Brasil

ANÁLISE-Bolsonaro busca reforçar apoio nas polícias com reforma ministerial

O presidente Jair Bolsonaro agitou a política brasileira e irritou os comandantes militares com uma reforma ministerial esta semana, mas uma poderosa base eleitoral está satisfeita: a polícia agora tem um deles administrando o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Ao escolher um policial, em vez de um advogado ou um servidor civil, Bolsonaro enviou uma mensagem clara sobre a lei e a ordem em tempos turbulentos, disse Wellington Corsino, que lidera uma associação de 134 mil policiais militares estaduais.

“Isso é muito bom, ter um presidente preocupado com políticas públicas na área de segurança num momento de conturbação, num momento de grande instabilidade política, instabilidade social, e instabilidade econômica”, disse Corsino.

“Talvez ele seja (o presidente) que mais se preocupa em atender o profissional de segurança pública no Brasil”, acrescentou.

A mudança reflete a profunda afinidade do capitão da reserva do Exército com os soldados uniformizados e um movimento com o objetivo de puxar as grandes forças policiais do Brasil, que incluem algumas das unidades que mais matam no mundo, para mais perto conforme seu mandato caminha em uma nova fase perigosa, de acordo com os observadores.

O Brasil enfrenta seu pior momento na pandemia de Covid-19, com seguidos recordes de mortes causadas pela doença e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez duras críticas ao governo, que chegaram a ser interpretadas até como uma possível ameaça de um processo de impeachment. Ao mesmo tempo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao jogo eleitoral.

A decisão do presidente de colocar seu ex-ministro da Casa Civil no comando do Ministério da Defesa e trocar os três comandantes das Forças Armadas surpreendeu oficiais militares do alto escalão, mas as relações com a polícia estão melhores do que nunca.

Com Anderson Torres, delegado da Polícia Federal próximo à família Bolsonaro, agora responsável pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presidente pode ficar de olho na Polícia Federal, nas prisões e na segurança pública nacional.

O presidente tenta assim também criar uma linha direta de comunicação com os cerca de 560 mil policiais estaduais e bombeiros, cujas posições políticas são amplamente alinhas com as de Bolsonaro, mostram pesquisas.

Esse meio milhão de homens e mulheres uniformizados tem provado ser uma força política potente, e nenhum presidente brasileiro na história recente jogou tanto para conquistar sua simpatia como Bolsonaro.

O presidente tem buscado aumentar as proteções legais para policiais que matam em serviço, enquanto afirma que os criminosos deveriam “morrer como baratas”.

Bolsonaro também tem participado de dezenas de cerimônias de formatura de novos policiais e cadetes militares, muitas vezes relembrando seus próprios dias de farda, abertamente nostálgico da ditadura militar.

No ano passado, durante uma greve policial no Ceará, Estado comandado pelo PT, Bolsonaro não quis criticar os policiais em greve, que demandavam salários maiores.

RISCOS DEMOCRÁTICOS

Os críticos de Bolsonaro temem que seu apoio às forças policiais estaduais, que respondem aos governadores, possa representar riscos democráticos em um momento de crescentes tensões políticas no país.

Grupos de direitos humanos e parlamentares da oposição há muito criticam a polícia brasileira pelo uso excessivo da força.

“Bolsonaro não precisaria dos militares para dar um golpe de Estado se puder contar com o apoio incondicional das bases das polícias militares. Ele poderia tornar os Estados governados por rivais politicamente ingovernáveis”, disse Ignácio Cano, especialista em segurança pública da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

A Presidência da República não quis comentar.

Marlon Jorge Teza, presidente de outra associação policial, a Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais (Feneme), disse que seus membros apoiam Bolsonaro, mas duvidou que a maioria o apoiasse caso ele se recusasse a aceitar os resultados das eleições de 2022. No entanto, ele reconheceu que alguns podem optar por seguir o presidente em tais “aventuras”.

“Você vai ter grupos isolados que vão fazer isso, poderão fazer isso. Não é algo de massa”, disse.

(Reportagem de Gabriel Stargardter)

((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447702)) REUTERS PVB AC

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