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Kyle Rittenhouse diz que apoia Black Lives Matter após matar dois em ato antirracista

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em sua primeira entrevista desde que foi inocentado na última sexta-feira (19), Kyle Rittenhouse, que atirou em três homens e matou dois deles durante um ato antirracista nos EUA em agosto de 2020, disse ao canal de TV americano Fox News que não é racista e que apoia o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam).

O jovem branco de 18 anos falou ao apresentador conservador Tucker Carlson, em entrevista exibida na noite desta segunda-feira (22).

“Este caso não tem nada a ver com raça. Nunca teve nada a ver com raça. Teve a ver com o direito à autodefesa”, afirmou. “Eu não sou uma pessoa racista. Apoio o movimento Black Lives Matter, apoio protestos pacíficos, acredito que as coisas precisam mudar”.

Kyle Rittenhouse foi julgado por ter atirado com um fuzil AR-15 em Joseph Rosenbaum, Anthony Huber e Gaige Grosskreutz —os dois primeiros morreram devido aos ferimentos. À época, ele tinha 17 anos.

Os atos em Kenosha, em Wisconsin, começaram após Jacob Blake, um homem negro, ser baleado pelas costas por um agente branco durante uma abordagem policial dois dias antes, em uma ação filmada por testemunhas. Três meses antes, George Floyd havia sido assassinado por outro policial branco.

Rittenhouse morava em Antioch, no estado de Illinois, a cerca de 33 km de Kenosha. Ele cruzou a divisa até o estado vizinho em resposta ao chamado de grupos formados majoritariamente por pessoas brancas, que se organizaram nas redes sociais para convocar ativistas contrários à pauta dos protestos. Esses grupos alegavam proteger propriedades de saques e depredações durante as manifestações.

Imagens gravadas por testemunhas registraram o momento em que manifestantes tentam desarmar Rittenhouse após ele atirar em um deles. O adolescente então dispara novamente contra o grupo.

Na entrevista, Rittenhouse afirmou que queria que o episódio em Kenosha não tivesse acontecido. “Eu fiz [atirei contra os manifestantes], não podemos mudar isso. Mas o nível de polarização que isso tomou é absolutamente doentio. À direita ou à esquerda as pessoas estão me usando por uma causa”, disse.

Para ele, “não era Kyle Rittenhouse no julgamento em Wisconsin, mas sim o direito à autodefesa”, e “se fosse condenado ninguém teria o privilégio de defender seu direito à vida.”

Ele ainda afirmou que “tem sido extremamente difamado” e que seus advogados vão cuidar disso, indicando que deve começar a entrar com processos. Rittenhouse disse que pretende se mudar para algum estado do Meio-Oeste dos Estados Unidos e começar um curso de direito —e não mais de enfermagem, como planejava antes do episódio.

No julgamento, Rittenhouse havia dito que seu objetivo era oferecer ajuda médica a feridos —ainda que estivesse com um fuzil AR-15, de porte proibido para menores de 18 anos em Wisconsin. Questionado, ele respondeu que havia levado a arma para proteção própria.

A Fox News, rede de TV americana conservadora, afirmou que vai estrear, em dezembro, um documentário a respeito do caso.

Rittenhouse foi inocentado de duas acusações de homicídio, uma de tentativa de homicídio e duas de ameaça à segurança pública. Dezenas de manifestantes protestaram do lado de fora do tribunal, alguns com cartazes em apoio ao réu e outros expressando decepção.

O presidente Joe Biden, que durante a campanha eleitoral publicou um vídeo no Twitter que parecia ligar Rittenhouse a supremacistas brancos, buscou pacificar a situação pós-julgamento. “O veredicto pode deixar muitos americanos bravos e preocupados, mas precisamos entender a palavra do júri”, disse. “Peço que todos manifestem suas opiniões em paz, dentro da lei.”

A absolvição, porém, foi recebida com indignação por muitos no espectro político de esquerda. “É inescrupuloso que nosso sistema de Justiça permita que um justiceiro armado… saia em liberdade”, afirmou, em comunicado, o Congressional Black Caucus, bancada de parlamentares negros.

Já os conservadores viram o veredicto como uma validação da Segunda Emenda da Constituição dos EUA, que concede aos americanos o direito de portar armas. O congressista Madison Cawthorn, representante republicano da Carolina do Norte, escreveu no Instagram: “Kyle Rittenhouse não é culpado, meus amigos. Vocês têm o direito de se defender. Estejam armados, sejam perigosos e sejam morais”.

CASO AHMAUD ARBERY

Nesta terça (23) deve começar a deliberação do júri responsável pelo caso de três homens brancos que perseguiram e mataram, no ano passado, Ahmaud Arbery, jovem negro que saiu de casa em um domingo à tarde para correr em um bairro de maioria branca no subúrbio da cidade de Brunswick, na Geórgia.

O caso aconteceu em fevereiro de 2020. Arbery estava desarmado e foi morto com um tiro de uma espingarda disparado por um morador, que o perseguia junto com o pai e um vizinho.

Gregory McMichael, 65, seu filho Travis McMichael, 35, e o vizinho William “Roddie” Bryan, 52, declararam-se inocentes das acusações, que incluem assassinato, agressão qualificada e cárcere privado. Eles alegam legítima defesa.

“Eles tomaram a decisão de atacar Ahmaud Arbery em suas calçadas porque ele era um homem negro correndo pela rua”, disse a promotora Linda Dunikoski em argumentações anteriores. Eles o mataram “não porque ele era uma ameaça para eles, mas porque ele não parava de falar com eles”, afirmou.

Os acusados disseram que pensaram que Arbery poderia estar por trás de roubos recentes que aconteceram na vizinhança, mas não surgiram evidências de crimes cometidos pela vítima durante suas frequentes corridas pelo bairro.

O júri do caso é composto de 11 pessoas brancas e um negro, o que também foi motivo de protestos. Em outro caso que despertou manifestações contra a violência policial e o racismo, o da morte de George Floyd asfixiado por um policial de Minneapolis em maio de 2020, a composição do júri foi diferente: havia quatro jurados negros, seis brancos e dois multirraciais.

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