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Dos 110 fabricantes de protetor solar no Brasil, só quatro têm produto para pele negra, diz pesquisa

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O consumo das famílias negras e brancas é muito semelhante nas diversas categorias de produtos. A diferença mais significativa está na cesta de produtos de higiene pessoal e beleza, que consome 29,8% dos gastos dos lares negros e 28,8% dos lares brancos.

Essa prevalência do consumo das famílias negras, no entanto, não é acompanhada pela indústria e varejo com uma produção e distribuição adequada, e é comum os produtos não chegarem a grande parte das gôndolas.

As constatações pertencem ao levantamento Afroconsumo 2021, elaborado pela NielsenIQ, consultoria global especializada em varejo. De acordo com a pesquisa, a categoria higiene e beleza é a maior cesta em ambos os públicos, negros e brancos, seguida por mercearia doce e bebidas não alcoólicas.

Dentro da cesta de higiene e beleza, a NielsenIQ destaca a Cesta Afro, que reúne as linhas de protetor solar/bronzeador, xampu, pós-xampu, maquiagem e modeladores de cabelo voltados à população negra.

Esta Cesta Afro representou 6,5% do mercado total de higiene e beleza, o equivalente a um consumo de R$ 657,1 milhões, nos 12 meses de outubro de 2020 a setembro de 2021.

Mas segue ignorada por parte da indústria. Segundo o levantamento da Nielsen, de cerca de 110 fabricantes de protetor solar, por exemplo, apenas quatro têm produtos afro.

O mercado de higiene e beleza como um todo, entre outubro de 2020 e setembro de 2021, movimentou R$ 10,11 bilhões. Nele, o principal produto é o xampu (41,6% das vendas). Mas, na Cesta Afro, a categoria mais vendida é o pós-xampu (61%), seguida por xampu (27,7%), protetor e bronzeador (7,8%), maquiagem (2,2%) e modelador de cabelo (1,3%).

De acordo com o levantamento, a Cesta Afro não está devidamente representada no canal de farmácias – que responde por 26,4% das vendas de produtos afro, frente à média de 34,7% das vendas de higiene e beleza em geral. Em contrapartida, existe uma presença maior dos produtos da Cesta Afro no canal atacarejo, que responde por 25,7% das vendas da cesta, enquanto que, do mercado de higiene e beleza como um todo, representa 21,7%.

Também o canal perfumarias responde por uma fatia maior da Cesta Afro, quando comparado às vendas de higiene e beleza em geral: 8,6%, frente a 6,10%.

“A Cesta Afro apresenta menor distribuição na maioria dos canais”, diz Domenico Tremaroli, diretor de atendimento da NielsenIQ. “Há um grande potencial de consumo de produtos de higiene e beleza entre as famílias negras, que não está sendo devidamente aproveitado pelo varejo”, afirma.

A maquiagem afro, por exemplo, só aparece em 10% das farmácias, enquanto a categoria maquiagem alcança quase 100% do canal. Da mesma maneira, o pós xampu afro chega a 50% dos supermercados (autosserviço), enquanto a categoria pós xampu está em praticamente todos os pontos. Também nos supermercados, a categoria protetor solar chega a 80% das lojas, nas quais o produto da cesta afro simplesmente não existe.

Falhas na distribuição respondem por parte desta discrepância, segundo o executivo. “Quando existe o produto na gôndola, a um preço competitivo ou embalagem promocional, o consumidor leva. O problema é que os itens da Cesta Afro não chegam a um número relevante de pontos de venda”, diz ele, reforçando que, apesar de a penetração da a maioria das categorias ser maior dentro dos lares brancos, os lares negros ainda representam o maior potencial.

A NielsenIQ apontou que as famílias negras e pardas compõem 52% dos lares no Brasil, mas representam 47% do consumo. Os lares negros estão em sua maioria nas regiões Norte (71,8% da população), Nordeste (63,2%) e Centro-Oeste (53%) do país.

Durante a Covid-19, os lares negros foram os mais impactados: 59,3% deles tiveram a renda afetada durante a pandemia, frente a 54,5% dos lares brancos, indicou a pesquisa. Nos lares negros, 14,5% receberam auxílio emergencial, enquanto entre os brancos este percentual foi de 11,5%.

“Os lares negros são mais leais à cesta de produtos de higiene e beleza, mas existe um gap no atendimento a este público em algumas praças em especial, como São Paulo”, diz o executivo. “A cesta afroconsumo ainda é muito pequena, quando comparada ao seu potencial”.

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