Brasil

Com explosão de internações por Covid, Estados veem risco de falta de medicamentos

Em meio ao avanço das internações causadas pela Covid-19, Estados começam a registrar escassez de medicamentos usados para entubação como sedativos e relaxantes musculares especiais para Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de acordo com levantamento feito pelos governos estaduais e entregue à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

De acordo com o levantamento enviado à Reuters pelo Fórum de Governadores, vários medicamentos têm estoque de no máximo 20 dias na maior parte dos Estados. Entre os remédios estão neurobloqueadores que servem para relaxar a musculatura de pessoas que precisam ser entubadas, sedativos e medicamentos para dor.

Pelo levantamento do Fórum, 18 Estados estão com estoques muito baixos de neurobloqueadores, e há também risco de desabastecimento de oxigênio, como ocorreu no início do ano no Amazonas.

“Tratamos do assunto na agenda com a Anvisa e foi dito que estão acompanhando. Há risco de falta em várias regiões do país. Como somos um país continental, precisamos garantir segurança no abastecimento da rede hospitalar em todas as regiões e capacidade de fornecimento das indústrias do Brasil e também do que depende de importação”, disse à Reuters o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que coordena o grupo sobre a pandemia no Fórum de Governadores.

O Fórum deve divulgar ainda nesta quinta uma carta que será enviada ao presidente Jair Bolsonaro alertando sobre os riscos de escassez de medicamentos.

O Brasil se tornou o país do mundo com os maiores números de casos novos e de óbitos por Covid-19, ultrapassando os EUA, ao registrar mais de 2.000 mortes diárias e mais de 70 mil infecções por dia na média dos últimos sete dias.

Desde o início da pandemia, já são mais de 284 mil óbitos devido à doença, enquanto o país lida com o avanço de uma variante mais contagiosa surgida em Manaus e com o ritmo muito lento da vacinação contra a doença.

O sistema de saúde brasileiro entrou em colapso, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma vez que 25 das 27 unidades da federação têm lotação acima de 80% nas UTIs e 19 capitais estão com comprometimento acima dos 90%.

A questão dos medicamentos foi tema também de uma audiência da comissão temporária de Covid-19 no Senado. O relator do colegiado, senador Wellington Fagundes (PL-MT), alertou sobre a possibilidade de falta de medicamentos e de leitos para tratamento da doença.

“A que ponto chegamos nesta crise sanitária e hospitalar, senhoras e senhores? Enquanto isso… aguardamos a disposição do novo ministro da Saúde de estar aqui conosco para excluirmos muitas das dúvidas que temos sobre UTIs, vacinas, medicamentos e também sobre a falta de bloqueadores e sedativos para atender nos hospitais os pacientes que precisam de ser entubados”, disse.

“No começo da pandemia, fiz o alerta sobre essa situação e, felizmente, foi resolvida. Mas agora, com o agravamento da crise, com a ocupação máxima das UTIs, novamente o problema reaparece.”

O Ministério da Saúde foi consultado por e-mail, mas não respondeu.

Os ministérios públicos Federal, do Trabalho e do Estado do Paraná, em conjunto com as defensorias Públicas do Paraná e da União, encaminharam nesta quinta ofício ao secretário-executivo da pasta, Élcio Franco, requisitando informações sobre a atuação em relação ao desabastecimento de medicamentos para a entubação de pacientes nos hospitais paranaenses.

(Reportagem adicional de Ricardo Brito)

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