Agro

Abiove vê cenário desafiador para contratos de milho no Brasil com quebra de safra

As tradings podem ter pela frente um cenário desafiador quanto ao cumprimento de contratos de milho pelos produtores, em meio à quebra da segunda safra do cereal e forte alteração nos preços no Brasil, disse nesta quarta-feira o presidente da associação da indústria Abiove, André Nassar.

“Os contratos (em geral) passam a ser discutidos quando há uma quebra de safra relevante e podem gerar insatisfação quando você tem diferença de preço grande… no milho temos esses dois problemas”, afirmou o executivo durante webinar promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Ele disse que na soja, por exemplo, houve uma preocupação no setor neste ano de que a inadimplência fosse grande devido ao atraso na safra, mas somente 0,5% dos contratos foram quebrados –em que o grão não foi entregue.

“Estamos falando em universo das associadas da Abiove e Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) que na soja foi coisa acima de 100 mil contratos. Deste total, identificamos 1,5% com algum tipo de problema, sendo a inadimplência 0,5%, e o resto foram contratos que abriram algum tipo de negociação, que pode ser renegociação, mas houve entrega.”

Nassar ressaltou que a inadimplência foi considerada baixa nos contratos da oleginosa, mas que também foram vistos diversos casos em que as companhias precisaram acionar o departamento jurídico para conseguir fazer a retirada do produto na fazenda.

“Nós como tradings, a nossa visão é que se você não tem problema de produção, esse contrato deve ser honrado, deve ser cumprido”, disse.

Vale destacar que, em geral, as tradings associadas à Abiove para a soja são as mesmas que negociam milho.

O cereal da segunda safra foi plantado em grande parte fora da janela ideal devido a um atraso na colheita da soja, e atravessou grandes períodos de seca durante seu desenvolvimento. O mercado agora espera uma quebra para a produção de milho, e os preços mais que dobraram ante o ano passado –daí o risco para os negócios já fechados.

O presidente da Abiove disse que as tradings “evidentemente” querem se proteger de quebras nos contratos e uma das preocupações é a necessidade de incorporação de mais garantias para que haja o cumprimento pelo produtor rural.

Ele afirmou que, em situações extremas, também é possível negociar caso a caso, até permitindo a entrega do produto na safra seguinte.

Também presente no evento, o agricultor e representante da CNA nas câmaras setoriais de soja e de biodiesel do Ministério da Agricultura, Moises Almeida Schmidt, defendeu que os contratos de venda de grãos sejam reformulados a cada ano, “para que haja um entendimento de cada safra”.

“Estamos em um momento perfeito de discussão de melhoria de contrato e também como vamos tratar a parcela de produtores que age de má fé”, afirmou ele, citando que alguns agricultores optam por não entregar o grão para se beneficiar de preços melhores de venda no spot. Para ele, estes compõem a parcela de 0,5% inadimplentes na soja.

(Por Nayara Figueiredo; edição de Roberto Samora)

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