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Filho de Covas e esposa de Boulos são portos seguros de campanha acirrada

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há duas semanas, quando Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) fizeram os discursos de comemoração da ida para o segundo turno, que disputam neste domingo (29), a paisagem ao redor do púlpito exibia mais do que os políticos, aliados e militantes de praxe.

Tomás Covas, 15, ao lado do atual prefeito e candidato à reeleição, e Natalia Szermeta, 33, ao lado do líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), estavam presentes com destaque no cenário –geralmente calculado para passar alguma mensagem ao eleitor.

Vestindo uma camiseta dos Tucanáticos, grupo que concentra jovens do PSDB, Tomás se pôs do lado esquerdo de Covas, enquanto o governador João Doria (PSDB) estava na porção direita.

Além de uma sinalização ao aliado Doria –escondido ao longo da corrida eleitoral para evitar desgastes–, estava simbolizado no palco o papel de pai exercido pelo candidato –figurino, por sua vez, que foi bastante exposto e valorizado nos anúncios.

O adolescente, visto com frequência ao lado de Covas em eventos públicos e no dia a dia da prefeitura, foi aumentando sua participação na jornada do tucano em busca da reeleição ao longo dos últimos meses e mergulhou com mais intensidade no segundo turno.

Na legenda de uma foto dos dois em uma rede social, às vésperas da votação de 15 de novembro, o prefeito caracterizou o filho como “uma arma secreta” na batalha contra os adversários e agradeceu a ele “pelo apoio e por toda a força”.

Na descrição de seu perfil no Instagram, sua plataforma digital predileta, o prefeito informa, logo após a idade (40) e o estado civil (divorciado), que é “pai do Tomás”.

Na falta de grandes marcas, a propaganda de Covas é baseada principalmente na história pessoal do prefeito, o que inclui sua luta contra o câncer, a relação com o avô Mario Covas, que foi prefeito e governador, e também a imagem de pai dedicado.

Tomás apareceu logo no primeiro vídeo da campanha. As imagens mostram pai e filho interagindo no hospital, durante o tratamento de Covas contra os tumores no abdome, no Sírio-Libanês.

Em outra cena, novamente ele aparece, e o prefeito cita o rebento: “O meu avô e meu filho são as minhas maiores inspirações”.

A presença frequente do jovem não é só no horário eleitoral. Tomás tem acompanhado o pai nos poucos debates realizados pelas emissoras de TV e, na plateia ou nos bastidores, fica compenetrado enquanto assiste aos confrontos protagonizados pelo pai.

Quando considerava que Covas havia se destacado em alguma intervenção, com uma resposta rápida ou ataque mais duro, ele às vezes mandava um “vixiiiii” no grupo de WhatsApp da equipe de campanha e aliados.

O adolescente também demonstrava interesse nas apostilas preparadas pelos auxiliares com temas para serem falados nos debates. E, ao fim dos programas, comentava com o tucano suas impressões. Em geral, sua postura era de defesa do pai e de preocupação com ofensivas que ele poderia sofrer.

Tomás também esteve ao lado do prefeito em agendas de rua e se aproximou de membros do comitê e de militantes do PSDB. Acabou se entrosando rápido com os integrantes da candidatura e às vezes os surpreendia com comentários perspicazes, atípicos para a idade.

Na noite em que Covas foi para o segundo turno, antes da foto ao lado do prefeito e do governador, o jovem fez um discurso para os apoiadores que se concentravam do lado de fora da sede estadual do PSDB.

“Vamos ganhar essa eleição com muito pé no chão. Se Deus quiser, pegar o Boulos aí e provar que aqui em São Paulo radicalismo não tem vez”, disse, antecipando o tom que a campanha do tucano ganharia dali em diante, com o esforço para pintar Boulos como extremista.

Aliados de Covas afirmam nos bastidores que Tomás tem tino para a política e duvidam de que ele não seguirá os caminhos do pai e do bisavô –Bruno Covas milita desde desde jovem no PSDB e, ainda criança, ingressou no Clube dos Tucaninhos, grupo de formação para os simpatizantes da legenda.

Quem conhece Tomás também diz que, por conviver com o grupo político da família desde cedo, ele demonstra conhecimento sobre o assunto.

Além de política, Tomás é fanático pelo Santos, o mesmo time do prefeito. Filho de Covas com a economista Karen Ichiba (de quem o prefeito se divorciou em 2014), ele vive com Covas, em esquema de guarda compartilhada, em um apartamento na Barra Funda (zona oeste).

A reportagem pediu entrevista com Tomás à assessoria de Covas, mas a resposta foi a de que não seria possível.

No terreno oposto, a presença assídua de Natalia no entorno de Boulos não é novidade para os que acompanham os passos do casal no MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto) e na Frente Povo sem Medo (coalizão de organizações de esquerda pró-direitos sociais).

Ela divide com o candidato do PSOL a militância no movimento de moradia, onde os dois se conheceram em 2005, e a atuação partidária, mas só começou a participar ativamente da campanha dele à prefeitura na reta final.

Antes, estava coordenando uma candidatura coletiva à Câmara Municipal de São Paulo. O Juntas Mulheres sem Teto, coletivo de mulheres do MTST, concorreu pelo PSOL e, mesmo com quase 22 mil votos, fracassou na conquista de uma cadeira no Legislativo.

Natalia, que no passado começou a fazer o curso de geografia, hoje está perto de concluir a faculdade de direito. E decidiu manter os estudos mesmo com o período eleitoral. Além da rotina de aulas online e tarefas, viu sua semana de provas coincidir com a semana pré-segundo turno.

Tratada por Boulos como sua companheira de vida (os dois estão juntos desde 2009, mas não são casados no papel), a ativista conciliou a vida de estudante nos últimos dias com o papel de articuladora da candidatura com movimentos sociais.

Com um trabalho discreto nos bastidores, contatou apoiadores e mobilizou líderes comunitários para encontros com o candidato a prefeito. Mas também esteve em outras situações, como a reunião em que o PT selou apoio ao PSOL no segundo turno e discutiu sua participação na campanha.

“Gosto desse papel”, diz Natalia, que também considerou positiva até aqui a oportunidade de rebater o que ela e o marido consideram uma campanha de difamação contra ele e os movimentos de moradia.

“O Guilherme já foi demonizado, [descrito] como o invasor, o sujeito que vai invadir a casa dos outros, botar fogo em tudo. E nunca nos deram a oportunidade de mostrarmos quem realmente somos, a nossa luta e os nossos objetivos. Agora estamos tendo essa chance.”

Entre auxiliares do postulante, a visão que se tem sobre ela é a de uma mulher com um perfil parecido com o dele, alguém que tem voz e opiniões firmes e que está em posição de igualdade com o marido. Ela chegou a ser sondada no início do ano para se candidatar, mas achou que ainda não era a hora.

Na sexta-feira (27), quando Boulos anunciou que estava com Covid-19, Natalia manteve os pés no chão, como ela mesma diz ser do seu feitio (“o meu signo é todo em terra, virgem com ascendente em touro”). Apesar do prejuízo à campanha, acalmou-se com o fato de o marido estar sem sintomas.

Ela e as duas filhas do casal, Sofia, 10, e Laura, 9, fariam exame para a doença neste sábado (28), embora também estivessem sem sinais de contaminação.

Nos últimos tempos, segundo Natalia, ela e Boulos se apoiaram diante da tensão inicial sobre o receio de insucesso da candidatura e depois encararam juntos a fase de maior cansaço.

Com o ritmo intenso da campanha, a casa deles, no Campo Limpo (zona sul), virou comitê eleitoral, a convivência diária ficou prejudicada e as noites de três ou quatro horas de sono viraram rotina.

“Eu tinha muitas dúvidas até o dia da votação [do primeiro turno]. Mas depois dali eu fiquei muito convencida de que a gente ia para o segundo turno. Senti muita emoção das pessoas nas ruas”, relembra.

As filhas, que estavam com o casal na ocasião, também demonstram empolgação com o desempenho do pai, segundo a mãe. “Com elas a gente tem um combinado: quando elas não querem aparecer, elas não aparecem. É para preservá-las. Elas são crianças, não são candidatas, e isso precisa ser respeitado.”

Natalia diz ainda que a decisão de estar ao lado de Boulos no discurso da noite de 15 de novembro foi tomada em conjunto. “Nós somos companheiros, e eu queria estar com ele naquele momento. Também faço parte desse processo político”, relata.

Ela ri diante da possibilidade de virar primeira-dama, no caso de vitória do marido. “Eu não vejo isso como um título. A minha relação de companheira de vida com o Guilherme independe disso”, diz a ex-militante do PSTU, que tem pai filiado ao PSOL e mãe filiada ao PT.

E desconversa sobre as tarefas que poderia assumir caso o marido vença neste domingo. Só indica que sua atuação seria ligada à defesa de direitos das mulheres e à luta contra a violência doméstica, dois temas que a motivam também em seu trabalho como coordenadora no MTST.

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