Economia

Equatorial Energia surpreende ao levar CEEE-D com única oferta em leilão

A Equatorial Energia venceu nesta quarta-feira o leilão de privatização da distribuidora de eletricidade CEEE-D, controlada pelo governo do Rio Grande do Sul, ao apresentar a única oferta pela companhia em pregão na bolsa B3.

O resultado surpreendeu, uma vez que analistas até esperavam participação da Equatorial, mas viam a CPFL Energia como a grande favorita e projetavam alguma disputa na licitação, como ocorreu em dezembro na venda da CEB-D, de Brasília, que atraiu três empresas e teve rodadas de lances em viva-voz.

A Equatorial ofereceu 100 mil reais pelos 65,9% do capital social da CEEE-D colocados à venda no certame desta quarta-feira, o dobro dos 50 mil estabelecidos como preço mínimo para uma empresa com dívida tributária junto ao Estado superior a 3 bilhões de reais.

A companhia, que tem gestoras como Squadra, Opportunity, BlackRock e Verde como acionistas, além da canadense CPPIB, de fundos de pensão, controla distribuidoras de energia no Maranhão, Pará, Alagoas e Piauí e agora estreará na região Sul.

O diretor de Regulação e Novos Negócios da Equatorial, Tinn Amado, disse a jornalistas após a licitação que a nova aquisição proporcionará “diversificação do risco” para o grupo.

“A gente atua em regiões do Norte, Nordeste, e a região Sul tem uma percepção de risco diferente, a parte de arrecadação é muito mais simples que a gente verifica em nossas concessões.”

Em sua história, a Equatorial se especializou em comprar elétricas cheias de dificuldades técnicas e financeiras por preços simbólicos, para depois investir em sua recuperação.

A distribuidora da empresa no Pará foi comprada por 1 real do Grupo Rede em 2012, enquanto unidades no Piauí e Alagoas foram adquiridas da Eletrobras por 50 mil reais cada em 2018.

Questionado, o diretor de Regulação da Equatorial disse que a situação atual da CEEE-D deve exigir algum aporte de recursos.

“Sim, a gente avalia, principalmente para reestruturar a dívida, só que isso vai depender de nossa entrada na concessão para a gente estabelecer qual o melhor momento para isso”, disse ele, sem comentar valores.

As ações da Equatorial subiam mais de 7% após o leilão, às 11:30 (horário de Brasília), enquanto o Ibovespa caía 0,03%.

SEM DISPUTA

A CPFL, que já tinha dito em diversas ocasiões ter interesse na elétrica gaúcha e foi apontada por analistas como principal competidora, acabou nem sequer se habilitando para o certame.

“A CPFL Energia, após avaliação do ativo CEEE-D, optou por não participar do leilão por entender que não houve equilíbrio entre risco e retorno, respeitando a disciplina financeira”, disse a empresa em nota à Reuters.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, comemorou os resultados e disse entender que a presença de apenas uma empresa no leilão deve-se a “uma série de fatores”, incluindo a concorrência por investidores com a privatização da CEB-D, realizada pelo governo do Distrito Federal em 2020.

Leite ainda rebateu críticas ao preço de 50 mil reais definido no leilão, destacando os passivos elevados da empresa.

“Isso precisa estar claro, porque alguém apressadamente poderia dizer que uma companhia está sendo vendida por 100 mil reais. Mas na verdade o que está sendo levado por 100 mil, além da obrigatoriedade de investimentos, é um conjunto de obrigações”, afirmou.

ICMS

O principal fator por trás do baixo preço da CEEE-D foi o patrimônio líquido negativo da companhia, que chegava a 4,8 bilhões de reais em meados de 2020, devido a 3,38 bilhões de reais em dívidas por ICMS como a administração estadual.

O presidente da CEEE-D, Marco Soligo, disse que cerca de 1,7 bilhão de reais dos débitos em ICMS ficarão com a CEEE-D após a desestatização e deverão ser quitados pela Equatorial.

Após a transferência do controle, a expectativa é que a elétrica passe a pagar integralmente o ICMS, de 1,3 bilhão de reais por ano. Hoje, a CEEE-D vinha conseguindo recolher apenas 30% do tributo, segundo Soligo.

DETALHES

A Equatorial disse em comunicado que, pelos termos do edital, deverá ter, até a data de conclusão da aquisição, direito de subscrever ações equivalentes a cerca de 94,9% do capital social da CEEE-D.

Além disso, a companhia deverá realizar uma oferta pública de aquisição (OPA) das ações restantes da CEEE-D.

Segundo o diretor de Regulação do grupo, isso deve ocorrer em 30 dias e a operação pode envolver a compra de papéis da empresa detidos por acionistas minoritários incluindo a estatal Eletrobras. A OPA terá preço equivalente a no mínimo 80% do preço de venda das ações no leilão.

(Por Luciano Costa)

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