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Exército nega apoio para comitiva parlamentar visitar terra yanomami

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Exército negou um pedido do senador Humberto Costa (PT-PE) de apoio logístico para que uma comitiva de parlamentares que foi a Roraima pudesse visitar as terras indígenas yanomamis.

A comitiva, composta por senadores e deputados federais, foi ao estado nesta semana para apurar as recentes denúncias feitas por indígenas contra garimpeiros. A expectativa inicial era de que seus integrantes pudessem visitar a aldeia de Aracaçá, que só é acessível de avião ou helicóptero e é próxima à base militar de Surucucu.

Por isso, o senador enviou um ofício ao comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, no último dia 5 de maio.

“Pleiteio apoio a Vossa Excelência no sentido de disponibilizar apoio logístico para o deslocamento interno de alguns membros da comitiva, aproximadamente 15 pessoas, de Boa Vista ao distrito de Surucucus, no dia 12 de maio, para que cumpram o múnus de averiguar aquela situação indigenista, para a qual a nação ora volta os olhos”, diz o texto, ao qual a reportagem teve acesso.

A resposta foi dada pelo general Francisco Humberto Montenegro Junior, apenas na última quarta-feira (11), quando os parlamentares já estavam em Boa Vista. “Não será possível prestar o apoio, tendo em vista a restrição dos meios aéreos disponíveis na região amazônica”, afirma a negativa.

Questionado pela reportagem sobre quais seriam essas restrições, os militares responderam que “a demanda foi analisada e constatou-se que a única forma de conduzir com segurança os parlamentares ao Distrito de Surucuru seria por meio aéreo. Infelizmente, o Exército Brasileiro não teve condições de prestar o apoio devido à restrição dos meios aéreos disponíveis na região Amazônica, na data solicitada”.

Antes, no dia 4, a comitiva também pediu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que solicitasse à Força Aérea Brasileira (FAB) apoio logístico tanto para o deslocamento de Brasília a Boa Vista, como também da cidade até a aldeia.

Pacheco, no entanto, não colocou o ofício em votação nem o encaminhou à Presidência da República para que fosse repassado ao Ministério da Defesa. A reportagem o procurou, mas não obteve resposta.

Assim, a comitiva —composta pelos senadores Humberto Costa, Telmario Mota (Republicanos-RR), Chico Rodrigues (União Brasil-RR), Leila Barros (PDT-DF) e Elizane Gama (PDT-MA), pela deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR) e pelo deputado José Ricardo (PT-AM)— cumpriu agenda apenas em Boa Vista.

Os parlamentares se encontraram com lideranças indígenas, integrantes de instituições como Funai (Fundação Nacional do Índio) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), além de representantes da Polícia Federal e do Ministério Público.

A comitiva foi uma resposta à crescente tensão entre o garimpo ilegal e os yanomamis neste ano. Segundo relatos ouvidos pela reportagem sob condição de anonimato, lideranças indígenas, servidores da Funai e integrantes de ONGs vêm sofrendo ameaças e estão com medo de que a violência cresça ainda mais.

O paradeiro dos yanomamis da Aracaçá virou caso de polícia desde que a comunidade foi encontrada queimada e vazia, após a Condisi-YY (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana) denunciar que uma menina de 12 anos teria sido estuprada e morta por garimpeiros. A Polícia Federal diz que não encontrou indícios deste crime até agora.

Após o presidente da Condisi, Júnior Hekurari, afirmar que os desaparecidos tinham sido encontrados, ele revelou ao jornal Folha de S.Paulo que diz ter descoberto que os indígenas foram cooptados pelos garimpeiros da região. “Estão na mão do garimpo. Eles estão coagidos, os garimpeiros entraram na cabeça deles”, disse.

Cogitou-se, inicialmente, que o desaparecimento dos yanomamis fosse parte ou de um ritual de luto após a morte de um parente. Também especulou-se que eles poderiam ter se mudado por serem um povo nômade, ou até que estariam escondidos na floresta, como estratégia de defesa.

​Hekurari diz que, por enquanto, ainda não é possível ter certeza de quem queimou a aldeia e qual teria sido a razão. Mas afirma que é remota a possibilidade de que os yanomamis tenham feito residência em outro lugar. “Eu sou yanomami. Eles não fizeram preparo para ir para outro lugar”, afirma, de acordo com o que viu na visita ao local, no fim do mês passado.

A violência de garimpeiros contra yanomamis em Roraima não é novidade. Na noite da última quinta-feira (5), por exemplo, a PF prendeu um condenado de participar do massacre do Haximu, ataque do garimpo que deixou 12 indígenas mortos, em 1993.

Em 2021, a região de Palimiú, vizinha de Aracaçá, sofreu ataques de garimpeiros armados. Em 2020, uma decisão do Tribunal Regional Federal determinou que o governo federal retirasse o garimpo ilegal da terra Yanomami em Roraima, o que ainda não aconteceu.

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