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WIDER-IMAGE-Médico se veste de palhaço para atender pacientes na Cracolândia

(Galeria de fotos: https://reut.rs/3dBUnUB)

Por Amanda Perobelli

SÃO PAULO (Reuters) – Com seu jaleco de médico, o psiquiatra Flávio Falcone não conseguiu fazer pessoas em situação de rua falarem.

Mas vestido de palhaço, com nariz vermelho e tudo, ele se tornou um ícone da Cracolândia, uma área de cerca de oito quarteirões do centro histórico de São Paulo frequentada por usuários de drogas e traficantes.

Os pacientes de Falcone o conhecem como “O Palhaço”, não como um médico.

Ele trata um número crescente de pessoas empurradas às ruas pela pandemia de Covid-19, que devasta a economia do Brasil.

“Este personagem representa a exposição de erros, da fragilidade do que existe nas sombras. A exposição de fracassos”, disse Falcone.

“O que faz você rir é o palhaço que tropeça, não o palhaço que anda direito. As pessoas que estão nas ruas são os fracassos da sociedade capitalista.”

Falcone não é o palhaço de circo típico. Imbuído de cultura de rua hip-hop, ele usa uma corrente de ouro e um boné de aba reta e percorre as ruas acompanhado por um alto-falante que toca rap.

Trabalhando com a atriz Andrea Macera, Falcone usa as roupas e a música para quebrar o gelo com os moradores de rua como um primeiro passo para lhes oferecer o tratamento de saúde mental e para o abuso de drogas que necessitam. Durante a “hora do rádio” organizada por Falcone e Macera, os sem-teto da Cracolândia podem pedir canções e até fazer seu rap junto. Ao redor da praça pública, homens e mulheres se reúnem e acendem seus cachimbos de crack abertamente.

O trabalho feito por Falcone no bairro desde 2012 lhe rendeu um séquito fiel. Um homem que recebeu sua ajuda contra o vício tatuou a palavra “Palhaço” no pulso.

Em abril de 2020, um mês depois de a pandemia começar a assolar o Brasil, o governo fechou um abrigo no local no esforço de limpar o centro da cidade e abrir caminho para construções. O abrigo mais próximo fica a cerca de três quilômetros de distância.

Falcone e Macera ajudaram a encontrar moradia para cerca de 20 dos deslocados e a distribuir 200 barracas providenciadas por uma ONG. No final do ano passado, eles lançaram um novo programa batizado de “Teto, Trabalho e Tratamento” para oferecer apoio às pessoas em situação de rua com financiamento do Ministério Público do Trabalho.

A população em situação de ruas aumentou depois que o auxílio federal de 600 reais mensais aos pobres foi reduzido e depois suspenso no final de 2020. O auxílio voltou a ser pago este mês, com valor médio de 250 reais, mas a um número menor de pessoas.

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