eles devem se ajustar ao uso de máscaras, ficar em casa e ver os amigos sem dar abraços ou apertos de mão. “Nunca vi nada assim”, disse Charlie Thomas, um dos quatro da equipe.

O grupo faz parte de um esforço do Havaí para manter o frágil ecossistema da ilha, um parque nacional onde vivem pássaros marinhos, focas havaianas, recifes de coral, tartarugas e tubarões-tigre. Todo ano, duas equipes se alternam, uma no verão, outra no inverno, com a função de remover plantas invasoras, substituí-las por espécies nativas e limpar redes de pesca e plásticos que chegam às praias.

“Antes de partirem, os membros da equipe são questionados se desejam receber más notícias quando estiverem em Kure”, disse Cynthia Vanderlip, supervisora do programa. “Algumas vezes por dia, fazemos upload e download de e-mails para que eles mantenham contato com família e amigos.”

Charlie, neozelandesa de 18 anos, a mais jovem da equipe, cresceu ao lado de pássaros marinhos e outros animais selvagens. Ela terminou a escola um ano mais cedo para se dedicar a trabalhos ambientais voluntários. “Estava cansada das redes sociais, de tudo o que estava acontecendo”, disse Charlie, que agora está em quarentena em um hotel de Auckland, onde vive sua família.

Ao lado dela na ilha estava Matthew Butschek, de 26 anos, de Dallas. Para ele, o momento mais difícil foi lidar com a morte de um tio, que já estava doente, e do melhor amigo, de acidente de carro. “Tomei uma cerveja por ele e pensei nos bons momentos”, disse. Em quarentena em Honolulu, Butschek olhava pela janela e via crianças brincando, todas de máscaras, como nos filmes apocalípticos. “Isso não é normal para mim.”

Os líderes do grupo eram a bióloga Naomi Worcester, de 43 anos, e seu marido, Matthew Saunter, de 35. Naomi visitou a ilha pela primeira vez em 2010 e todos os anos está de volta. “Com tanta incerteza e emoções à flor da pele, há um medo subjacente em relação ao que o futuro pode trazer e como as pessoas podem responder”, disse.

Para Saunter, que trabalha há dez anos em Kure, o isolamento não é um fator importante. “Para ter sucesso em Kure, você tem de enfrentar os problemas de frente e controlar suas emoções”, disse. Ele se lembra de quando sua irmã chamou o surto de “pandemia” pela primeira vez. “Recebi um e-mail dela com a palavra pandemia e pensei: qual a diferença entre pandemia e epidemia? Agora, é uma palavra que está no vocabulário de todos.”

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