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Saiba quem é a feminista que pregou ódio aos homens e então virou alvo de ataques

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A francesa Pauline Harmange, de 25 anos, publicou um livro, e todo mundo quer saber o que seu marido pensa dele. “É muito curioso esse apego em querer saber a opinião dele. Não foi Mathieu quem escreveu o livro”, ela diz. “Todos os ensaístas são questionados sobre o que suas mulheres acham de seu trabalho?”

Já o parecer de outro homem sobre “Moi Les Hommes, Je Les Déteste” -ou eu odeio os homens, em português- ficou bem público. Ao ser lançada, em agosto, a obra despertou a ira de Ralph Zurmély, assessor no Ministério da Igualdade entre Mulheres e Homens, na França. Ele mandou um email à Monstrograph, editora independente responsável pela obra que no Brasil sairá pela Record no ano que vem, ameaçando processar a empresa por “apologia da misandria”.

“Além de muito barulho na mídia e uma negação um tanto morna do ministério”, nada aconteceu depois da tentativa de intimidação, afirma Harmange. Ela está sendo modesta. A projeção ajudou o manifesto a saltar de 450 cópias impressas, sua tiragem inicial, para 15 mil, agora numa grande editora.

O ensaio começa com uma citação de Sylvia Plath. “O problema era que eu odiava a ideia de servir aos homens de qualquer forma.” Isso dá o tom dos escritos de Harmange, que defende o direito de odiar os homens como forma de liberação.

“A misandria surge e é alimentada pela raiva. As feministas sempre associaram raiva privada, que pertence ao espaço doméstico, e raiva pública. Por muito tempo, porém, nossa raiva feminina não pôde ser expressa como raiva feminista.”

No livro, a francesa conta que se viu desamparada depois de entender a fúria que a tomava após anos trabalhando numa organização que ajuda vítimas de estupro. “O que fazer com todos aqueles homens medíocres ao meu redor? Jogar todos eles direto no lixo não reciclável não poderia criar um vazio impossível em minha vida? Não havia outra solução senão recuar às profundezas da floresta para uma cabana abandonada?”

Pode ser “difícil de acreditar”, já que a ala masculina “convence a todos de que é absolutamente essencial”, mas nem toda a humanidade é composta de homens, diz a usuária orgulhosa de uma camiseta onde se lê “feminista de merda”. “Não entre em pânico -ao demitir boa parte dos homens, percebemos que há muitas mulheres fantásticas em volta. A começar por nós, aliás.”

Sua misandria comporta exceções. Nos agradecimentos do livro, afaga o marido, “por ser o primeiro de nós a acreditar em mim”, que só perde em reverência para Eleven, “por ser o gatinho mais fofo da Terra (mas se você pudesse parar de rasgar o isolamento da porta, seria ótimo, obrigado)”.

Por suas palavras, Harmange já foi descrita como exemplo da cultura do cancelamento. “Isso me faz rir muito”, ela rebate. “Ainda estou esperando para ver os efeitos dessa chamada cultura sobre os homens acusados de agressão sexual. O que hoje é chamado de cancelamento, eu chamo de consequências. Os homens se comportam mal e, finalmente, pagam por isso.”

Curioso, reparou, é como ela dizer que odeia homens é o cúmulo, mas ninguém boicota o conterrâneo Charles Baudelaire por ter escrito no século 19 sobre George Sand, pseudônimo da romancista Amandine Aurore Lucile Dupin -“ela é estúpida, pesada, tagarela, o fato de alguns homens terem se apaixonado por esta latrina é prova da humildade dos homens deste século”.

Livia Vianna, editora-executiva do grupo editorial Record, diz que o intuito de publicar o manifesto assumidamente misândrico é mesmo o de provocar. “A causa feminista sempre foi acusada de incentivar o ódio contra homens, contra a família. Mas o que o feminismo evoca é reflexão corajosa.”

Questionada se há redenção para esta metade da população, Harmange diz botar fé, sim, “que os homens como um grupo podem mudar um pouco, eu realmente acredito nisso”. Seu ceticismo, contudo, “é que eles tenham vontade ou coragem”. Por ora, continuará os odiando.

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