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Nunes quer cargos para amigos dos amigos, diz vereador de seu partido

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Eu acho que o Ricardo Nunes está andando muito com João Doria [PSDB}, fazendo marketing pra caramba”, diz um vereador em tom exaltado na Câmara de São Paulo. “O prefeito está preocupado em criar cargos para ajudar os amigos dos amigos, então vou votar contra esse absurdo.”

O discurso era relacionado a um projeto de lei de criação de cargos com salários de até R$ 13 mil na Secretaria da Educação, uma das prioridades do governo, que acabou aprovado. O tom adotado soa como de um dos vereadores da oposição, mas saiu da boca de um parlamentar do próprio partido do prefeito.

O vereador Delegado Palumbo (MDB), mais votado na legenda de Ricardo Nunes na Casa, faz críticas duras à gestão do prefeito emedebista e causou incômodo ao votar contra dois dos principais projetos do Executivo.

Sob a batuta de Milton Leite (DEM), a base de Nunes está azeitada na Câmara, a ponto de vereadores de oposição dizerem que a boiada está passando, ao verem os projetos do Executivo serem aprovados em massa. O partido do prefeito, porém, tem pequena expressão na cidade e bancada mirrada de apenas três vereadores, o que faz com o que ele dependa principalmente do PSDB e de Leite.

Palumbo é o político de mais peso eleitoral da legenda na Casa, com mais de 100 mil votos. O próprio Nunes, quando foi eleito pelo vereador pela última vez, em 2016, teve pouco mais da metade dos votos de Palumbo.

À reportagem o político que veio da Polícia Civil paulista disse que já recebeu pedidos de vereadores do MDB para dar uma maneirada. Nunes não reclamou pessoalmente, mas, segundo o vereador, chegou a ele que o prefeito está insatisfeito com seus votos.

“Se eles estão incomodados, eles que me expulsem. Vou levando meu mandato, de forma independente”, diz.

Antes das críticas de Palumbo, Nunes já havia enfrentado certa indisposição de parte da bancada tucana. Além disso, algumas nomeações feitas pelo prefeito também geraram mal estar entre os aliados. No entanto, todos deixaram as críticas para os bastidores.

Na Câmara, Palumbo engrossa o argumento dos vereadores da oposição, que acusam o Executivo de enviar projetos de última hora que passam feito “trator”. “A Câmara não pode ser um puxadinho para gente votar o que eles querem, do jeito que eles querem, como eles querem.”

O projeto citado na Educação é voltado à criação de 15 cargos de assessor e subsecretários, para atuar como gestores. Nunes sancionou o projeto nesta quarta-feira (21).

A base do prefeito afirma que é necessário haver esse tipo de profissional para manter uma máquina com orçamento bilionário como a da pasta paulistana. A crítica que se fez na Casa, porém, foi a de que os cargos, de livre nomeação, que exigem ensino superior sem especificar a área, foram feitos por encomenda para acomodar aliados.

Nunes, por exemplo, como vereador, tinha influência conhecida nas creches terceirizadas na zona sul da cidade. Essas entidades prestam contas à Secretaria da Educação.

Outro projeto-chave contra o qual Palumbo se posicionou foi relativo à autorização para empréstimos de até R$ 8 bilhões, projeto do Executivo que acabou aprovado sob críticas de que seria um cheque em branco para reeleger Nunes em 2024.

“Também não se fala nada para onde vai esse dinheiro. Teria que especificar para onde está indo tanto dinheiro”, disse Palumbo.

Questionado sobre como avalia a Nunes à frente do cargo, disse que o prefeito acabou de assumir e precisa de algum tempo. “Mas agora a gestão é Ricardo Nunes. A gente tem que respeitar a memória [de Bruno Covas], mas a gestão é Ricardo Nunes e MDB. É ele que está respondendo, é o dono da caneta e a responsabilidade vai cair nele.”

Entre os pontos em que cobra melhoria na gestão estão a fiscalização de desmanches. Também critica o sucateamento da GCM (Guarda Civil Metropolitana), para a qual cobra novas armas.

Questionada sobre as críticas do vereador, a assessoria do prefeito disse que ele “preza pela democracia e respeita a independência entre os Poderes”. “O vereador Delegado Palumbo pode discordar dos projetos encaminhados pelo Executivo como, da mesma forma, já votou favorável a 8 dos 10 projetos apresentados pela administração municipal”, acrescenta a nota.

Antes da política, Palumbo, delegado do Garra (grupo de elite da Polícia Civil), era o tipo de policial conhecido nas redes sociais. Palumbo é hoje o único representante da chamada bancada da bala, que já andou maior na Câmara Municipal paulistana. Ele entrou para a política a convite do amigo e apresentador da Band José Luiz Datena, que foi cotado à vaga de vice de Covas.

Datena também anda disparando contra o prefeito durante seus programas na Band. Ele chegou a acusar Nunes de covardia, ao supostamente fazer uma indireta a ele. “Se não fosse eu, nem prefeito você seria, porque eu seria o vice do Bruno. Nem prefeito você seria. Você caía na avenida Paulista, ninguém sabia quem você era. Quando quiser falar meu nome, fala abertamente, não covardemente como você colocou”, disse o apresentador.

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