Brasil

Com mortes que podem chegar a 3 mil por dia, país esbarra em rejeição de Bolsonaro a medidas de restrição

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – O número de mortes causadas pela Covid-19 pode chegar a 3 mil por dia se medidas de restrição não forem adotadas mas, apesar de concordar com as estimativas apresentadas pelo gabinete de crise da Covid-19, o Ministério da Saúde não vê chances de propostas restritivas serem aceitas pelo presidente Jair Bolsonaro, disseram à Reuters fontes que acompanharam as discussões.

Em meio à aceleração de mortes no país, a conta feita pelo gabinete de crise –formado pela Casa Civil, Ministério da Saúde, representantes de estados, municípios e sociedade civil– leva em conta a velocidade do aumento de casos, das mortes e a lotação das UTIs no país, em que 26 das unidades da Federação têm hoje mais de 80% dos leitos ocupados, de acordo com uma das fontes ouvidas pela Reuters.

Apesar de alegar que não faz estatísticas e esse acompanhamento seria responsabilidade dos Estados e municípios, os representantes do governo que compõe o comitê concordaram que esse era o cenário mais provável. O Brasil vem quebrando recordes sucessivos de mortes diárias. Na quarta-feira, chegou ao número mais alto: 1.910. A média móvel dos últimos 14 dias é a maior desde que a epidemia começou, 1.250

A resposta do Ministério da Saúde aos números recordes foi, segundo uma das fontes, que havia pouco a se fazer nesse momento, mas o ministério iria investir na reativação de hospitais de campanha nos Estados e na habilitação de novos leitos de UTI, onde fosse possível.

Oficialmente, o ministério nega que trabalhe com a possibilidade de o país chegar a 3 mil mortes por dia. Procurado pela Reuters, a informação é que “o ministério não faz estimativa, apenas recomenda cuidados, mas caberá aos Estados e municípios determinarem suas necessidades”.

As medidas de restrição de circulação, propostas pelos secretários estaduais de Saúde em uma carta entregue na terça ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello –entre elas, um toque de recolher nacional das 20h às 5h, fechamento de aeroportos e de viagens interestaduais–, disse a fonte, seriam levadas ao presidente Jair Bolsonaro.

“Foi dito que iriam tentar medidas de restrição. Mas sabemos que o presidente jamais aceitaria”, disse uma das fontes.

Recentemente, Bolsonaro voltou ao ataque a prefeitos e governadores que decidiram adotar medidas mais duras de restrição de circulação. Chegou a cobrar que lhe “devolvessem o poder” de decidir sobre essas medidas, acusando, mais uma vez, o Supremo Tribunal Federal de ter lhe tirado poderes –na verdade, a decisão da corte diz que Estados e municípios podem determinar restrições independentemente da posição do governo federal.

“No que depender de mim, nunca teríamos lockdown. Nunca. É uma política que não deu certo em lugar nenhum do mundo”, disse a apoiadores na frente do Paládio da Alvorada, na quarta-feira.

Na semana passada, em outra reunião, técnicos do ministério da Saúde já tinham dito a secretários de Saúde que não podiam indicar medidas mais restritivas por proibição de Bolsonaro. De lá para cá, o presidente subiu o tom contra as quarentenas. Na quinta, chegou a dizer que era preciso parar com “frescura” e “mimimi” e que é preciso enfrentar o problema “de peito aberto”.

O Ministério da Saúde tem apenas uma aposta para reverter a situação: acelerar a compra de vacinas. A política, que também havia sido deixada de lado até o final do ano, agora aparece como salvação para o Brasil.

Esta semana, o ministério anunciou que as negociações para a compra das vacinas da Pfizer e da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson travadas há meses, avançaram, e devem trazer 138 milhões de doses de vacinas ao país até o final do ano. O ministério também anunciou negociações para a compra de doses da vacina da Moderna.

O ministério vê a possibilidade de ter todo os principais grupos prioritários –cerca de 70 milhões de pessoas– vacinados até junho deste ano.

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