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PT promete defender Dilma, mas deve deixá-la em 2º plano na campanha de Lula

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A primeira semana do ano teve dois agrados públicos do PT para a ex-presidente Dilma Rousseff (2011-16).

Na terça-feira (4), ela recebeu uma nota de solidariedade da Fundação Perseu Abramo, da qual é presidente de honra. “O golpe contra Dilma foi um golpe contra a democracia, contra todas e todos nós”, diz o texto da entidade, ligada ao PT.

Na quinta (6), a ex-presidente foi protagonista de um vídeo curto postado pelo partido, em que ela declama um trecho de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, do português José Saramago. É chamada de “última presidenta legítima brasileira”.

Os afagos à ex-presidente ocorrem dias depois de algumas esnobadas públicas que recebeu. Em dezembro, Dilma não foi chamada para um jantar promovido pelo grupo jurídico Prerrogativas que selou a aproximação entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (ex-PSDB), possíveis aliados numa chapa presidencial. Organizadores do evento negaram veto e atribuíram a ausência dela a um desencontro na hora de enviar o convite.

Pessoas próximas à ex-presidente dizem que ela é contra a aliança com Alckmin, embora não se manifeste publicamente nesse sentido em respeito a Lula.

Dias depois, um dos vice-presidentes do partido, Washington Quaquá, disse que Dilma não tinha mais relevância eleitoral, o que gerou um movimento de contenção de danos por parte da cúpula do partido.

“Dilma tem dado uma contribuição importante para a fundação, sobretudo na produção editorial. Como pessoa, é muito querida por todos, e achamos importante manifestar nossa opinião sobre a importância dela nesse momento histórico”, diz Carlos Henrique Árabe, diretor da Fundação Perseu Abramo e um dos autores da nota de solidariedade.

Para além dos gestos de desagravo pessoal à ex-presidente, o PT discute que destaque dar a ela na campanha presidencial que se aproxima.

O governo Dilma, que registrou uma das maiores recessões da história do Brasil, deverá ser um dos temas mencionados por opositores de Lula na campanha, juntamente com as acusações de corrupção contra o ex-presidente.

Líderes do partido avaliam que será incontornável defender Dilma e seu governo. Escondê-la não é algo cogitado, até porque poderia ser um tiro no pé, algo que certamente seria explorado por adversários como uma espécie de “confissão de culpa”.

Uma das possibilidades é aproveitar a imagem da ex-presidente no exterior, onde o discurso, promovido pelo PT, de que ela sofreu um golpe ganhou ampla aceitação em setores da esquerda.

Dilma é integrante do Grupo de Puebla, organização que reúne líderes e ex-chefes de Estado latino-americanos. A ex-presidente poderia fazer a interlocução com partidos e governos estrangeiros e dar entrevistas para a mídia internacional, por exemplo.

Ela também demonstrou recentemente ter uma visão mais crítica com relação a regimes autoritários de esquerda do que a da média dos petistas. No último final de semana, trecho de uma entrevista dada por Dilma em agosto do ano passado ao jornalista Breno Altman, do site Opera Mundi, circulou em redes sociais.

Na conversa, a ex-presidente atribuiu o fenômeno do chavismo ao fato de o regime venezuelano ter privilegiado a aliança com setores militares, mais até do que com movimentos sociais.

“O chavismo fez uma aposta no Exército. Fundamentalmente. A não ser que a gente seja ingênuo”, afirmou. A mobilização popular, segundo ela, veio posteriormente, e foi decorrente desta aliança militar.

A forma exata da participação da ex-presidente na disputa eleitoral ainda está em aberto. É possível que ela integre formalmente a coordenação de campanha de Lula, mas mais por uma questão de deferência.

“Frequentemente, a presidenta Dilma participa de reuniões do diretório nacional que subsidiam decisões do partido. Com a experiência administrativa e política que tem, ela pode desempenhar qualquer papel na campanha”, diz o deputado federal Rui Falcão (SP), ex-presidente do partido.

Não se espera que Dilma seja porta-voz da campanha em algum tema central, ou que esteja na linha de frente no debate público.

Da mesma forma, uma nova candidatura dela, que concorreu ao Senado por Minas Gerais em 2018, está a princípio descartada, pelo que a própria Dilma comunicou a aliados. Na ocasião, ela amargou o quarto lugar na disputa.

Caso a ex-presidente mude de ideia, no entanto, o partido deverá oferecer legenda para que ela concorra à Câmara dos Deputados, onde as chances de sucesso são maiores.

Um encontro entre Dilma e Lula para acertar a participação dela na campanha deverá ocorrer nas próximas duas semanas.

“A participação dela na campanha será total, evidentemente dependendo da disponibilidade que tiver. Será uma militante de primeira hora e será muito valorizada”, diz o secretário de Comunicação do partido, Jilmar Tatto.

A linha de defesa de Dilma que o PT pretende adotar na campanha não é muito diferente do que o partido vem fazendo nos últimos anos.

O principal argumento é de que ela foi vítima de um “golpe”, perpetrado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) e pelo presidente que a sucedeu, Michel Temer.

Outra justificativa apresentada é a de que seu governo teria sido sabotado pela obstrução de temas fundamentais no Congresso e pela proliferação de “pautas-bomba” que tinham o objetivo de criar o caos econômico. Seria essa a raiz da recessão recorde, com quedas do PIB superiores a 3% em 2015 e 2016.

Apesar disso, economistas do PT tentam ressaltar aspectos positivos neste cenário. Mencionam com frequência, por exemplo, o grande volume de reservas internacionais deixado pelo governo dela, de US$ 374 bilhões, que protegeu o país de crises externas.

“Não vamos falar só do passado, mas do presente e do futuro. Não temos nada a esconder e vergonha nenhuma com relação ao governo dela, é uma pessoa honesta, séria”, diz Tatto.

Também serão citadas conquistas em outras áreas, como a social. “A gente evidentemente vai relembrar as coisas que ela fez de positivo, como o Mais Médicos, programas educacionais, aumento do número de creches, do Fies e do ProUni, entre outras”, diz o deputado federal Carlos Zarattini (SP).

Segundo ele, o PT nunca escondeu ninguém. “Nunca abandonamos o Lula preso, um único dia. Não vamos abandonar a Dilma de jeito nenhum”, afirma.

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