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Crise hídrica gera pacote de socorro para cidades banhadas por Furnas

CAPITÓLIO, MG (FOLHAPRESS) – Turistas deixaram de frequentar cidades, pescadores passaram a ter prejuízos com sua atividade. Hotéis ficaram vazios e agricultores familiares têm dificuldade para irrigar suas lavouras.

Esses são alguns dos exemplos dos prejuízos apontados nas cidades mineiras banhadas pelo lago da hidrelétrica de Furnas, que a cada dia vê seu volume útil reduzir com a escassez hídrica. Um pacote de medidas para auxiliar os municípios foi anunciado pela empresa.

O chamado “Mar de Minas”, que em alguns pontos viu a água sumir e áreas de pastagem surgirem em seu lugar, é responsável por cerca de 50 atividades econômicas em seu entorno, segundo prefeituras, Alago (Associação dos Municípios do Lago de Furnas) e o comitê da bacia hidrográfica. O recuo da água chegou a 8 quilômetros em cidades como Alfenas e Areado.

Para não prejudicar as atividades econômicas, entidades e o setor turístico afirmam que o volume útil do reservatório deveria ficar acima de 55%, mas na última quinta-feira (7) estava em apenas 13,76%, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema). Setembro teve o pior índice para o mês desde 2001, quando o país passou por racionamento de energia elétrica.

Em reunião em Alfenas em que se discutiu o cenário atual da região, o presidente de Furnas, Clovis Torres, anunciou medidas para auxiliar os municípios, que incluem programas para pescadores e o setor de turismo, renovação de balsas e reabertura do escritório da empresa em Belo Horizonte (MG). As cidades pediram também a construção de diques.

“Nosso objetivo aqui é trazer uma palavra de conforto e mais atenção à região, com medidas imediatas, como a total renovação das balsas, pois atende todas as prefeituras que possuem atividades no seu dia a dia na travessia da população”, disse Torres durante a reunião.

Segundo a empresa, já teve início a fase de inscrição para o programa assistencial aos pequenos piscicultores e pescadores artesanais dos reservatórios de Furnas e Peixoto.

“A empresa também está na fase de contratação de um rebocador e reforma de balsa que irão auxiliar no transporte de carros e passageiros entre os municípios de Cássia e Delfinópolis”, diz Furnas.

O reservatório está mais de 8 metros abaixo do considerado ideal. A água estava em 753,88 metros acima do nível do mar na quinta-feira (7), enquanto as prefeituras e a associação defendem a chamada cota 762. O nível mínimo de operação da barragem é 750 m.

Minas Gerais anunciou o início do processo de tombamento do lagos de Furnas, o que manteria a água no nível desejado pelas prefeituras e permitiria praticamente todas as atividades hoje prejudicadas. O governo Jair Bolsonaro (sem partido), porém, ingressou com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) questionando a lei de Minas que definiu o reservatório como patrimônio estadual.

“O presidente de Furnas reconheceu que há um passivo da empresa com a região, que teve suas melhores terras alagadas ao longo dos anos, e disse que buscaria formas alternativas [para ajudar]. Com a água, ficamos sem a terra fértil da produção agrícola que existia [no passado] e, agora sem água, prejudicados em setores como o turismo”, disse Fausto Costa, secretário-executivo da Alago e vice-presidente do comitê da bacia.

As atuais nove balsas usadas no transporte entre as cidades têm mais de 60 anos, segundo ele. Só em Guapé são três, já que o município teve a sua sede dividida de distritos rurais com a criação do reservatório.

“A cota 762 é nossa principal ação. Se estabelecesse a geração de energia da 762 para cima, isso representaria mais de 50% do volume útil, e poderia oscilar até 768 m [máximo], e não deixar entre 750 e 762, como é hoje.”

A construção de pequenos diques nas pontas do lago, na avaliação da associação de municípios, não prejudicaria o ambiente nem o turismo e a água poderia ser usada pelas cidades para abastecimento.

Em audiência pública da comissão de meio ambiente e desenvolvimento sustentável da Assembleia Legislativa mineira, no último dia 29, dirigentes de Furnas disseram que a empresa cumpre “as determinações dos órgãos reguladores na operação dos empreendimentos hidrelétricos sob sua concessão”.

“Os níveis dos reservatórios e a energia despachada são programados pelo ONS, responsável por operar o conjunto de reservatórios brasileiros de forma integrada, com o objetivo de garantir a segurança energética”, disse a empresa ao jornal Folha de S.Paulo.

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