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Mulheres ocupam apenas 24% das vagas na indústria brasileira

Formada no curso técnico de Automação Industrial, a jovem Jenifer Fonseca sentiu, aos 20 anos, como o caminho não seria fácil para ela como era para os colegas homens em sua área profissional. Participando de um processo seletivo para uma vaga em uma grande empresa, ela foi aprovada, mas não contratada. Apesar do anúncio da oportunidade não informar qualquer restrição de gênero, neste segundo momento o recrutador alegou que o posto requeria força física e, portanto, precisava ser ocupado por um homem. A resposta traumática fez com que ela decidisse, inclusive, redirecionar a carreira para uma graduação na Engenharia Civil. Integrando um ambiente majoritariamente masculino, ela, hoje empregada, faz parte de um percentual desigual da realidade brasileira: o das mulheres que ocupam apenas uma a cada quatro vagas (24,2%) na indústria brasileira — segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

— Achei que nunca passaria por aquilo, e me frustrei. Eu era nova. Tive medo de voltarem a alegar aquilo e migrei pra Engenharia Civil. Eu também gostava da área, e os conhecimentos se agregam. Durante a graduação, estagiei numa siderúrgica que me efetivou no ano passado. Atualmente, sou a única mulher do meu setor, mas sou muito respeitada. Estou mais velha, me sinto mais segura e madura também — conta Jenifer, que continua a se desenvolver, cursando uma pós-graduação em Engenharia Orçamentista.

Veja:  

Em 2010, a participação das mulheres na indústria brasileira era de 23,4%. Ou seja, o cenário pouco mudou.

— Existem os fatores histórico e cultural. Segundo o IBGE, menos de 14% das mulheres tinham emprego nos anos 1950 e, em 2020, elas já respondiam por 54,5% da força de trabalho no Brasil. Infelizmente, a nossa sociedade ainda tem muito forte os vieses inconscientes de gênero, atribuindo a nós, equivocadamente, menor capacidade de produção; e, na indústria, o trabalho foi, por muito tempo, associado à força física. Mas, se tomarmos como referência a tripla jornada diária que temos, essa premissa não se sustenta, e a boa notícia é que as novas gerações estão cientes disso — diz Adriana Barufaldi, coordenadora nacional do Programa Senai de Ações Inclusivas (PSAI).

Além da descriminação na contratação, consciente ou inconscientemente, outra barreira para a ocupação feminina na indústria é a defasagem de profissionais mulheres. As salas de aulas das Ciências Exatas são notadamente dominadas por eles.

— Uma grande demanda atual do setor é na área de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Para se ter uma ideia de como essa é uma área ainda muito desigual no que diz respeito a gênero, só 14,8% dos alunos de TICs no ensino superior são mulheres. Outra área importante para a indústria é a de Engenharia, e as mulheres são apenas 21,6% das matrículas do ensino superior na área e nas profissões correlatas — expõe Barufaldi.

Entenda:

Para Adriana Barufaldi, isso é uma contribuição das novas tecnologias, que batem de frente com o preconceito já citado: o da força bruta como requisito no setor.

— As novas tecnologias e as profissões que estão surgindo, com a consequente dissociação da força ao trabalho industrial, abrem oportunidades e tornam-se atrativos para as mulheres buscarem formação no Senai, que forma para atuar na indústria.

Para agilizar essa mudança no panorama do ensino, Barufaldi aponta que é preciso estimular desde cedo as meninas para essa área do conhecimento.

— O interesse das meninas começa quando crianças. Então, precisamos também, urgentemente, trazer para os currículos da educação básica o debate sobre igualdade de gênero e de oportunidades — afirma.

Memes:  

O programa é uma iniciativa da Bayer que oferece formação profissional a mulheres que vivem no entorno da fábrica, no Parque Industrial de Belford Roxo. A longo prazo, inclusive, a perspectiva é que a iniciativa ajude a empresa a atender metas de equidade.

— No início de 2021, a Bayer assumiu um compromisso global pela igualdade de homens e mulheres em todos os cargos de baixa, média e alta liderança até 2030 — diz Ana Isabel dos Santos, líder de Inclusão e Diversidade da empresa.

Na Ocyan, empresa do setor de óleo e gás, investir em formação também é estratégia. Em menos de um ano, foram feitos três treinamentos para mulheres não colaboradoras, como o de Auxiliar de Plataforma para Ambiente Offshore (traduzindo, “afastado da costa”). No mar, elas são apenas cerca de 5% ainda.

— Infelizmente, o ambiente offshore ainda carrega consigo o estigma de um ambiente que “não é para mulher” — aponta Nir Lander, vice-presidente de Pessoas & Gestão.

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