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Bosi procurou inventar uma visão do Brasil, diz Roberto Schwarz

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Alfredo Bosi, morto nesta quarta aos 84 anos após ser internado com Covid, era um dos principais críticos literários brasileiros, e sua partida provocou abalos entre a intelectualidade do país.

O crítico Roberto Schwarz, professor aposentado de teoria literária da Universidade de São Paulo e autor de “Ao Vencedor as Batatas” e “Um Mestre na Periferia do Capitalismo”, afirma que o acadêmico era “muito reconhecido, querido, influente”.

“O livro mais original dele é a ‘Dialética da Colonização’. A particularidade desse livro está em que ele procura dar uma compreensão do Brasil, sobretudo literária, a partir de um ponto de vista católico e de esquerda. Embora o Brasil tenha muitos católicos, a crítica literária é pouco católica. Ele teve o mérito de tentar desenvolver com originalidade uma crítica literária que materializasse esse ponto de vista.”

“No trabalho dele de historiador da literatura, sobretudo neste mais ambicioso, ele procurou inventar uma visão do Brasil. Que eu saiba, não tem ninguém parecido”, afirma Schwarz. “Para se ter uma ideia do alcance polêmico da posição, quem é obscurantista para ele são as elites brasileiras. É uma inversão da trajetória comum das luzes, dos ilustrados, que vê a religião como os obscurantistas. Ele virou a faca para o outro lado.”

O ensaísta José Miguel Wisnik, também um dos principais nomes da crítica brasileira, reitera a importância de Bosi para as gerações que o sucedem. “Um humanista democrático e de formação totalizante, como os tempos não produzem mais, empenhou o coração em tudo que fez e deixa um legado imenso para todos os que vivemos na contracorrente desses tempos difíceis.”

Antonio Carlos Secchin, imortal da Academia Brasileira de Letras assim como Bosi, o qualifica como “um dos maiores intelectuais do país” em postagem em rede social. “Ser humano da mais alta envergadura, de quem tive a alegria de ser amigo e a honra de tê-lo tido como um de meus mestres.”

Regina Dalcastagnè, pesquisadora e professora titular de literatura da Universidade de Brasília, afirma que “dificilmente um estudante de letras não passou por seus livros”. “Estamos todos enlutados e revoltados”, completou, atribuindo culpa ao governo Bolsonaro pelo crescente número de vítimas de Covid.

Silvio Almeida, professor de direito da Fundação Getulio Vargas e presidente do Instituto Luiz Gama, afirmou que com a morte de Bosi “o Brasil perde um de seus grandes intelectuais”. Para o jornalista e crítico cultural Sérgio Augusto, o professor emérito da USP era “nosso maior crítico e historiador literário depois de Antonio Candido”, morto em 2017.

O Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo, de que Bosi era professor emérito, emitiu uma nota de pesar pela morte do crítico literário.

“Sua vida foi marcada pela dedicação à docência, à literatura e à luta por um Brasil mais justo. Nesses tempos tão difíceis, o professor Bosi nos lega um exemplo de integridade, generosidade e resistência, e a certeza de que suas obras, que marcaram gerações de leitores e professores, permanecerão como modelos de inteligência e sensibilidade crítica.”

O reitor da universidade, Vahan Agopyan, afirmou que o professor, “por seu papel protagonista no campo da ciência e da cultura, é um dos responsáveis por forjar nossa instituição para que ela se tornasse essa liderança acadêmica que é hoje, com destaque nacional e internacional”, lembrando a época que dirigiu seu Instituto de Estudos Avançados. “Seu legado já está eternizado na história da USP”, completou.

O Museu da Língua Portuguesa também divulgou um comunicado lamentando profundamente a morte de Bosi, afirmando que ele “desenvolveu estudos indispensáveis sobre a literatura”.

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