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Animais vistos no rio Pinheiros criam expectativa de despoluição com plano “ambicioso”

O recente avistamento de animais como peixes, marrecos e garças em um trecho do rio Pinheiros, em São Paulo, produziu expectativas de que a despoluição do curso d’água enfim ocorra e, com isso, que a vida retorne gradualmente ao local.

O governo do Estado de São Paulo possui um projeto –visto por especialistas ouvidos pela Reuters como “ambicioso”– de despoluir o Pinheiros até o final de 2022, baseado principalmente em iniciativas de saneamento voltadas aos afluentes do rio.

Embora esses especialistas acreditem que soluções possam de fato ser vistas no prazo estipulado, com melhora na oxigenação da água e redução no mau cheiro do Pinheiros, a despoluição completa continua sendo vista como um horizonte de longo prazo.

“O que deve acontecer é diminuir o cheiro ruim… Reduzir o indicador DBO (demanda bioquímica de oxigênio) é perfeitamente possível, porque se trata o esgoto e, por consequência, a qualidade desse rio vai melhorar”, disse Gustavo Veronesi, coordenador do projeto Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica.

“Mas despoluído, um rio em que as pessoas vão nadar, encostar nesse rio e não contrair doença, eu não sei se vai acontecer em 2022… O processo de despoluição de um rio é muito lento”, acrescentou.

O que explica a visualização de peixes e aves, segundo os especialistas, é a qualidade de um dos afluentes do rio Pinheiros: o Córrego do Sapateiro –que forma inclusive o lago do Parque do Ibirapuera antes de desaguar no Pinheiros.

Como as águas desse afluente são bem tratadas, permitindo a presença de vida, é comum que peixes escapem pela galeria do córrego em direção ao Pinheiros. Dessa forma, os animais chegam ao rio, mas não vão muito além da região do Parque do Povo, pois acabam se concentrando no curto trecho em que a foz do Sapateiro melhora a qualidade das águas do rio Pinheiros.

De acordo com o geógrafo Luiz de Campos, da Rios e Ruas, a presença de peixes e garças neste trecho do rio é conhecida há muito tempo. O que mudou, disse ele, foi que a população enfim conseguiu avistá-los –o que se deve muito a outro fator relacionado ao projeto de despoluição: a reaproximação entre as pessoas da cidade e o curso d’água.

As imagens de peixes nadando no Pinheiros viralizaram na internet após filmagem realizada por uma pessoa que passava pela ciclofaixa instalada às margens do rio. A modernização do espaço, que além do trajeto para ciclistas também conta com cafés, constrói essa “ponte” entre o rio e a população, contribuindo para uma maior atenção à qualidade das águas, destacou Campos.

“Esse resultado dos peixes vistos foi só um momento em que um senhor, um ciclista, estava passando e conseguiu ver e filmar… Mas é muito importante, porque faz com que as pessoas se animem, mostra para os paulistanos em geral que não é impossível, não é uma coisa utópica”, afirmou ele.

“Uma dedução que a gente pode tirar disso é que qualquer melhoria que a gente consiga fazer no rio, a vida é muito resiliente, ela está ali aguardando para de novo poder ocupar o rio, florescer e melhorar a qualidade das águas”, completou.

SANEAMENTO

Entre os especialistas, é consenso que o principal caminho para a despoluição passa pelo saneamento –que, por sua vez, envolve também a resolução de problemas de moradia nas áreas por onde passam afluentes do Pinheiros.

Campos, que vê de forma positiva o atual projeto do governo estadual para limpeza do curso d’água, destacou que é importante manter os olhos abertos para as periferias, já que o processo de despoluição, com início nas cabeceiras, precisa beneficiar justamente essas regiões.

Dados da Rios e Ruas indicam que cerca de 200 mil moradias, de um total projetado de 500 mil, já têm sido atendidas pelo projeto.

“Achar que o rio Pinheiros vai estar clarinho, a gente nadando em 2022, absolutamente não vai ser possível… Mas se ele cheirar bem, se tiver peixe, se tiver barcos, já é uma qualidade incrível”, disse o geógrafo.

“E se isso está acontecendo com o rio, quer dizer que em todas as suas cabeceiras também vai estar.”

Veronesi, da SOS Mata Atlântica, segue uma linha semelhante, ressaltando que não é possível resolver o problema de saneamento sem que seja resolvido o problema de moradia.

“Mas isso levaria muito mais tempo do que 2022”, opinou, alertando que nesse caso a pressa pode ser inimiga da perfeição, já que muitos dos córregos que passam por periferias seriam tratados diretamente, e não com instalações de saneamento nas casas.

Em entrevista à Reuters, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que a despoluição do rio Pinheiros é o maior projeto ambiental do país em termos de investimentos, envolvendo 4 bilhões de reais.

Segundo ele, já houve a retirada de 30 mil toneladas de lixo diretamente da superfície do rio, enquanto as obras realizadas em comunidades com afluentes do Pinheiros resultaram na eliminação de outras 253 toneladas de lixo.

Doria celebrou o fato de que, mesmo antes da conclusão do projeto, cerca de 85 mil pessoas passem por mês pela ciclofaixa instalada às margens do Pinheiros.

“As pessoas já estão convivendo com o rio… Mas ainda temos um longo trabalho pela frente.”

(Reportagem adicional de Eduardo Simões)

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