Economia

Dólar salta acima de R$5,60 mesmo com BC; cenário para real piora na margem

O dólar teve mais um salto nesta sexta-feira e fechou acima de 5,60 reais pela primeira vez desde novembro, em dia de forte pressão que levou o Banco Central, pelo segundo pregão seguido, a fazer intervenção dupla no mercado de câmbio, em meio a mais uma sessão negativa para moedas emergentes por receios sobre fuga de capital com a disparada de juros soberanos.

Novamente, a combinação entre firme demanda global por dólares e novos ruídos no mercado local ditou a dinâmica do câmbio no Brasil, num dia já tradicionalmente volátil devido à “briga” entre comprados e vendidos em dólar por ocasião da formação da Ptax de fim de mês.

O mercado já vinha de certo incômodo pela ressurgência de notícias na imprensa sobre suposta fragilidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, no governo.

À tarde, notícia de O Globo de que o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, havia colocado o cargo à disposição turbinou a busca por dólar. A informação veio uma semana depois de o presidente Jair Bolsonaro ter afirmado que substituiria o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, o que causou um rebuliço nos mercados que irradiou por toda esta semana.

Com o dólar escalando, o BC atuou duas vezes. Às 12h12, a moeda bateu uma máxima acima de 5,57 reais. Três minutos depois, o Banco Central veio ao mercado com anúncio de um leilão de venda de dólar à vista, no qual colocou 740 milhões de dólares.

Mas a moeda recobrou forças, e um segundo leilão foi anunciado logo após o dólar saltar a 5,61 reais, depois de ter chegado a cair abaixo de 5,50 reais durante a manhã. Essa operação chamou atenção de alguns operadores por ter ocorrido entre 16h11 e 16h16, durante o “call” de ajuste dos juros futuros.

No total, o BC colocou 1,545 bilhão de dólares no mercado à vista, elevando a 3,080 bilhões de dólares o montante despejado desde a véspera.

“O próximo passo é o BC subir juros”, disse um gestor, segundo o qual o segundo leilão foi anunciado para conter a pressão de alta vinda da notícia relacionada ao presidente do BB.

No fechamento, o dólar spot subiu 1,67% nesta sexta, a 5,6017 reais na venda. Na máxima, bateu 5,6100 reais, alta de 1,82%.

Na semana, o dólar saltou 4,03% –maior alta desde a de 4,34% da semana encerrada no último dia 8 de janeiro.

Em fevereiro, a cotação avançou 2,25%, elevando os ganhos no ano para 7,90%.

O real tem o pior desempenho entre 33 pares do dólar no acumulado de 2021. E o cenário, na margem, parece pior, segundo pelo menos três bancos.

O Itaú Unibanco elevou a estimativa para o dólar ao fim de 2021 de 4,75 reais para 5,00 reais. “A incerteza fiscal deve permanecer elevada e o cenário global pode se tornar desafiador adiante para ativos de risco, impedindo uma apreciação mais intensa da moeda, como projetávamos”, disse o banco.

O Bradesco espera agora que o dólar feche este ano em 5,30 reais. Em janeiro, a expectativa era que a moeda ficasse em 5,00 reais ao fim de dezembro. “A mudança nas condições financeiras globais e as incertezas fiscais domésticas podem limitar a apreciação (do real) sugerida pelos fundamentos das contas externas e ganhos de termos de troca”, disse o banco em nota.

E o Rabobank passou a ver dólar de 5,15 reais ao fim deste ano, ante 5,05 reais da projeção anterior. Mauricio Une e Gabriel Santos citaram que, apesar da valorização das matérias-primas, muitos exportadores têm mantido as receitas no exterior, enquanto investidores estrangeiros seguem afastados dos mercados domésticos.

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