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Praia de Botafogo, no Rio, deve estar limpa em 5 anos, diz concessionária

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Quando estudava as condições do leilão para o serviço de saneamento do Rio de Janeiro, Alexandre Bianchini, presidente da concessionária Águas do Rio, fez oito passeios de barco pela baía de Guanabara.

O espelho d’água não é área de investimento direto da empresa, vencedora da licitação para atuar em todo o seu entorno. Mas será um dos principais beneficiários das obras para ampliar a coleta e o tratamento de esgoto que atualmente é despejado na baía.

“Se a gente não atingir o objetivo de recuperar a baía de Guanabara, nada do que a gente está fazendo fará sentido”, diz ele.

Bianchini afirma que cumprir a promessa de despoluição feita há quase 40 anos é um ativo de mercado para Aegea, controladora da Águas do Rio.

“Buscamos um projeto que pudesse projetar a Aegea em nível internacional. Mostrar um trabalho que fosse reconhecido”, afirma ele.

A confiança de concretização é tanta que ele promete a praia de Botafogo, aos pés do Pão de Açúcar, balneável em cinco anos, prazo para a instalação de um cinturão no entorno da baía de Guanabara para bloquear a poluição.

Ela esteve imprópria para banho em 99,8% dos dias entre 2015 e 2019, segundo relatório do Comitê da Bacia da Baía de Guanabara.



PERGUNTA – Por que acreditar que agora a baía será despoluída?

ALEXANDRE BIANCHINI – São modelos diferentes. O que existiu [em outros projetos] era um dinheiro a fundo perdido que seria aplicado sem fiscalização, metas e nada. Agora é uma fase nova. Nós temos agora metas a serem cumpridas. Seremos fiscalizados e, se não cumprir as metas, poderemos ser punidos, expulsos do contrato.

Agora existe a obrigação de ser feito. Não é uma questão ideológica. É uma obrigação de fazer.

O contrato não fala em metas ambientais para a baía de Guanabara. A concessionária tem metas próprias?

AB – Se a gente não atingir o objetivo de recuperar a baía de Guanabara, nada do que a gente está fazendo fará sentido. Será rasgar dinheiro. Como falar com a população que entramos na cidade do Rio de Janeiro, depois de tantas promessas, e cair na mesma armadilha?

Não depende só de nós, mas o protagonismo é nosso. A questão do esgotamento sanitário é o maior vetor de poluição na baía.

Mas não vamos ficar de braços cruzados esperando para ver o município A ou B se mexer em relação ao lixo, ocupação irregular. Vamos denunciar. O objetivo é a recuperação da baía de Guanabara.

Há um debate sobre o cinturão [entorno da baía] e o adiamento na ampliação do sistema de esgoto em oito municípios [Belford Roxo, Duque de Caxias, Itaboraí, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e São Gonçalo]. O que significa esse adiamento?

AB – Esse não é um modelo brasileiro. Deu certo na Europa. Por muito tempo eles investiram no separador [absoluto, modelo que liga as casas ao sistema exclusivo para esgoto]. Depois chegaram à conclusão de que não dava. Eles adotaram o modelo duplo [que combina o separador absoluto e o sistema tempo seco].

O tempo seco [tipo de coletor que bloqueia a poluição escoada pela rede de drenagem de chuva, mais indicado para períodos sem chuvas fortes, daí o nome, porque pode causar vazamentos nessas épocas] segura na hora que tiver ligação clandestina ou outro problema. Os rios foram despoluídos na Europa com esse sistema duplo.

Sem dúvida nenhuma, o efeito mais rápido é o coletor de tempo seco. E faz com que a população pense: “Cara, esse negócio está dando certo. Qual meu papel para que isso dê mais certo ainda?”. As pessoas se conectam com o problema e buscam participar da solução.

As obras do sistema de esgoto habitual vão esperar cinco anos para começar?

AB – Não. Passados cinco anos, sobram sete para chegar a 90% de esgoto coletado e tratado no Rio de Janeiro todo. Não vai dar tempo de fazer só em sete. O planejamento é resolver o problema dos grandes coletores ao longo de cinco anos, mas ao mesmo tempo fazer interligações.

Tem também os investimentos nas estações de tratamento. Elas tratam muito menos esgoto do que a capacidade instalada.

Alguns especialistas dizem que o coletor de tempo seco não evita o contato da população com esgoto em áreas sem saneamento, com valões. Como vê essa crítica?

AB – A coleta de tempo seco melhora a condição do meio ambiente com mais rapidez. Um projeto com coleta de tempo seco em toda a baía de Guanabara em cinco anos e 90% do esgoto coletado e tratado em 12, numa cidade de mais de 450 anos de problemas, é extremamente agressivo e desafiador. Não existiu no mundo um processo tão agressivo quanto esse.

A baía de Guanabara furou a fila em relação aos moradores [quando a concessão decidiu acelerar o fim do despejo de dejetos, mas adiou a ampliação de rede de coleta em oito cidades]?

AB – Não, o projeto prevê um investimento nos primeiros cinco anos de R$ 7,5 bilhões na área da concessão como um todo. Para a baía são R$ 2,7 bilhões. São quase R$ 5 bilhões para resolver outros problemas. Falta de água na Baixada [Fluminense], São Gonçalo e zona norte é muito grande.

O contrato não inclui favelas na meta de 90%, mas prevê um investimento de R$ 1,2 milhão nas comunidades do Rio de Janeiro. Isso vai atender a quantas pessoas?

AB – Vamos ter que montar com a prefeitura quais locais vão ser urbanizados.

E as favelas das outras cidades?

AB – As cidades da Baixada Fluminense passam por outros problemas para além das comunidades. Os centros de Nova Iguaçu e Duque de Caxias têm falta d’água. Mas toda a área está dentro da meta.

Em que estado a concessionária encontrou o sistema?

AB – A gente encontrou um sistema que surpreende por um lado. As obras que foram feitas na década de 1960 e que são suficientes para o abastecimento de água para os próximos 50 anos. Se pensou muito lá atrás num crescimento enorme do Rio de Janeiro e a obra foi feita planejando isso e deve orgulhar a cidade.

Ao mesmo tempo, tem questões de equipamentos completamente deteriorados, que precisam ser recuperados. Recuperar o potencial da estrutura existente já implantada, sem colocar um prego, e colocando para funcionar 100%, a população já vai sentir de forma clara a mudança.

O resultado vai ser visível. Não vai precisar nem fazer uma análise da água da baía de Guanabara para saber se melhorou.

Como vocês estão planejando realizar obras em locais com atuação do tráfico e milícia?

AB – O problema da violência não é exclusividade do Rio de Janeiro. Trabalhamos em Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. Em todas essas regiões existe problema de violência. O Rio de Janeiro é mais latente pela própria projeção da cidade.

E como se resolve?

AB – A gente não está fazendo mal a ninguém. Não estamos entrando num enfrentamento da violência.

Em quanto tempo poderemos dizer que a baía de Guanabara está despoluída?

AB – Temos a primeira meta de cinco anos, mas ela não aparece com um toque de varinha de condão. É algo que vai evoluindo. Recuperar a estrutura existente vai ter um impacto. Construir os coletores de tempo seco. Começar a tratar mais esgoto. Isso vai evoluindo ao longo do tempo numa condição que será bem clara para a população a melhora.

Em qual praia que ninguém entra hoje poderemos entrar daqui a cinco anos?

AB – Eu inverteria essa frase. Em qual praia [da baía] você não vai entrar daqui a cinco anos?

Todas estarão balneáveis? A praia de Botafogo?

AB – Ali com certeza. A maior dificuldade é a área mais próxima da Ilha do Governador.

E quando poderemos fechar o piscinão de Ramos porque a praia voltou?

AB – O projeto termina em 12 anos. Em 12 anos temos que estar com a meta cumprida. Desde que toda a sociedade esteja envolvida. Não adianta não poluir mais com esgoto, mas ter um sofá boiando.

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