Economia

Guerra, pandemia e inflação são desafio triplo para Fed

Em dezembro –no que agora parece uma época mais simples, quando a pandemia era a maior preocupação– as autoridades do Federal Reserve acataram a visão de que poderiam domar a inflação com aumentos modestos de juros, conforme a economia e o mercado de trabalho dos Estados Unidos prosperavam.

Uma guerra na Europa se soma agora à crise da saúde, e, quando as autoridades do banco central dos EUA se reunirem nesta semana, elas terão de avaliar quanto dano foi causado a essa perspectiva otimista e se suas esperanças de um “pouso suave” da economia foram reduzidas ou até mesmo completamente eliminadas.

É quase certo que o Fed aumentará sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual ao fim de sua reunião de política monetária de dois dias, na quarta-feira. Mais importantes serão as projeções que mostrarão até que ponto as autoridades acreditam que os custos dos empréstimos precisarão subir neste ano e em 2023 e 2024 para domar a inflação, que tem ultrapassado as expectativas.

Se suas perspectivas para a taxa básica de juros ultrapassarem o que é considerado um nível neutro, de cerca de 2,50%, isso significaria que o clima dentro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) mudou e seus membros veem a necessidade de eventualmente conter a economia –correndo um risco maior de recessão– para domar os preços crescentes. Em dezembro, a maioria das autoridades do Fed projetou que os juros só precisariam subir para 2,10% até o final de 2024.

“Não há dúvida de que o Fomc começará a aumentar os juros… O que todos querem saber é: o que o Fed fará a seguir?” escreveram Roberto Perli e outros analistas da Piper Sandler. Se novas projeções mostrarem a meta para os juros básicos acima de 2,50% nos próximos anos, isso “sinalizaria que a maioria do Fomc está tão preocupada com a inflação que não se importa em arriscar uma recessão para derrubá-la rapidamente.”

Os ciclos de alta de juros do Fed geralmente vêm com sua orientação particular, com palavras como “comedido” ou “gradual” incorporadas às declarações de política monetária para sinalizar o ritmo pretendido do aperto. Jerome Powell, chair do Fed, tem usado recentemente termos menos concretos, como “ágil”, para caracterizar uma conduta que deve incluir aumentos constantes de juros neste ano, mas que pode precisar ser acelerada ou desacelerada em resposta a eventos e condições que mudam constantemente.

“Nem os dados nem a sorte favoreceram o Fed” nas últimas semanas, escreveu Tim Duy, economista-chefe para EUA da SGH Macro Advisors.

Powell, em depoimento ao Congresso no início deste mês, deixou claro que seu foco está na inflação e que ele está pronto para elevar os juros –se necessário, a ritmo mais agressivo, de 0,5 ponto percentual– caso os aumentos de preços não desacelerem.

Mas ele também reconheceu que o mundo ficou mais complicado, de uma forma que pode levar tempo para entender.

A guerra na Ucrânia “é um divisor de águas e estará conosco por muito tempo”, disse Powell ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados em 2 de março. “Há eventos ainda por vir… e não sabemos qual será seu efeito real sobre a economia dos EUA. Não sabemos se esses efeitos serão duradouros ou não.”

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