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Construção vê ‘voo de galinha’ e projeta queda de 2,5% para PIB do setor neste ano

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O setor da construção comemora os bons resultados dos últimos meses, mas teme que a retomada não seja sustentável.

O PIB (Produto Interno Bruto) da construção deverá fechar com queda de 2,5% este ano, segundo o Sinduscon- SP (Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo). De acordo com Eduardo Zaidan, diretor de economia da entidade, os ganhos recentes não são suficientes para garantir uma retomada sólida no segmento.

“Se o Brasil não resolver a sua questão econômica, a construção civil não sobrevive e a gente vai ter sempre esses voos de galinha”, afirma.

Segundo o Sinduscon-SP, a construção civil apresentou bons resultados este ano impulsionada pelo aumento de obras de reparo durante a pandemia. De dezembro de 2019 a outubro de 2020, o setor foi responsável pela geração de 138 mil empregos com carteira assinada no país e deu impulso a outros segmentos. As vendas de cimento de janeiro a outubro, por exemplo, cresceram 10,1% na comparação com o mesmo período de 2019.

“Houve demandas das empresas e também das famílias, especialmente por pequenas obras na quarentena e com o uso do auxílio emergencial”, afirma Ana Castelo, coordenadora de Projetos de Construção da FGV/Ibre.

Para o Sinduscon-SP, o bom momento da construção precisa ser acompanhado pelo bom desemprego de outros setores, mas não é o que se vê, uma vez que a retomada ocorre de forma heterogênea.

Apesar da alta de 7,8% acumulada entre janeiro e outubro nas vendas do varejo, a produção industrial sofre queda de 4,7% no mesmo período.

“A retomada precisa acontecer no chão de fábrica, mas a produção industrial amarga uma queda”, afirma Zaidan.

De acordo com a Sondagem da Construção, realizada pela FGV-Ibre, os índices de atividade do setor apresentaram, em comparação com a média de 2019, retrações nos segmentos de instalações (-7,51%), seguido por acabamentos (-3,79%), construção (-3,11%), edificações (-2,12%), obras viárias (-1,94%), obras como túneis, pontes ou os viadutos (-1,72%) e preparação de terrenos (-1,14%).

Segundo a sondagem, as maiores dificuldades para o segmento são demanda insuficiente, seguida de competição no próprio setor e a alta no custo da matéria-prima.

Embora a dificuldade para obter materiais esteja na lista de problemas apresentada pela sondagem, Zaidan afirma que não haverá escassez neste ano. O que preocupa o sindicato é o aumento de preço de produtos que estão concentrados nas mãos de poucos fornecedores. O preço de materiais como o PVC teve forte alta.

“Não acredito que vamos ter escassez de materiais neste ano, mas vamos ter problemas de preço”, afirma. “A oferta de materiais importantes está concentrada nas mãos de poucos produtores, e há uma demanda inelástica.”

Zaidan conta ainda que a alta do dólar, cujo aumento chega a 40% nos últimos 12 meses, impacta todos os materiais derivados de petróleo.

“Quanto custa importar esse material? É difícil saber. Você tem uma dominância de mercado, então não tem por que o fornecedor baixar o preço”.

A entidade diz que pesa contra a retomada o que chama de “inatividade da economia”. Afirma ainda que o cenário de incerteza leva ao adiamento dos investimentos de grande porte no país.

“O Brasil tem problema de câmbio hoje, e a sua economia registra uma produtividade baixíssima”, afirma. “A falta de demanda ainda é uma limitação, então, não existe construção saudável em um país onde a economia não é saudável.”

Segundo a instituição, a movimentação imobiliária vista na pandemia, principalmente por causa da evolução do crédito e da redução das taxas de juros, não se aplica a todas as regiões do Brasil.

“Está forte em São Paulo, mas o movimento médio de melhora não está amplamente disseminado no país inteiro, como no Rio de janeiro e em Recife’, afirma Zaidan.

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