Economia

Dólar volta a saltar com persistência de receios sobre Fed e crescimento da China

O dólar voltava a subir contra o real nesta terça-feira, depois de já ter registrado sua maior alta em dois dias desde 2017 na véspera, com temores sobre um aperto monetário mais agressivo nos Estados Unidos e provável desaceleração econômica na China continuando a prejudicar ativos arriscados ao redor do mundo.

Às 10:29 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,60%, a 4,9548 reais na venda, rondando as máximas do dia.

Na B3, às 10:29 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,55%, a 4,9610 reais.

Na véspera, o dólar subiu 1,46%, a 4,8768 reais na venda, maior valor desde 22 de março passado (4,9153 reais). Nos dois últimos pregões, a moeda acumulou alta de 5,59%, a mais forte na mesma base de comparação desde 18 de maio de 2017 (+9,48%), quando os mercados derreteram após delação de Joesley Batista, um dos sócios da JBS, ter envolvido o então presidente da República, Michel Temer.

A forte depreciação do real nos últimos dias tem sido associada principalmente ao ambiente externo arisco, onde a perspectiva de que o banco central dos Estados Unidos intensificará as doses de aperto monetário ao longo de suas próximas reuniões impulsionou o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes a máximas em dois anos.

Isso porque juros mais altos na maior economia do mundo elevam os retornos da renda fixa norte-americana, muito mais segura que investimentos de países de mercados emergentes, o que tende a intensificar o fluxo de recursos para os EUA e, consequentemente, beneficiar a moeda local.

“Permanece a tendência de fortalecimento do dólar nesta manhã”, disse em relatório o departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco.

Além de ganhar contra moedas de países ricos, a divisa dos EUA avançava frente a vários pares emergentes do real, como peso mexicano, peso chileno e rand sul-africano. Participantes do mercado também apontavam receios crescentes de desaceleração econômica na China como fator de pressão negativa para ativos arriscados.

A cidade mais populosa do país, Xangai, está presa num lockdown rígido há um mês, e há receios de que a capital Pequim seja a próxima a enfrentar restrições de combate à Covid-19.

Qualquer sinal de novo bloqueio da atividade na China tende a afetar seus parceiros comerciais. A América Latina –região rica em matérias-primas– é vista como especialmente sensível ao desempenho da segunda maior economia do mundo.

Embora o avanço do dólar no mercado local não seja isolado, o real liderava as perdas globais nesta sessão, repetindo tendência vista na sexta-feira passada e em parte do pregão da véspera. Alguns especialistas associaram o descolamento da moeda local a fatores especulativos ou a ajustes depois do forte desempenho visto desde o início deste ano, mas outros afirmaram que o pano de fundo político doméstico tenso exacerbou os efeitos negativos vindos do exterior.

Nesse contexto, não se descarta o retorno do real a patamares acima de 5 reais, enquanto a pauta política deve ganhar cada vez mais destaque ao longo dos próximos meses com a aproximação das eleições.

Em nota, analistas da Genial Investimentos disseram que o noticiário local ajudou a interromper a valorização dos ativos brasileiros, citando especificamente o perdão dado pelo presidente Jair Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por crimes de coação no curso do processo e atentado ao ​Estado Democrático de Direito.

É “uma decisão que alguns consideraram uma afronta ao STF”, disse a Genial. “Estamos em um impasse e muito próximos a uma crise institucional.”

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