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Recall na Califórnia testa se aversão ao trumpismo segue capaz de mobilizar democratas

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Os eleitores da Califórnia vão às urnas nesta terça (14) para decidir se o governador democrata Gavin Newson deve seguir no cargo ou não, em um pleito no qual o trumpismo e os democratas voltam a medir forças pela primeira vez desde a conturbada eleição de 2020.

O estado tem um mecanismo chamado “recall”, uma votação para manter ou retirar o governador de seu cargo antes do fim do mandato. Não é preciso ter uma razão específica: basta obter assinaturas de no mínimo 12% do eleitorado, em ao menos cinco condados diferentes, para iniciar o processo.

Assim, os moradores do estado terão de responder nas cédulas se o governador deve ou não ser removido. Caso considere que sim, o eleitor deve apontar em seguida quem deve tomar o posto. Há 46 candidatos na disputa, e o principal nome entre eles é o do republicano Larry Elder, um apresentador de rádio.

Newson é criticado pelos republicanos por ter adotado medidas duras no combate à Covid, como determinar o fechamento de estabelecimentos por longos períodos e exigir o uso de máscaras. O governador responde às críticas citando o fato de que a Califórnia conseguiu baixar o total de novos casos nas últimas semanas, e está em situação bem melhor do que a de alguns estados geridos pelo partido rival.

Elder diz que as medidas foram arbitrárias e extremas. “Gavin Newsom fechou este estado, de um jeito mais severo do que fizeram os outros 49 governadores”, acusou o republicano, em um comício.

Os democratas costumam ter vitórias confortáveis na Califórnia há décadas, e a expectativa é que o resultado se repita agora. Pesquisas apontam que Newsom deve permanecer no poder e obter em torno de 60% de apoio.

As urnas fecham às 20h (meia-noite em Brasília), e uma parcial dos votos enviados antecipadamente pelo correio deve ser divulgada logo depois disso. Todos os 22 milhões de eleitores receberam cédulas pelo correio, e ao menos 8,7 milhões deles haviam enviado seus votos desta forma até a noite de segunda (13).

No entanto, os resultados finais devem levar dias. As regras atuais determinam que cédulas que chegarem pelo correio até três dias depois do pleito devem ser contadas.

Tanto democratas quanto republicanos usaram o recall para mobilizar suas bases de apoiadores, o que deu caráter nacional à disputa. Uma das táticas para atrair eleitores foi acenar com a ameaça de que uma derrota local poderia impulsionar uma possível volta de Donald Trump ao poder. “O trumpismo ainda está na urna”, disse Newson durante um comício na segunda.

O presidente Joe Biden foi até a Califórnia e fez campanha para Newson, em um sinal de que a confiança democrata na vitória é grande. “A decisão que vocês vão tomar não terá apenas impacto na Califórnia. Irá reverberar por toda a nação”, disse Biden. O presidente também atacou Elder e o chamou de “clone de Donald Trump”.

Além do presidente, outras figuras de peso do partido, como a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Barack Obama, além do senador independente Bernie Sanders também deram apoio público ao governador.

Outro ponto que deu peso à disputa é que o governador da Califórnia tem poder para nomear um novo senador, caso uma das vagas do estado fique em aberto. Uma das parlamentares da Califórnia, a democrata Dianne Feinstein, tem 88 anos. Caso ela deixe o cargo e um governador republicano esteja no poder, ele poderia indicar um nome do partido e, assim, passar a ter maioria no Senado, hoje dividido entre 50 parlamentares democratas e 50 republicanos –o voto de desempate é da vice, Kamala Harris, mas só pode ser usado em algumas circunstâncias.

A Califórnia tem muitos moradores de origem latina –cerca de 30% dos eleitores registrados–, que se afastaram dos republicanos por causa do discurso anti-imigração. Assim, com poucas chances de vitória, poucos membros de peso da legenda fizeram campanha na Califórnia, mas alguns adotaram táticas trumpistas, como questionar o sistema de votação. Elder, por exemplo, se recusou a dizer se aceitará o resultado das urnas.

A esperança republicana é que apoiadores democratas tenham comparecimento baixo nas eleições. Assim, a votação na Califórnia serve para aferir se a aversão ao trumpismo segue capaz de mobilizar eleitores democratas a irem votar, como ocorreu em 2020.

Eleito em 2018, Newsom tem mandato até janeiro de 2023. Mesmo que vença agora, terá de disputar a reeleição normalmente no ano que vem. Se ele vencer o recall por vantagem pequena, perderá força para disputar um novo mandato. Se ganhar por muito, terá um bom impulso para 2022, inclusive para disputar cargos federais.

Votações de recall são comuns na Califórnia, mas até hoje apenas uma vez um governador perdeu o cargo dessa forma. Em 2003, o democrata Gray Davis deu lugar ao republicano Arnold Schwarzenegger.

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