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Mourão diz esperar que novo chefe da PF no AM atue como antecessor demitido em crise

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Conselho da Amazônia, vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), disse nesta sexta-feira (16) esperar que o novo chefe da Polícia Federal no Amazonas atue da mesma forma que Alexandre Saraiva, substituído pelo diretor-geral do órgão, Paulo Gustavo Maiurino, após atritos com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

“Saraiva é um cara sério, como a maioria dos delegados da Polícia Federal, a imensa maioria, é tudo gente séria”, disse Mourão, ao chegar à Vice-Presidência. “Espero que o próximo superintendente que vá assumir lá na Amazônia continue a empreender as mesmas ações que o Saraiva vem empreendendo.”

Mais tarde, em entrevista à rádio Gaúcha, Mourão afirmou que “quem for designado [para a vaga de Saraiva] continuará a atuar no mesmo diapasão”.

A decisão da demissão de saraiva foi revelada nesta quinta-feira (15) pelo Painel, da Folha, e confirmada no início da noite pela assessoria de imprensa da corporação, que passou por troca recente de comando no governo Jair Bolsonaro.

A mudança ocorre em meio a um atrito entre Saraiva e Ricardo Salles por causa da maior apreensão de madeira do Brasil, como mostrou a Folha nos últimos dias.

Na noite de quarta-feira (14), o delegado enviou uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal pedindo que o ministro fosse investigado sob suspeita de advocacia administrativa e de atrapalhar a fiscalização ambiental.

Oito líderes de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara dos Deputados enviaram representação ao Ministério Público Federal pedindo apuração sobre a demissão de Saraiva.

O conflito entre Alexandre Saraiva e o ministro do Meio Ambiente começou após uma visita de Salles ao local da apreensão, no Pará, para uma espécie de verificação da operação.

Saraiva criticou a atitude, dizendo ser a primeira vez que viu um titular da pasta se posicionar contra ação de preservação da floresta amazônica. “Na Polícia Federal não vai passar boiada”, disse Saraiva à Folha, usando termo utilizado por Salles em reunião ministerial do ano passado.

O delegado afirmou que tudo que foi apreendido desde dezembro do ano passado, mais de 200 mil metros cúbicos de madeira, é produto de ação criminosa.

Há mais de dez anos ocupando cargos de superintendente na PF (Roraima, Maranhão e Amazonas, agora), Saraiva declarou que as investigadas na ação não podem nem ser chamadas de empresas. “Trata-se de uma organização criminosa.”

O ministro apontou falhas na apreensão e defende que os madeireiros tenham oportunidade de se manifestar. À Folha disse que uma “demonização” indevida do setor vai contribuir para aumentar o desmatamento ilegal.

Mourão, que já teve divergências públicas com Salles, disse que o ministro é “um camarada extremamente articulado” e que tem uma visão “economicista” do meio ambiente.

“O ministro Ricardo Salles tem uma visão um pouco diferente da minha em algumas coisas. Mas ele tem uma determinação em relação à questão da economicidade, em relação àquilo que o Brasil já fez e pode fazer ainda. Ele considera que as nações que mais poluem têm que pagar isso para a gente. Concordo neste aspecto com ele”, afirmou à rádio.

Na entrevista desta manhã, Mourão disse ainda que o governo teme o uso político da CPI da Covid no Senado, mas que o general Eduardo Pazuello, demitido do Ministério da Saúde, deve estar se preparando e assessorando Bolsonaro para que se defendam, já que o objetivo da comissão parlamentar de inquérito é apurar a conduta do governo perante a crise.

“O governo tem suas preocupações pela exploração política que pode ser dada em cima dessa discussão. Isso vai servir de palanque para muita gente”, disse o vice-presidente.

“Mas eu julgo que, principalmente o ministro da Saúde que saiu, o Eduardo Pazuello, que é muito criticado, ele deve ter se preparado e está assessorando aí o presidente Bolsonaro para apresentarem as suas razões de defesa em relação àquilo que vai ser investigado na CPI”, declarou Mourão na entrevista.

A comissão foi criada na terça-feira (13) e deve ser instalada na próxima semana para que comece a funcionar.

CRONOLOGIA DA DISPUTA ENTRE PF E MINISTRO

OPERAÇÃO

Em dezembro de 2020, a Polícia Federal realizou uma ação na divisa do Pará com o Amazonas que culminou na maior apreensão de madeira nativa da história do Brasil. Agentes retiveram 131,1 mil m3 de toras, volume suficiente para a construção de 2.620 casas populares.

A operação começou após a apreensão de uma balsa com 3.000 m3 de madeira com documentação irregular no rio Mamuru, município de Parintins (AM), em 16 de novembro de 2020.

A MADEIRA

O processo de transporte da madeira apreendida é complexo. Por isso, as Forças Armadas faziam a segurança do material. Entretanto, em um ofício enviado à PF no dia 19 de fevereiro, o chefe do Estado-Maior do Comando Conjunto Norte do Exército informou que os militares deixariam os locais nos quais a madeira apreendida está guardada para retornar às suas sedes.

Em resposta ao Exército, a PF ameaçou abrir inquérito contra militares que se retirassem da operação. Na época, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que as tropas iriam deixar o local no dia 6 de março. Ele afirmou ao Painel que a PF errou por ter feito um documento em que ameaçava abrir inquérito contra os militares que se retirassem do local.

VISITAS DO MINISTRO

Ricardo Salles (Meio Ambiente) foi na quarta-feira, 31 de março, ao Pará, onde fez uma espécie de verificação da operação. Salles aponta falhas na ação e tem dito que há elementos para achar que as empresas investigadas estão com a razão. Ele voltou uma semana depois, quando participou de um encontro com proprietários do material.

O ministro criticou a demora para a investigação ser concluída e afirmou que as informações dos empresários são “coerentes de não haver a propagada ilegalidade.”

ATRITO ENTRE PF E SALLES

Em entrevista à Folha, o chefe da PF do Amazonas, Alexandre Saraiva, disse que é a primeira vez que vê um ministro do Meio Ambiente se manifestar de maneira contrária a uma ação que visa proteger a floresta amazônica.

Saraiva declarou que tudo que foi apreendido desde dezembro do ano passado, mais de 200 mil metros cúbicos de madeira, é produto de ação criminosa. Ele afirmou também que as empresas até agora não apresentaram documentos requisitados pela PF.

Saraiva, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime em que pede investigação das condutas de Salles e do senador Telmário Mota (Pros-RR) por atrapalhar medidas de fiscalização. No documento, o policial diz que Salles dificulta fiscalização ambiental e patrocina interesses privados.

“Na Polícia Federal não vai passar boiada”, disse, usando termo utilizado por Salles em reunião ministerial do ano passado.

TROCA NO COMANDO DA PF

Nesta quinta-feira (15), o Painel revelou que o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, decidiu tirar Alexandre Saraiva do cargo. Ele escolheu o delegado Leandro Almada para substituí-lo. O policial foi o número 2 da gestão de Saraiva e comandou o grupo de investigações ambientais na superintendência.

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