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Ações sociais tentam se adaptar após dispersão da cracolândia em SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Grupos de voluntários ligados a igrejas que fazem acolhimento de dependentes químicos e outros trabalhos sociais estão tendo de se adaptar depois que a polícia expulsou frequentadores da cracolândia da praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, na última quarta-feira (11).

Enquanto no projeto Missão Batista Cristolândia, na alameda Barão de Piracicaba, caiu o número de usuários em busca de atendimento para se livrar do vício, na Pastoral do Povo da Rua, no Belenzinho, o padre Júlio Lancellotti diz que disparou a procura por café da manhã por pessoas que dizem não saber para onde ir.

Segundo o assistente social Rafael Santos da Costa, da Missão Batista Cristolândia, em média, entre 12 e 14 dependentes químicos procuram o local toda semana para serem acolhidos em uma das dez unidades do projeto na capital, no interior do estado e no litoral, onde podem ficar até dois anos para tentar largar as drogas. Até o fim da manhã desta sexta-feira (13), porém, apenas oito haviam buscado o acolhimento.

“Como eles agora estão espalhados por todo o centro, talvez aqui tenha ficado longe para vir”, afirma, o assistente social, sobre a unidade que fica próxima aos antigos pontos de concentração da cracolândia.

Desde a dispersão da última quarta-feira, o fluxo da cracolândia tem tentado se fixar em novos pontos do centro. “Como ainda ocorrem muitas ações e a polícia está bem forte aqui na região, estamos deixando a poeira baixar um pouco para pensar como voltar a atender esse público”, diz. “Talvez tenhamos de fazer busca ativa na semana que vem.”

A Rede Social do Centro, composta por projetos de igrejas e outros voluntariados e que desde 2010 faz trabalho social na cracolândia, levou mais tempo para distribuir as 500 marmitas que doa para o jantar, na última quinta-feira (12), por causa da dispersão dos então moradores da praça.

Daniel Checchio, um dos articuladores da rede, conta que a distribuição de marmitas ocorreu na esquina da alameda Barão de Campinas e da rua Helvétia. Mas que o local pode mudar para as próximas refeições, porque não se sabe onde as pessoas vão estar.

“Como aconteceu em outras vezes, a tendência é que se aglutinem de novo, mas agora é o momento de ver o que vai acontecer daqui por diante”, diz.

O movimento Aliança de Misericórdia, ligado à Igreja Católica e que no último ano encaminhou cerca de 200 dependentes químicos para casas de acolhimento, ainda não sabe onde fará sua pastoral de rua dominical neste fim de semana.

Até o último domingo (8), a ação era realizada na própria cracolândia —como o fluxo mudou em março da região da praça Júlio Prestes para a Princesa Isabel, o trabalho voluntário foi junto. Mas agora “perdeu seu endereço”.

“Fui ontem [quinta] para ver como vamos fazer, já que eles estão muito dispersos, alguns perto da Princesa Isabel, outros na praça Marechal [Deodoro]”, diz a missionária Rubya Cristina da Silva. Para este domingo (15) a missionária afirma que o grupo deverá fazer uma pastoral mais simples, talvez itinerante, de acordo com a migração dos dependentes químicos da cracolândia.

“Essas pessoas estão perdidas, muitas delas não sabem onde vão passar a noite de hoje [sexta]”, afirma o padre Lancellotti. Segundo ele, cerca de 700 pessoas foram até a Paróquia de São Miguel Arcanjo, onde fica a Pastoral do Povo da Rua, na manhã desta sexta-feira para o café. “Normalmente, gira de 600 a 650”, diz o religioso.

O padre reclama da falta de acolhimento por parte do poder público e diz que um grupo de usuários procurou a pastoral para mostrar ferimentos, que alegam terem sido feitos durante o despejo na praça Princesa Isabel.

A defensora pública Fernanda Ballera, do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública, foi até a igreja no início da tarde desta sexta para conversar com sete usuários que disseram ter sido feridos por bala de borracha e até mordida de cachorro, entres outros casos.

Ballera afirma que levará o conteúdo dos depoimentos para a ação civil pública coordenada pelo Ministério Público, que desde o ano passado discute a atuação da GCM (Guarda Civil Metropolitana) na cracolândia.

Em nota à reportagem, a prefeitura afirmou que foram feitos 186 atendimentos apenas nesta quinta-feira (12), o dia seguinte à retirada dos dependentes da praça Princesa Isabel. “As equipes do Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas) e da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) realizaram 186 atendimentos às pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social na praça Princesa Isabel, na República, e arredores somente na última quinta-feira (12)”.

A gestão Ricardo Nunes (MDB) informou que no período entre 25 março até esta quinta, os orientadores registraram mais de 4.000 abordagens no território que resultaram em mais de 1.000 encaminhamentos e 3.000 orientações. “As ações são realizadas sempre com o objetivo de proporcionar acesso à rede de serviços socioassistenciais e às demais políticas públicas, bem como desencadear o processo de saída das ruas e promover o retorno familiar”, finaliza a nota.

Em relação aos dependentes feridos, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que a Guarda Civil Metropolitana atua “seguindo as diretrizes das políticas de segurança municipal e atribuições legais da corporação, que visam garantir tanto a segurança dos agentes públicos quanto a dos moradores em situação de vulnerabilidade presentes na região”.

“A GCM informa ainda que uma pessoa que portava substâncias análogas a entorpecente foi conduzida ao 77º Distrito Policial. Nas ações desta quarta-feira (11) foram utilizadas duas munições de elastômero (bala de borracha). A Guarda não identificou casos de pessoas feridas durante a operação”, respondeu a secretaria em nota à reportagem, enfatizando que não compactua com irregularidades e que toda denúncia é devidamente averiguada.

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