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Em forma de streaming, plataforma oferece educação antirracista e feminista

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O abismo salarial entre homens brancos e mulheres negras -elas recebem em média menos da metade do que eles, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)- é um dos dados citados no curso Discriminação e Relações de Trabalho, lançado na segunda-feira (4) na plataforma Feminismos Plurais.

Ministrado pela advogada Bruna Fernandes Marcondes, mestranda em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o 11º curso da plataforma aborda formas de discriminação no mundo corporativo, com ênfase no racismo institucional, na violência de gênero e na sobreposição de ambos ao limitar a entrada, a permanência e o crescimento de mulheres negras no mercado de trabalho.

Inaugurada em junho de 2020, a plataforma Feminismos Plurais foi idealizada por Djamila Ribeiro, mestre em filosofia política pela Unifesp, e é considerada um serviço de streaming de educação antirracista e feminista.

“Não queríamos que fosse um curso estático online, queríamos algo diferente do que estava no mercado. Nosso objetivo é de formação, letramento racial, e isso só pode ocorrer de maneira contínua”, afirma Djamila, que começou a pensar no modelo da plataforma em 2019.

Embora seja um complemento audiovisual da coleção de livros organizada pela autora, o streaming oferece conteúdos extras, mesmo quando os títulos das obras e dos módulos coincidem.

“Se o curso é uma extensão do livro, trazemos novos elementos e reflexões para enriquecer o tema”, diz Tiago Vinicius André dos Santos, coordenador pedagógico da plataforma e doutor em direitos humanos pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Definidos em reuniões mensais da coordenação pedagógica, os temas abordados também se conectam com as atualidades -há, por exemplo, um curso sobre segurança pública com base na operação mais letal da história do Rio de Janeiro, que vitimou 28 pessoas na favela do Jacarezinho em maio de 2021.

“Os acontecimentos externos influenciam a plataforma, mas, ao mesmo tempo, a plataforma quer influenciar o debate”, afirma Santos.

Djamila e Santos afirmam que, como o objetivo do projeto é democratizar o acesso à educação antirracista e feminista de forma didática, não há um público-alvo específico.

O perfil mais comum de aluno, segundo Djamila, é o de jovens e estudantes, podendo ser tanto professores ou pesquisadores dos temas debatidos nos conteúdos da plataforma quanto pessoas leigas no assunto, que assinam o serviço para aprender alguns conceitos.

“É sempre importante tirar o tema de alguns guetos, de bolhas como a do ativismo ou da academia”, diz.

Outro objetivo é qualificar o debate sobre antirracismo, intensificado nas redes sociais desde o assassinato do americano George Floyd por um policial branco, em maio de 2020 nos Estados Unidos.

“Estamos falando de uma plataforma de ensino a distância coordenada por pessoas negras, isso reflete também nossa capacidade de nos reinventarmos para resistir às opressões raciais. Se a opressão vai acontecer no contexto virtual, nós precisamos também estar lá”, afirma Santos.

Os conteúdos são construídos a partir de referências diversas de autores para, segundo Djamila e Santos, romper com o processo de epistemicídio -ou seja, de apagamento de conhecimentos produzidos por pessoas negras- e incentivar novos pesquisadores.

“Somos um quilombo virtual e o quilombo é vivo, precisa dialogar. É interessante visibilizar a intelectualidade negra, mas também fazer com que ela acesse a academia para que, por sua voz, possa escrever, oxigenar um ambiente acadêmico que é tão eurocentrado”, afirma Santos.

Com assinatura mensal de R$19,90, a plataforma é atualizada semanalmente. Hoje, oferece 11 cursos gravados em estúdio, 92 artigos e 30 aulões com convidados. Alguns conteúdos podem ser acessados gratuitamente, como o podcast Onda Negra, disponível no Spotify e no Deezer, e alguns aulões gravados no canal da Feminismos Plurais no YouTube.

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